Max Payne 3
Está de volta o jogo que apresentou ao mundo o conceito de “bullet-time”, entretanto tão plagiado e “fotocopiado” por aí. Numa altura em que todos esperavam o tal polícia da NYPD vestido de cabedal, porém, surge um idoso com camisa de gosto duvidoso agarrado ao whiskey e à sua pistola de 9mm. Max Payne 3 foi reinventado pela Rockstar Games e o resultado final é uma obra tremenda de qualidade e profundidade como só esta produtora sabe fazer.
Máxima Dor Terceira Parte
À partida o enredo é um conjunto de clichés bem implementados numa estória, diga-se previsível, mas bem construída. Max Payne está em São Paulo, no Brasil e tem o trabalho de proteger a família Branco. Meses passaram-se desde fugiu, literalmente, de Nova Iorque depois de arranjar problemas de sobra com a Máfia. Tudo parece andar sobre rodas com festas, mulheres, muito álcool e comprimidos para a ressaca.
Mas mesmo num cenário idílico de festas caras e muita maquilhagem, Max reconhece o contraste que existe neste país. Lá em baixo, as favelas reclamam protagonismo na estória. E é óbvio que mais cedo ou mais tarde a família Branco acaba por demonstrar que o seu poder é relativo. Tudo se desmorona quando uma tentativa falhada de sequestro desperta Max deste sonho involuntário.
Daqui para a frente o enredo adensa-se. E não vamos revelar mais nada. É preciso jogar para ver o desenrolar da estória. Desde corridas frenéticas pelas favelas de São Paulo, resgates no Panamá, invasão de uma esquadra de polícia, há varios momentos épicos em que Max Payne é apenas um salteador de explicações sobre o seu papel nisto tudo. Esperem a representação quase fiel da corrupção na polícia militar e federal do Brasil, esperem ver a brutalidade das operações especiais nas favelas com execuções públicas. Pelo meio há uma série de Flashbacks para sabermos porque Max fugiu dos Estados Unidos e a sua amizade com Raúl Passos, o seu companheiro em várias ocasiões.
Há muito tempo que não víamos uma estória tão profunda e tão intrincada num videojogo como esta em Max Payne 3. Era preciso que mais jogos tivessem esta qualidade de enredo. Se bem que o tema adulto, repleto de asneiras em Português fluente e de vícios modernos não seja para todos.
Alguém chamou o Capitão Nascimento?
Em termos de jogabilidade, a Rockstar pegou no conceito de Max Payne, um jogo de acção na terceira pessoa (Third Person Shooter) e modernizou a dinâmica do sistema de cobertura, tornando-o mais “natural” e aumentando a intensidade dos combates em que precisamos de mais precisão (e mais balas) para travar os adversários, sobretudo os que estão equipados com armaduras e coletes à prova de bala. Só que o sistema de cobertura não é perfeito. Se por um lado os muros e paredes que usamos como cobertura se desfazem a cada tiro, o que é bom para não se tornar monótono, por outro Max precisa sair literalmente da cobertura para alvejar os adversários. Podemos sempre atirar sem olhar, mas é claro que não acertamos em nada. De cada vez que miramos, Max perde cobertura e, claro, é alvo fácil.
Os amantes do “gun’n’run”, ou seja, correr de arma em punho e matar tudo em movimento, vão sentir enormes dificuldades na progressão, já que os adversários possuem uma particular capacidade de nos acertar mesmo em movimento.
De notar que algumas coisas são bem engendradas como uma pequena cruz que indica se o tiro foi letal ou o pequeno ponto branco que se torna vermelho quando passa por um adversário. As armas são equilibradas com caçadeiras e espingardas automáticas, além de pistolas e pistolas-metralhadoras, todas baseadas em armas reais. Só não compreendemos a utilidade dos laser incorporados em algumas armas que removem a mira no centro do ecrã e servem só para confundir a mira.
Está de regresso o célebre nível de vitalidade no canto inferior direito, personificado pela silhueta de Max e que se vai preenchendo de vermelho consoante os ferimentos se tornem mais sérios. Para curar isso, nada como encontrar raros frascos de comprimidos pelos mapas para dar algum alívio. Ao lado está a barra de foco onde vemos o tempo disponível de Bullet Time, a marca de imagem do jogo. Bullet Time permite desacelerar o tempo para Max e assim alvejar os adversários. Mas cuidado, é limitado e demora algum tempo a recarregar.
Os mapas são o forte deste jogo. Desde uma São Paulo de contrastes entre zonas ricas e as favelas, claramente inspirados em filmes como a “Cidade de Deus” ou “Tropa de Elite”, até zonas claustrofóbicas como um iate em que Max é surpreendido por sequestradores Panamianos ou mesmo um cemitério num dos muitos flashbacks. São muitas as zonas de intensos combates, bem estruturados com zonas de estrangulamento em que teremos mesmo de usar o sistema de cobertura ao máximo. Esta complexidade transita para o modo de multijogador e ainda bem.
Falta só mencionar que ao longo dos mapas se escondem pistas para o enredo e também coleccionáveis na forma de peças de armas douradas que podem ser juntas para passar a jogar com as mesmas armas de jogo… mas douradas… enfim…
Balas em slow-motion
O design deste jogo é algo como só a Rockstar consegue oferecer. A localização é impecável. Quem conhece o Brasil e a realidade de São Paulo vai ficar surpreendido com a qualidade visual que nos transporta para uma realidade pouco comum. A Rockstar deu-se ao trabalho de reproduzir tudo e mais alguma coisa para tornar o ambiente realista. Não só a polícia militar tem fardas realistas e inspiradas na polícia real Brasileira, não esquecendo a equipa de operações especiais, inspirada na brutal polícia de assalto ROTA. Até mesmo uma equipa de futebol e respectivo estádio foi criada. Futebol que, aliás é omnipresente no jogo encontrando sempre uma bola de futebol em qualquer lado.
As personagens do jogo, especialmente Max e Raúl são incrivelmente realistas e só tivemos pena que as expressões faciais não fossem mais além. Mas em termos de animações, estão irrepreensíveis. Além disso, o casting de vozes (James McCaffrey volta como Max Payne) foi muito bem executado e escutar o jargão em Português com sotaque oferece uma alma incomparável ao jogo. Já vimos jogos usar localização de idiomas de forma quase ridícula, em Max Payne 3, porém, nota-se o cuidado no casting de actores brasileiros para não dar o tom artificial costumeiro.
Já falámos como os mapas são o forte do jogo, mas não só em termos de jogabilidade. Visualmente são cenários deslumbrantes, não só pela sua beleza, mas também pela falta dela. Ficamos impressionados com incrível detalhe da linha de horizonte de São Paulo olhando pelo terraço de um arranha-céus, ou do incrível detalhe de um bar Irlandês em Nova Iorque, como ficamos impressionados com o caos de uma Favela com prédios e casas amontoados com muito lixo à mistura, rios de esgoto a céu aberto e portões improvisados.
A nível sonoro, já mencionámos como os castings foram muito bem feitos a nível das vozes das personagens. Mas é preciso realçar que a Banda Sonora do jogo é igualmente importante para o ambiente de jogo. Não faltam os temas da série e algumas músicas mais ambientes. Mas é de notar que a música Brasileira está presente também. Não só o rapper EMICIDA está presente com o tema oficial do jogo como alguns clássicos da música Brasileira. Uma clara homenagem à cultura deste país que a Rockstar não quis deixar de fazer. Mas claro que os temas do DJ Health são uma mais valia no jogo, estabelecendo o ritmo durante os momentos mais importantes do jogo.
De notar como as cutscenes intermédias homenageiam a Banda Desenhada (como os jogos anteriores) dividindo-se como se se tratassem de quadradinhos estilizados, mas também os efeitos de desfoque e visão dupla, dignos da ressaca de Max que inundam certos momentos do jogo. E claro, o sistema de Bullet-Time que com um premir de botão desacelera tudo em modo de câmara-lenta, com imagens brutais de inimigos a ser cravados de balas… quantas mais dispararem mais brutal se torna… chega a ser demente.
Deathmatch com camisolas floridas
Com elevado nível de personalização e com a possibilidade de ir adquirindo armas novas, roupas e personagens, o modo multijogador de Max Payne 3 herda a enorme capacidade da Rockstar de manter a chama viva dos seus maiores títulos online. São muitas horas de jogo disponíveis, além das cerca de 12 a 14 horas de jogo do modo campanha.
O modo multi-jogador de Max Payne 3 é divertido e descontraído. Temos diversos modos para escolher entre deathmatch e team deathmatch clássicos, mas também modos únicos como Payne Killer em que jogamos uma espécie de jogo de apanhada em que temos de matar ou Max Payne ou Raúl e tornamo-nos neles quando conseguimos tentando permanecer vivos o máximo de tempo possível, ou Gang Wars em que jogamos cinco mãos em diversos modos de jogo ou a tentar assassinar um determinado membro da equipa adversária ou a plantar bombas em determinados locais entre outros modos e de forma aleatória.
A dinâmica do bullet-time no modo multi-jogador é muito interessante. Em vez de desacelerar todos os jogadores quando activado, como acontece no modo carreira, apenas quem está na nossa linha de visão é que é afectado. Isto pode parecer algo estranho para quem está ver de fora, mas resulta muito bem para quem está a usar esta funcionalidade. Bullet-time é apenas uma das diversas opções de ataque especial do modo multi-jogador. Até nem é muito usado curiosamente, pelo menos nas sessões que estivemos. Existe o Big Dog que permite dar mais vida aos nossos membros de equipa (e nós próprios) ou o hilariante Paranoia que permite que durante um tempo os adversários vejam os seus companheiros de equipa como inimigos.
Infelizmente não temos neste jogo um modo cooperativo que tanto fazia sentido. Seria excelente podermos juntarmo-nos com um amigo numa das muitas missões em que, por exemplo, Max está acompanhado por Raúl no modo carreira. Em vez de uma personagem não jogável, podia ser um amigo nosso na mesma consola em ecrã dividido ou online. Enfim, fica para a próxima.
Veredicto
Este não é o Max Payne que conhecemos. De polícia durão Nova-iorquino a guarda costas de meia-idade, vai um caminho doloroso que nasce na perda da sua mulher e termina num desespero quase delirante de querer terminar a vida com uma bala cravada ou uma overdose de álcool. Max Payne 3 é uma viagem alucinante, digna dos melhores thrillers de Hollywood tornada jogo denso, repleto de realismo e cheio de adrenalina. O modo multi-jogador possui dinâmicas inovadoras e interessantes que aumentam a longevidade do jogo. Sem dúvida um excelente título no portfólio da Rockstar que já de si era invejável.
- ProdutoraRockstar Games
- EditoraRockstar Games
- Lançamento18 de Maio 2012
- PlataformasMac, PC, PS3, Xbox 360
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Bullet time
- Caracterização do Brasil que ninguém quer ver
- Estória digna de Hollywood
- Modos multi-jogador extensos
- Pouco polido
- Falta-lhe modo cooperativo
- Câmaras com problemas sobretudo em "bullet time"
- Sistema de cobertura falível
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.