Afinal, o que se passa com Dr. Disrespect?

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Regra geral, não nos debruçamos muito com individualidades nesta indústria, muito menos streamers ou criadores de conteúdo, havendo já quem se dedique a falar desse “jet-set” digital. Contudo, com Dr. Disrespect, temos de abrir uma excepção.

Herschel “Guy” Beahm IV começou a sua carreira como tantos outros streamers e criadores de conteúdo, criando uma comunidade respeitável, atingindo quatro milhões de seguidores na rede Twitch. A sua popularidade não foi só relacionada com os jogos que escolheu transmitir, os “shooters”, na maioria dos casos os mais populares do momento, entre PUBG, Call of Duty, Fortnite e muitos mais. Também ganhou notoriedade pela sua personagem “Dr. Disrespect” ou “The Doc”. Era irreverente, não pedia desculpa e ganhou a fama de “imbatível”, numa clara caricatura dos jogadores profissionais do meio.

Em 2020, porém, a ascensão meteórica do “pewdiepie do Twitch” começou a decair, parecendo descambar na infâmia. Numa fase mais “cáustica” e a criar algum “ruído” em seu redor, em Junho desse ano, o “Doc” foi mesmo banido da rede Twitch por razões desconhecidas. Na altura apenas foi dito que Beahm foi banido por “violar as regras da comunidade e termos de serviço”, o que não quer dizer grande coisa.

O streamer acabou por voltar ao activo no Youtube cerca de um mês depois. Contudo, o banimento da Twitch ainda hoje está em vigor, sem que tenha sido tornado pública a razão da plataforma ter, simplesmente, banido um dos seus maiores streamer sem grandes explicações. Beahm terá depois levantando um processo contra a Twitch em 2021 mas desse processo parece que nada foi tornado público.

À data deste artigo, Dr. Disrespect conta com uns consideráveis 4.73 milhões de subscritores no Youtube, parecendo que a sua recuperação estava garantida. O streamer usa até esse banimento e consequente ressurgimento como “manobra de marketing”, numa confirmação da sua popularidade aparentemente intocável junto dos fãs… mas…

Parece que o passado persegue o “Doc”. Um ex-funcionário do Twitch veio recentemente a público revelar que, afinal, o streamer terá sido banido por alegadamente ter trocado mensagens impróprias com uma menor de idade dentro da plataforma. Não há grande contexto nesta “revelação”, parecendo só uma insinuação (sem nomear realmente ninguém) mas criada de modo a que as pessoas juntem A + B. É um claro desejo de “agitar águas” de um ex-funcionáriao descontente. Mas a comunidade prestou atenção.

Numa era de “cancelamentos”, qualquer individualidade que se destaque e que cometa algum deslize, está sujeita a uma exposição pública, por vezes com alegações não prováveis ou até inventadas. Neste caso, fica difícil perceber o que realmente aconteceu sem que provas tenham sido apresentadas por nenhum dos lados. Numa situação legal, as partes são ouvidas e oferecem-se provas pelas alegações. Na praça pública, porém, basta uma insinuação, por mais infundada que seja, e destroem-se carácteres inteiros.

Em resposta a esta alegação, Beahm alega que “não fez nada de mal” e que tudo foi “analisado e resolvido” entre as partes. O streamer entende o momento por se tratar de um “assunto quente”, sem que “nenhuma acção imprópria tenha sido reconhecida” e que o mesmo terá sido “pago na inteireza do contrato”. Só que essa resposta foi ainda mais críptica para alguns afirmando que a frase “nenhuma acção imprópria tenha sido reconhecida” não é propriamente uma negação da acusação. E, então, a internet “pegou fogo”.

É que, entretanto, o site The Verge revelou outra fonte que confirmou as alegações do ex-funcionário acima.  Mas, também há vozes a discordar destes “whistle-blowers”, alegando que estão a tentar ganhar notoriedade para si mesmos. Contudo, os fãs não parecem querer esquecer o assunto e nos últimos “lives” do “Doc” não desarmam pedindo esclarecimentos e explicações do sucedido. O streamer, por seu lado, já disse que não comentará mais o assunto sempre que este vem à tona. A dada altura, disse mesmo que poderá tirar umas “férias” de tudo isto.

E férias foram mesmo dadas, daquelas mais “permanentes”. A poucos dias desta mais recente revelação e horas depois do último stream onde Beahm manifesta o desejo de se afastar das coisas, o estúdio Midnight Society, co-fundando por Beahm, decidiu despedir o streamer por informar publicamente que decidiram “terminar a relação com Guy Beahm imediatamente”. A decisão terá vindo depois do estúdio ficar a par das alegações e que, partindo da presunção de inocência do “Doc”, falaram com as partes e “decidiram agir” pela “dignidade dos envolvidos”.

Ou seja, Beahm terá sido despedido do estúdio de produção que ajudou a fundar em 2021, em conjunto com Robert Bowling (ex-produtor na Infinity Ward) e Quinn DelHoyo (Ex-produtor de Halo e Gears of War). Este estúdio está actualmente a produzir um “extraction shooter” chamado Deadrop, alegadamente com o contributo de Dr. Disrespect, não tendo mais nada em portfólio. Esta foi, com certeza, uma decisão complexa, já que o “Doc” seria, não só um investidor, mas uma cara conhecida para as promoções deste estúdio.

Parece, assim, que a comunidade está dividida, as entidades ligadas a Dr. Disrespect preferem acreditar nas alegações agora tornadas públicas e o próprio “Doc” não fez um bom trabalho para despistar as ditas alegações. Será que este é o princípio do fim deste streamer tão popular, provavelmente o mais popular de sempre? É difícil dizê-lo e é claro que esta é uma comunidade repleta de “personagens”, algumas mais “politicamente correctas” que outras. Por outro lado, basta uma alegação para destronar individualidades, mesmo sem provas? Não vale tudo neste meio, de facto. Mas, até onde vai esta “cultura do cancelamento”?

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