Apanhámos a Febre do Ouro
Certamente já viram um ou outro programa na TV por cabo relacionado com a prospecção de ouro no Alasca e outras regiões. O complexo e moroso processo de extracção parece ser suficientemente interessante para nos trazer Gold Rush: The Game.
Por mais que procurem este jogo para comprá-lo, não o vão encontrar. Terão de ter alguma paciência, uma vez que se encontra ainda a angariar interesse através da plataforma de crowdfunding Kickstarter. Apesar de apenas termos acesso à demonstração Pré-Alpha para apoiantes, o que temos em mãos deu-nos algumas horas para explorar o conteúdo futuro. O jogo final será, certamente, diferente ou, pelo menos, mais refinado e preenchido. O que temos para experimentar, porém, já dá uma luz do conceito da produtora Polaca Code Horizon. E notem que, mesmo antevendo algum aborrecimento possível, é notoriamente viciante passar por todos os passos para chegar ao metal precioso. É uma questão de paciência, na verdade.
Gold Rush é uma espécie de simulador que aborda uma boa parte dos passos necessários para fazer extracção de minério, neste caso de ouro. Tudo começa pelas máquinas que devem estar devidamente colocadas e preparadas. Uma bomba de água é colocada junto a um rio, com a sua sonda numa parte mais funda. Um gerador é ligado para dar energia às máquinas. Uma central de lavagem de pedras é colocada estrategicamente ao lado de uma máquina de extracção magnética de metais. Tudo preparado, agora é preciso matéria prima.
Ali ao lado, há um lote gigante de terreno (equivalente a dois ou mais campos de futebol) para iniciar a minagem. Para isso temos dois meios importantes: Um bulldozer e uma escavadora. O objectivo é escavar o solo e pegar nessa terra para depois passar pelas máquinas de lavagem. A escavadora será mais rápida, mas o seu balde leva menos minério. Já o bulldozer é mais rápido e leva mais minério, mas é incapaz de escavar eficientemente. Uma estratégia é usar a escavadora para criar montes e o bulldozer poder apanhar esse minério para levar para a lavadora. Mas, embora mais eficiente, é o dobro do trabalho!
Depois, temos de fazer chegar a terra e rochas à central de lavagem, de modo a que separe os metais pesados da rocha. Depois, passamos pela máquina de extracção magnética que garante que apenas um metal chegue ao balde: o ouro. Só que este processo não separa a terra do minério precisos. Para isso, temos de pegar num prato de minagem e num balde com água. É tempo de peneirar. Lá pelo meio, entre umas quantas passagens por água, lá encontramos umas pequenas pepitas. Com uma pinça, buscamos cada precioso pedaço. O somatório dá pouco de cada vez, mas ao fim de umas extracções, teremos 1 Onça de Ouro.
Com essa onça, pegamos na pickup e vamos à cidade. Algures por lá, há um ferreiro. A troco de um punhado de dólares pedimos que forme um lingote. Este é o troféu, um lingote de 1 onça de ouro. A demonstração termina aqui mesmo, com a lembrança que o jogo ainda está em produção e com o pedido que apoiem o projecto na sua página. Tudo isto parece bastante simplista e algo linear, logicamente repetido. Contudo, dada a complexidade com que tudo é feito, temos aqui um título desafiante. Isto, porque todas as mecânicas existentes apostam numa lógica muito próxima da realidade.
Em primeiro lugar, todas as máquinas terão de ser postas nos devidos locais à mão. Somos nós que escolhemos onde colocar a pesada máquina de lavagem, por exemplo. Estar mais perto da zona de extracção, encurta viagens para lavagens, mas obriga a viagens mais longas para a peneira. Também podemos levar a peneira para a proximidade da lavadora, é certo. Contudo, colocar as máquinas tão longe do rio obriga a puxar as tubagens da bomba de água por terrenos sinuosos. Por outro lado, estando a maquinaria dentro do lote de minagem ocupa espaço precioso para extracção.
Em segundo lugar, todas as peças e equipamento são controlados na primeira pessoa e com cada peça a ser montada à mão. Não, não terão de montar a máquina de lavagem toda, mas terão de levar os baldes um a um, pegar em cada tomada de energia ou cano de água, etc. Uma das tarefas mais morosas é o processo de lavagem e peneira que vos obriga a pegar em baldes de forma avulsa. Querem puxar o tanque de combustível para mais perto de modo a não terem de andar muito para reabastecer? Peguem numas cordas de guincho, amarrem o tanque no bulldozer e arrastem. Já perceberam o contexto.
Esta ideia que nada é fácil e tudo envolve trabalho e planeamento, é uma perfeita analogia à vida de mineiro nas séries de TV já mencionadas. Contudo, há algumas coisas que devem merecer mais atenção e cuidado da produção. Não podemos carregar mais que um objecto de cada vez, por exemplo. É compreensível que não consigamos carregar mais que um gerador de cada vez, mas só um balde ou só um cabo de corrente? Se considerarmos que temos de levar inúmeros objectos connosco, torna tudo moroso e aborrecido, mesmo usando a caixa aberta da pickup.
Há outras questões menos positivas, mas temos de recordar que esta não passa ainda de uma demonstração. A manipulação das máquinas é algo confusa e não há um tutorial, por exemplo. Nota-se que o jogo ainda está numa fase inicial de produção. Mesmo assim, é de assinalar a excelente qualidade visual de tudo. Desde as máquinas à paisagem, sem esquecer as físicas presentes, com especial destaque para o terreno moldável pela escavação. Uma das coisas que mais gostei de ver, é o conceito dos cabos e canos que seguem os nossos passos, permitindo criar linhas de ligação credíveis.
De um modo geral, pouco falta a esta demonstração para dar uma ideia clara do jogo projectado. Muitos objectos não possuem interacção ainda, mas os essenciais estão lá. A promessa da produção é que teremos capacidade de criar e mover todos os objectos possíveis. Há quatro lotes previstos e muita mais maquinaria e interacções planeadas. Até mesmo o grafismo promete ser ainda mais interessante e detalhado. Há a perspectiva de animais selvagens poderem ameaçar o lote e tudo. E todo este empenho depende do apoio dos que se entusiasmam com estas imagens e com o conceito.
Até à data, metade dos objectivos foram cumpridos no Kickstarter. Dos 10000$ dólares Canadianos (sim, é essa a divisa, por qualquer motivo), já se chegou as 56000$. Se a equipa conseguir reunir 200000$ (cerca de 135000€) irá até criar versões para consolas e trazer o jogo para a realidade virtual. Considerando os custos de outros projectos, não será um alvo inalcançável. Contudo, este é um projecto que só vai apelar a quem gostar de controlar grandes máquinas e quiser se dedicar a uma actividade morosa.
Gostávamos de ver este jogo chegar à produção. É possível aqui uma boa carreira a minar e vender minério para comprar mais equipamento e lotes para explorar, tornando-nos em magnatas da extracção de ouro. Também será interessante ver algum modo cooperativo online para que haja alguma divisão de tarefas. Perspectiva-se que Gold Rush: The Game seja um sucesso ao lado de outros simuladores de nicho, como Farming Simulator e tantos outros. Se gostaram desta nossa viagem pela Febre do Ouro, não hesitem em dar suporte ao jogo no Kickstarter.
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