Beta de Concord convence… ou talvez não…

Concord (1)

Este fim de semana, estive a jogar um título que claramente não é (nem parece pretender ser) muito original. A versão Beta de Concord serviu para, pelo menos, perceber as suas óbvias influencias.

Originalmente, as Betas serviam para testar os jogos, colocá-los mesmo à prova para ver se tinham o que era preciso para um lançamento suave. Nos dias que correm, porém, as Betas tornaram-se meros geradores de “hype”, peças de marketing para chamar a atenção de um título que, de outra forma, poderá passa despercebido. É muito discutível se mais vale promover umas quantas sessões Beta ou apostar em campanhas de publicidade. Afinal, há imensos pontos positivos para promover o jogo assim: coloca-se meio mundo a jogá-lo, a falar nele e ainda dá para usar a audiência para testar o jogo a custo zero. Ainda assim, há um lado menos positivo das Betas: É que também dá para perceber se o jogo tem ou não argumentos vários que nos chamem à atenção. E aqui o risco é que sintamos que o jogo não é para nós.

Concord, por seu lado, como novo título e propriedade, tem algo mais para provar. Depois de anos a protestar com esta indústria que só sabe fazer reciclagem de franquias, com sequelas, reboots, remakes, remasters, etc, eis um novo IP com um esforço notório dos Firewalk Studios de criar algo mais seu. Com toda a arte e  um enredo surpreendentemente únicos, porém, adianto-me por dizer-vos que Concord não é mais que uma outra colectânea de ideias já vistas. Eu sei, disse praticamente o mesmo de XDefiant e já pensarão que eu estou com o “disco riscado”. Olhem que se o “disco” está realmente “riscado”, a culpa não é minha. Estamos a ver reciclagens de fórmulas por todo o lado. Se o jogos se repetem, também se repetem as avaliações. É inevitável.

Concord, para todos os efeitos segue a mesmíssima linha de XDefiant no que toca a criar um jogo. Não, Concord não é “free-to-play” e depois desta Beta eu fico a pensar que, se calhar, devia mesmo ser. Tirando esse aspecto monetizador, porém, usa as mesmíssimas muletas técnicas do outro jogo da Ubisoft: Porque é que havia de fazer algo novo se outros jogos já o fizeram tão bem? Concord, como poderão constatar, é uma colectânea de ideias e conceitos vistos em vários outros jogos, reciclados para parecerem novos, com especial ênfase dada à forma como constantemente emula Destiny ou Overwatch. E fá-lo de uma forma que em nada tenta esconder esta, digamos, “homenagem”.

Como jogo como serviço, para dizer a verdade, vejo aqui algum potencial. Pelo menos a arte do jogo é muito bem conseguida, com uma profunda construção artística de personagens, locais e eventos. Infelizmente, nesta Beta só tivemos três modos de jogo PvP, quatro mapas e uns poucos cosméticos para as 16 personagens. É uma amostragem algo limitada do que o jogo final poderá oferecer mas foi o suficiente para sentirmos o “vibe”. O que deixou experimentar foi esclarecedor, desde a forma como cada classe de jogadores se comporta, à dinâmica de combate e efeitos visuais. Tudo emana Destiny e Overwatch até à exaustão, mesmo que, depois, o “embrulho” seja habilmente diferente.

Notem que, mesmo com o tempo limitado de um fim-de-semana da Beta, foi preciso perder algum tempo a jogar com cada personagem e a entender os seus pontos fortes e pontos fracos, o que é um atestado do trabalho profundo de personalização da produção em cada um destes Freegunners. Quando achamos que uma personagem é mais forte que as outras, entendemos que os seus pontos fracos são exploráveis, como a baixa velocidade de movimento, por exemplo. No fundo, é algo exige dedicação para encontrar um equilíbrio. E é exactamente aqui que acho que o jogo tem muito potencial, pelo óptimo balanceamento. É divertido, tem uma margem muito grande de experimentação e consegue entusiasmar…

… mas…

Não vejo aqui nada realmente novo ou que me leve a esquecer a demais oferta por aí. Como “arena shooter”, tal como XDefiant, não consigo destacar quase nada que o exacerbe ou lhe dê uma personalidade verdadeiramente diferente. Como “hero shooter”, até o próprio Overwatch atingiu um ponto de saturação, de onde dificilmente escapará, pelo que a Firewalk não “reinventou a roda” aqui. A jogabilidade pode ser divertida, como já disse, mas chegamos inevitavelmente a um ponto de aborrecimento, porque já a vimos noutro lado. Se isso chega para nos entusiasmar numa Beta de tempo limitado? Claro que sim. Mas, chega para entusiasmar a compra do jogo e a sua existência como serviço? Aí já tenho sérias dúvidas.

Até mesmo as missões diárias, semanais e sazonais são francamente genéricas, com metas de dano infligido com armas ou habilidades, número de adversários eliminados de determinadas maneiras, uso de armas em particular, etc. Do que foi dado a entender, as recompensas são todas cosméticas, inclusive nos desafios de personagens e evolução de armas. É possível que a produção adicione desafios mais elaborados, campanhas mais envolventes ou até itens mais entusiasmantes. Todavia, uma vez mais, jogando mais e mais não me senti muito mais recompensado. Enquanto me diverti nas primeiras horas, gostei, mas a dada altura não vi argumentos para uma dedicação a médio-longo prazo.

Quem sabe o elemento que menos gostei nestas Betas e que certamente irá precisar de ajustes, porém, foi o ritmo das sessões. Enquanto que o ritmo das personagens e dos confrontos é até bastante balanceado, o tempo de jogo é algo curo, com sessões de cinco minutos. Por outro lado, pareceu-me que os pontos dados por sessão, fora das missões e objectivos gerais, são algo escassos. Se o jogo final for mesmo assim, o “grind” que se espera deste tipo de jogos será um pouco fastidioso. Para mim, é insuportável ter de jogar 20 sessões seguidas numa hora para chegar a um determinado valor de XP necessário. Sessões mais longas também podem não ser muito fáceis de justificar, já que o tipo de jogo rápido e em arena não é convidativo para “horas” de jogo.

Enfim, há que encontrar um bom equilíbrio nisto tudo. Equilíbrio, esse, que é preciso encontrar noutros lados, como acontece com o visual deste jogo. A ambição gráfica é notória, pedindo muito do hardware. Contudo, por causa disso, tive imensos problemas técnicos, desde falhas de sincronismo de falas nas cenas intermédias, quebras constantes de performance (especialmente no PC) e muitas, mesmo muitas falhas baseadas num omnipresente lag. Nota-se também uma distinta necessidade de ajustar o auto-aim usando o comando DualSense na PS5, algo crítico sabendo que há jogadores no PC a usar teclado e rato. Tudo isto é normal numa Beta, passível de ser melhorado até ao jogo final. Já no próximo fim-de-semana teremos outra fase Beta para ainda mais ajustes. Vejamos o que a produção consegue fazer até lá.

Conclusão da Beta

Sem saber muito bem como será realmente o jogo final, os argumentos da Beta de Concord, para todos os efeitos uma manobra de marketing para chamar a atenção dos jogadores para este novo jogo, não foram para mim suficientes para dar a melhor introdução ao jogo. Se ainda tiver “trunfos” na manga na próxima Beta ou no jogo final, poderá até fazer-me mudar de opinião, até porque vejo aqui um possível novo vício para muitos. Mas, a diversão possível exige uma dedicação que será muito difícil de justificar se o jogo oferece tudo a correr e sem ideias próprias, parecendo um colecção de conceitos tirados de Destiny e Overwatch. Falta uma segunda Beta mas o primeiro contacto foi… desapontante.

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