Caça Jurássica na Beta de Exoprimal

Exoprimal (1)

Nos últimos dias, as minhas memórias de juventude foram colocadas em causa. Os dinossauros vieram à vida do meu imaginário desde Parque Jurássico, Exoprimal e a sua beta vieram… chaciná-los.

De facto, há qualquer coisa de interessante no conceito da Capcom para este jogo. Estou convicto que o intuito era mesmo chamar os jogadores para algo que facilmente simpatizamos, dando-lhe “pózinhos” óbvios de Turok mas buscando inspiração em títulos do momento, como Back 4 Blood e até Overwatch. Não, não tem muito a ver com a lendária série Dino Crisis, em comum, só mesmo as bestas pré-históricas. Enquanto que a fórmula para a diversão parece óptima “no papel”, a implementação acaba por não ser bem o que esperava. Esta é, contudo, uma análise a uma Beta e ainda há tempo para melhorar o conceito.

Embora no trailer acima fique no ar que este título tem uma acção narrativa, não esperem um modo de carreira convencional. Também não esperem jogar a solo, já agora. Embora nesta Beta a narrativa não fosse propriamente o seu foco, fica bem claro que este é um jogo online, exigindo constante ligação à internet e até um Capcom ID para poder jogar. Havia aqui algum lore para seguir, é certo mas acho agora que não serve de muito na oferta geral.

Este jogo tem uma jogabilidade PvPvE (Player vs Player vs Environment), ou seja, envolve um misto de acção competitiva e cooperativa. Aqui vamos assumir o controlo de um Exofighter, cuja missão é desafiar uma inteligência artificial chamada Leviathan que cria uma espécie de Hunger Games com seres pré-históricos. Vestimos uns exo-fatos especiais, estes com 10 tipos e 3 classes diferentes e armas e habilidades únicas. Depois, como já perceberam, vamos combater hordas de dinossauros, alguns deles com mutações que os tornam ainda mais perigosos.

Como já disse, há muitos elementos aqui que foram inspirados noutros lados. Temos uma jogabilidade cooperativa que, basicamente, pode ser comparada à fórmula de Left 4 Dead ou Back 4 Blood. Temos de reunir forças com outros quatro jogadores para sobreviver aos vários desafios, que envolvem dezenas de velociraptors e outros pequenos dinossauros, culminando nos ocasionais grandes monstros que agem como bosses. Os combates são lineares e envolvem muito jogo de equipa.

A mecânica mais curiosa que experimentei neste jogo, foi poder mudar de fato e classe a qualquer momento. Regra geral nos vários jogos deste género, temos de escolher uma classe ou personagem e com ela jogamos até ao final da partida ou até ao próximo respawn. Aqui, podemos mudar em qualquer momento, o que é interessante a nível táctico, podendo adaptar o alinhamento dos cinco jogadores conforme a necessidade e o desafio. Gera também alguma desorientação mas, já lá vamos.

É possível, assim, fazer com que cada jogador tenha um papel fluido na acção. Enquanto enfrentamos hordas, convém ter alguém com Roadblock para empurrar as dezenas de raptors ou proteger os demais de serem rodeados. Mas quando surge um T-Rex, convém que alguém escolha Barrage para o atacar com explosivos. E é óbvio que alguém tem de ser o Witchdoctor para curar os jogadores dos danos provocados.

Perguntarão agora (e bem): onde está o segundo “P” em PvPvE? Na mesma sessão está outra equipa de cinco jogadores a fazer exactamente o mesmo que nós. Estão também a passar os vários desafios e a desancar hordas de adversários. Só que estão noutra dimensão e não interagem directamente connosco, apenas vemos as suas silhuetas. A ideia é que estamos a competir com eles para cumprir os objectivos e Leviathan faz questão de nos recordar (persistentemente) se a outra equipa for mais eficaz.

Eventualmente, se a nossa equipa realmente ficar muito para trás, Leviathan ajusta tudo por nos dar a oportunidade de enviar dinossauros para a outra dimensão. Há também a hipótese de possuir um grande dinossauro como um T-Rex e invadir a sessão alheia num modo de combate assimétrico. Fazemos isso activando o que o jogo chama de Dominator e, embora não sirva muito para ajudar no progresso da nossa equipa, serve para dizimar adversários e fazê-los perder tempo.

Por tudo isto, sinto que Exoprimal quer fazer muito ao mesmo tempo, condensa demasiadas coisas numa oferta relativamente compacta. A quantidade de ideias, porém, não lhe faz grandes favores. Não vejo necessidade de ter tantos fatos se, afinal, escolhemos sempre os que fazem mais dano ou com as melhores habilidades. Os fatos são muito focados nas suas habilidade e nada polivalentes. Especialmente a transitar de hordas para bosses, a tal mudança de fato torna-se demasiado constante porque nenhuma opção é verdadeiramente para “todo o serviço”.

Também não fica muito claro se haverá algum formato de progressão que nos permita ganhar upgrades ou alguma novidade na jogabilidade. Talvez seja algo embrionário e por desenvolver, claramente não sendo o foco desta Beta. Como está, não consegui perceber qual é o objectivo de jogar continuamente este jogo. Poderá ser algo mais elaborado mas, se for apenas ganhar pontos ou divisa de jogo para comprar cosmética, vai ser complicado de digerir, correndo o risco de ser pouco recompensador a longo prazo. Esperemos que hajam planos mais concretos.

Claramente a pensar no formato de “jogo como serviço”, parece que terá muitas micro-transacções para comprar com dinheiro real. Nesta Beta, a loja em jogo estava desactivada, pelo que não sei dizer se estamos perante algo massivo neste aspecto. Contudo, este jogo terá um preço normal a pagar mas conta já com um battle pass comprado à parte, porque é claro que sim. Parece uma fórmula algo ambiciosa para um novo IP que deveria sera algo “free to play” e que não traz nada realmente novo ao panorama.

A nível de conceito, não posso deixar de mencionar que os dinossauros neste jogo são claramente uma “muleta” técnica. Podiam ser qualquer outra coisa, monstros, zombies, extraterrestres, não há uma real justificação com o universo pré-histórico destes animais, mesmo com o enredo a explicar a sua origem. São só predadores desmiolados, carne-para-canhão, para desancarmos e ganharmos pontos. Aquele apelo que senti no início que me fez regressar ao passado, perdeu-se completamente ao fim de umas horas. Não era preciso serem dinossauros, de facto.

No plano técnico, recordo que esta versão que testei no PC foi uma Beta limitada e fechada. Não notei grandes problemas de ligação, apenas um ocasional lag entre jogadores, normal com tanto a acontecer no ecrã. Ainda assim, no geral, é algo mitigado pelo facto de jogarmos maioritariamente contra a IA. Graficamente, é um jogo, diria, dentro do esperado, sem nunca deslumbrar realmente, mesmo usando o aclamado RE Engine. Os vários biomas, horas do dia e localizações são competentes mas é provável que nem prestem atenção com tantos dinossauros para combater.

Veredicto da Beta

Pejado de muitas ideias, algumas inspiradas, outras recicladas, Exoprimal tem aqui “algo” que poderá atrair alguns jogadores que gostam de acção cooperativa com alguma competição pelo meio. Sofre um pouco com tantos conceitos misturados mas até é divertido. Infelizmente, precisa aprimorar a sua oferta para criar algo apetecível para o “grind” que quer tanto que os jogadores se entreguem.

Tecnicamente, foi uma Beta positiva a nível de estabilidade e performance mas foi limitada em participação. A beta pública do jogo arranca hoje e estou certo que, com mais jogadores, os servidores só agora irão ser realmente colocados à prova. Contudo, é bem possível que o que os jogadores experimentem também os entusiasme muito.

Exoprimal será lançado a 14 de Julho deste ano na PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.

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