Editorial – Demo de Anthem não arrancou muito bem

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Quando a premissa de uma demonstração é que os jogadores pré-comprem o jogo final para jogar a demo antecipadamente, convém que funcione. A demonstração VIP de Anthem deveria ter arrancado pelas 17:00 (Hora de Lisboa) de ontem. Mas, nem tudo correu bem.

Convenhamos que há aqui mais dúvidas que certezas sobre Anthem. Apresentado como um shooter MMO com elementos RPG, ainda hoje os jogadores estão indecisos sobre o seu conteúdo e sobre a sua fórmula. Por isso, nada como uma demonstração do potencial do jogo, certo? No próximo fim de semana, a demonstração estará disponível para todos os interessados. Mas, neste fim de semana arrancou uma “demo VIP” para quem pré-encomendou o jogo. E as coisas não podia ter corrido pior para uma fase “premium”.

Notem que a Bioware e a Electronic Arts não chamaram esta versão nem “Alpha” nem “Beta”. Uma fase Alpha Fechada decorreu em várias sessões que terminaram há umas semanas, apenas por convite e ao abrigo de um NDA que impossibilitou uma cobertura devida. Esta demo, portanto, seria uma Beta com outro nome. Se o objectivo era testar o jogo, já teve a sua prova de fogo, como irão ver. Agora se o intuito era explicar o que é este título, parece que também não atingiu a marca.

Em primeiro lugar, os problemas. Em contexto de uma demo fechada e com acesso restrito, o número de jogadores nesta demonstração seria reduzido ou, pelo menos, previsível. A produção deveria contar com um número determinável de jogadores, bastando consultar o número de activações do estatuto VIP no site dedicado. Mesmo com a lógica de que cada jogador podia convidar amigos com a emissão de códigos adicionais para partilhar, ainda assim, a quantidade de jogadores deveria ser manejável para os servidores da EA/Bioware.

Quem conseguiu jogar mesmo na hora de arranque da demonstração até terá conseguido iniciar o jogo e arrancar uma ou outra primeira missão. Mas, por aí ficou. Em poucos minutos, os servidores ficaram cheios, jogadores foram removidos das sessões e as conexões perderam-se. Os erros mais comuns foram “loadings” infinitos (que a EA reconheceu acima) ou quebras de ligação aos servidores. Até duas horas depois do arranque, o serviço ficou intermitente, até que a EA decidiu desligar tudo da ficha.

As redes sociais encheram-se de protestos, como seria de imaginar. A produção não foi muito comunicativa, mas lá foi respondendo que estariam a trabalhar para aumentar a capacidade dos servidores e a pedir calma. Acontece que essa calma é complicada de pedir a jogadores que pré-compraram o jogo para ter acesso a esta demo antecipadamente. Duvidamos que a maioria o tenha feito de propósito, mas cobrar para uma demo e não a disponibilizar nas melhores condições é sempre algo negativo.

Por outro lado, muitos jogadores que lá conseguiram jogar ao fim de umas horas, manifestaram a sua confusão sobre o que testaram. Já sabíamos que esta demo iria ser algo diferente do jogo final. Por esta altura, porém, já deveríamos ter uma definição do que é. A Bioware é uma lendária produtora de RPGs, tendo inserido habilmente elementos de acção nos seus maiores títulos do género, Mass Effect e Dragon Age. Anthem, porém, tem uma pedigree diferente. Mostra-se como uma descolagem muito notória deste género.

E esta demonstração deveria esclarecer as dúvidas dos jogadores mas, embora ainda precise jogar um pouco mais desta demo falível, penso que estas dúvidas não serão bem esclarecidas. A opção da Bioware de limpar muitos dos elementos do enredo nesta demo, colocando-nos a meio da trama, já com nível 10 e sem grandes explicações do que se passa, parece fugir um pouco ao propósito de uma demonstração de um jogo.

Até ver, o foco está quase estritamente na acção, dando-nos umas missões para abordar, com pouca variância entre tiros, explosões e o ocasional puzzle. É uma demo, tudo certo. Mas, devia exemplificar o jogo que foi prometido, sem que conseguíssemos ver algo memorável, além de um shooter. O que não parece aproveitar as mais valias da lendária Bioware. E também não esclarece outras incógnitas que rodeiam este jogo, mesmo para quem já jogou bem mais do que isto nos demais acessos antecipados.

Embora vá falar sobre isto numa antevisão um pouco mais extensa, esta primeira abordagem não foi muito positiva a este jogo. Como temos dito, Anthem tanto pode ser a redenção de uma Bioware a procurar desesperadamente recuperar o seu estatuto, como a pedra que faltava lançar na crise notória que a EA está a passar. E quando todos esperavam que esta demonstração fosse uma bóia de salvação, mostrou-se o contrário, com problemas técnicos graves no arranque e um indefinição de conteúdo.

A opção de ter um jogo permanentemente online é também arriscada. Outros títulos do género como Destiny ou The Division também passaram por problemas crónicos no arranque, exactamente pela sua dependência de servidores online robustos e capazes. Talvez também tenha sido uma fasquia algo elevada demais para a Bioware, nada habituada a estas lides dos MMOs. Só o tempo o dirá, tanto nesta demo, como depois do lançamento.

Vejamos se, neste fim de semana, as coisas se tornam mais fluídas e que possamos, finalmente, jogar de forma contínua. E que possamos, também finalmente, entender o que é este jogo. É que na próxima semana a afluência será obviamente maior e a produção não vai querer ainda mais jogadores com dúvidas.

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