Editorial: Eu publico, tu compras!
O que mais prezamos neste mundo dos videojogos é dar o nosso dinheiro por bem empregue. Digam o que disserem, gastar dinheiro neste universo e sair desapontado não é assim tão raro. Ultimamente, as editoras lançam prólogos, reedições ou simples DLC (Conteúdo Extra Descarregável) quando o jogo final demora, passa de moda ou fica saturado. É uma medida para chamar de volta os jogadores ou aguçar o apetite ainda mais. Pior que isso é ver preços inflaccionados nesses extras. Cabe aos meios de divulgação, como nós aqui no WASD, analisar isso mesmo: Se o jogo ou DLC vale ou não a pena versus o que se paga por ele. E isto é o que pensamos.
Metal Gear Solid V será dos jogos mais esperados deste ano. A par de outros grandes lançamentos na nova geração de consolas, será um dos jogos que irá justificar muitas compras de Playstation 4 ou Xbox One. A editora Konami não ficou indiferente ao enorme hype gerado pelas primeiras informações e imagens que surgiram de Naked Snake com a voz do actor Kiefer Sutherland e lá para meados do ano passado largou a bomba: Haverá um episódio em jeito de prólogo, com mais ou menos duas horas de jogabilidade, chamado de “Ground Zeroes” antes do lançamento do jogo final chamado “The Phantom Pain”. Tudo bem até aqui. É uma espécie de “mimo” dado aos fãs antes de terem o jogo final terminado, certo? Errado! É uma manobra de marketing. É que este prólogo de umas poucas horas de jogo custará a módica quantia de 29,99€ (preço a confirmar em Portugal). É verdade! Muita gente demonstrou o seu desagrado por este preço exagerado que equivale a metade do preço de um jogo final, aproximadamente. Só que este prólogo não representa, nem de longe, metade de um jogo final. Infelizmente, porém, muitos desses que protestam vão mesmo pagar esse montante pelo jogo.
The Last of Us, um dos jogos do ano aqui no WASD, recebeu aqui há dias um excelente DLC de nome “Left Behind” que adicionava umas quantas horas de jogo (mais ou menos 3 horas se jogarmos compassadamente). O enredo deste extra visa dar a conhecer melhor a co-protagonista Ellie e falar do seu passado recente. Ou seja, um DLC para o modo carreira, o ponto mais forte do jogo. Até à data deste DLC, todos os outros extras pagos para The Last of Us foram dedicados ao modo multi-jogador. Havia aqui o interesse de dar algo significativo à legião de fãs que adorou jogar a história de Ellie e Joel. Mas, para isso, tiveram de pagar 14,99€ na PSN. Rapaziada da Naughty Dog, 15€ por um pedaço de duas ou três horas de jogo que, por mais bonito que seja, não adianta nada ao jogo final, é justo? Não estou a falar na qualidade do DLC já que aqui no WASD quem jogou, adorou! Mas, não seria mais justo pedir menos de metade desse valor? Há jogos completos na PSN por esse preço e até mais baratos com muito mais longevidade. Se pensarmos que para jogar Left Behind temos de possuir o jogo completo, façam as contas para ver quanto custa jogar mais duas horas e confiram se é justo.
Tomb Raider, um jogo que gostámos de jogar aqui na redacção, também foi alvo de uma jogada de valor injusto. Se bem se lembram, quando a PS4 foi lançada, alguns jogos que foram adquiridos na anterior Playstation 3 tiveram uma campanha que permitiu adquirir o jogo na nova consola a um preço promocional. Ora, Tomb Raider foi lançado no segundo semestre do ano passado na PS3/Xbox360 e muita gente o adquiriu face às suas boas críticas na altura. O golpe da Square Enix neste caso foi re-lançar o mesmo jogo (exactamente igual excepto nas texturas e gráficos HD) com o título “Definitive Edition” na PS4 e Xbox One, com o preço de um jogo final e sem que os possuidores da versão PS3/Xbox360 tivessem sequer um mísero desconto. Podem dizer, “se o jogo é o mesmo só compra quem quer!” E é verdade. Talvez seja um tiro no pé da própria Square Enix. Mas notem como o título foi jeitosamente adornado com “Definitive Edition”, dando a entender que seria uma edição especial do jogo, possivelmente com extras ou bónus. Não há nada de inocente neste título da reedição. Tivesse sido Tomb Raider Reedited, por exemplo, seria menos enganoso.
Há muitos mais exemplos iguais ou piores que estes. Jogos que são apresentados como produto final mas estão longe de completos como Battlefield 4, que ainda prometeu vantagens em contas Premium (que custa 50€) mas que entregou um jogo cheio de bugs e falhas com DLC atrasado. Recordo que já no passado a edição de “Prólogos” levou à existência de Gran Turismo Prologue e outras peças incompletas a preços mais baixos mas, mesmo assim, caros. E DLC com preços exagerados não são assim tão incomuns com Call of Duty a encabeçar a lista, com pacotes de um punhado de mapas ao preço de um bom jogo arcade. E as reedições são muitas vezes enganadoras. Recordo como os pacotes de reedição HD de alguns jogos não são nada HD e sim meros ports feitos das velhinhas consolas anteriores.
Faltava-nos entrar no mundo das micro-transacções que permitem que num jogo, geralmente online e muitas vezes Free2Play, se pague a sua evolução ou para continuar a partir de um determinado ponto. Essa é outra guerra que infelizmente nos levava a outra discussão. Estávamos aqui agora umas horas a dar outros exemplos de jogos e manobras de marketing. Acho que os três jogos e extras que menciono acima são os mais exemplares do que estamos aqui a falar.
Atenção que há algumas excepções que realmente justificam a sua compra, como as edições GOTY (Game of the Year – Jogo do Ano) que possuem as expansões todas até então lançadas ou conteúdo de bónus. Há também DLC a preços justos ou o próprio jogo é dividido em capítulos e o que se adquire é um Season Pass em que fica tudo muito mais barato. O que falo aqui não são esses bons exemplos.
Há produtoras que se dão ao luxo de produzir o jogo final e os DLC ao mesmo tempo, cortando o enredo já a prever o lançamento de conteúdo pago no futuro, mas entretanto lançam o jogo “base” ao custo regular. Já é “normal” as expansões serem anunciadas e publicitadas à parte, até mesmo antes do próprio jogo final. E quando digo “normal”, quero dizer “aceite”! As pessoas pagam os valores exorbitantes por um pacote de 4 mapas multijogador de qualidade tantas vezes duvidosa. Protestam, muito, mas pagam na mesma. Por vezes, nem se entende porque é que esses DLC já não estavam incluídos no jogo original. Mas vende-se sempre.
Nota-se o claro interesse das editoras de prolongar as receitas dos jogos além da venda directa de lançamento. Mas se juntarmos a esses valores o custo, já de si elevado, de um videojogo, mais as subscrições obrigatórias para jogar online (PS Plus e Xbox Live) e outros custos relacionados com o consumo de internet e energia, chegamos à conclusão que é quase demente manter este vício de gostar de jogar videojogos, se ocupa uma boa parte do nosso orçamento. Já nem quero debater se os 70€ que damos pelos jogos que são novidade são justos. Sobretudo nestes tempos em que se fala de contenção de gastos.
Contudo, a culpa é de todos os que pagam esta tendência!
Não é por mero acaso que as promoções, descontos e ofertas estão na ordem do dia. Estamos a gastar muito dinheiro inspirados nas campanhas de marketing das editoras que exploram os gostos (e porque não dizer “o fanatismo“) dos jogadores. Salta logo para aqui a famosa frase que já proferi lá para cima, “só compra quem quer”… Isso é muito real quando não somos gamers, ou quando não gostamos muito de uma série ou de um só jogo. Pensem só como a qualidade de um qualquer jogo final fica reduzida se continuamos a apoiar (por comprar) o que lhe falta em inúmeros DLC no futuro. E vejam quanto terão de desembolsar para ficar com o jogo completo. Quando estiver finalmente com todos os Prólogos, DLC ou extras… sai outro mais recente… E mais tarde ainda vão comprar a sua reedição…
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