Fomos à Comic Con Portugal e acabámos na Enfermaria
Partimos no sábado de Lisboa, ainda o sol não tinha nascido, com destino marcado no GPS para a Exponor onde, desde o dia anterior, se iniciava a primeira Comic-Con a acontecer em território nacional, o maior evento do mundo que engloba os universos da banda desenhada, televisão, cinema e, claro está, os videojogos. Chegámos por volta das 10 horas da manhã e fomos recebidos à entrada pelo frio do Norte e pelas enormes filas compostas pelos primeiros visitantes… alguns milhares.
Apesar de termos acesso priveligiado de imprensa por outra porta, não ficámos indiferentes à espera de tantas pessoas e decidimos ir espreitar o que causava tanto embaraço à entrada. Qual não foi o nosso espanto quando nos apercebemos que a fila era composta pelos visitantes que tinham comprado previamente o passe diário ou o passe weekend que dava acesso a todos os dias do evento. Todos aqueles que só iam comprar bilhete no próprio dia, encontravam uma bilheteira vazia e, depois da compra feita, uma entrada sem qualquer fila e sem ter de esperar um minuto sequer. Uma falha tolerável sendo esta a primeira Comic Con da organização em Portugal, mas que deve ser corrigida para o ano com um melhor trabalho de logística e distribuição dos visitantes à entrada.
O espaço da Exponor em Matosinhos é impressionante e a Comic Con Portugal soube explorá-lo em todas as suas vertentes. A verdade é que o visitante, pela magnitude dos edifícios, chegava a perder-se lá dentro. As lojas enchiam a maior parte do pavilhão central, repletas de figuras de colecção, raridades da banda desenhada e clássicos dos videojogos vendidos como verdadeiras pechinchas.
A animação do evento estava, como seria de esperar, a cargo de todos os cosplayers que enchiam a Exponor. Por todo o lado caminhavam, ao lado do simples visitante, as personagens que tanto gostamos, encarnadas pelo mais comum dos mortais que orgulhosamente ostentava o fato que demorou meses ou anos a conceber. Aliás, a Comic Con Portugal foi a maior prova de que o cosplay no nosso país existe, tem qualidade e recomenda-se. Muitos dos fatos que vimos por lá durante o sábado eram de uma qualidade impressionante. Um facto que pode ser comprovado na galeria que vos deixamos em baixo.
Para além do cosplay, o canal FOX promoveu a iniciativa Rent-A-Walker onde cada visitante, mediante o depósito de um cartão de identificação, poderia alugar um walker da série The Walking Dead e passeá-lo pelo recinto durante meia hora. Os actores que assumiam o papel de zombies estavam brilhantemente caracterizados e desempenhavam a sua personagem de uma forma imaculável, tentando morder os visitantes por quem passavam e, por outras vezes, ficando encalhados em escadas e bancos enquanto grunhiam como na série de TV.
Também a Legião 501, uma organização de voluntariado criada por entusiastas do universo Star Wars, por lá andava e protagonizou aquele que foi o momento épico do dia. Enquanto passeávamos pelo recinto, começámos a ouvir o tema da marcha imperial e quando olhámos para o lado ela estava efectivamente a acontecer: Mesmo ali ao nosso lado caminhavam os soldados do império à frente, seguidos do imperador Palpatine e de um imponente Darth Vader de dois metros e qualquer coisa, cujos passos pareciam fazer tremer a terra. Parabéns à Legião 501 por este momento na Comic Con.
Na zona de conferências e no Hall of Fame, os actores de renome internacional, além de espalhar fama, foram provavelmente o maior ponto de atracção de toda a Comic Con e aqueles que levaram mais pessoas aos espaços da Exponor. Por ali estiveram Natalie Dormer (Game of Thrones), Clive Standen (Vikings), Seth Gilliam (The Walking Dead) e Morena Baccarin (Homeland), entre outros.
No entanto para nós, gamers, aquilo que mais nos interessava na Comic Con Portugal, e apesar do grande investimento ter sido no factor televisão, sobretudo com o apoio declarado dos canais FOX, SyFy e AXN, era perceber como os videojogos também tinham o seu espaço distribuído na Exponor. Por lá encontrámos a Nintendo e enquanto por lá passámos, demos de caras com um torneio de oito jogadores de Super Smash Bros na Wii U e que presenteava os vencedores com brindes. A Microsoft também esteve presente, dando, mais uma vez, provas da grande aposta da consola no nosso país e nos maiores eventos que por cá acontecem.
Os programadores portugueses de jogos independentes também tinham o seu próprio espaço na Comic Con Portugal, à imagem do que já tinha acontecido na Lisboa Games Week e pudemos falar brevemente com alguns deles. Ouvimos algumas excelentes novidades dos membros da Tio Atum que por sua vez não conseguiam esconder a alegria que sentiam pela aprovação de Greedy Guns no Steam Greenlight. Soubemos também pela Titan Forged Games e em primeira mão que Slinki ia ser lançado na plataforma Desura. A equipa da Dream Studios prometeu-nos que o lançamento do jogo Guess What estava eminente (aliás, as últimas correcções de bugs estavam a acontecer ali mesmo em directo na Comic Con). Todas estas novidades em conversa informal. Ainda íamos comer qualquer coisa antes de iniciar as entrevistas oficiais, para além de que ainda nos faltava falar, por exemplo, com a equipa dos estúdios Rtw Imaginary labs com quem tinhamos combinado falar pessoalmente.
No entanto, um dos membros da nossa redacção não se estava a sentir bem e tivemos que experimentar mais uma das valências do espaço: a Enfermaria, onde conhecemos a enfermeira Dilsa Dias da Cliwork. Fica o testemunho na primeira pessoa do nosso redactor Filipe Fernandes:
A Comic Con chegou a Portugal. Quando estas palavras foram anunciadas pela primeira vez, ninguém ficou indiferente. Um dos exponentes máximos de toda a cultura Geek, pela primeira vez em território nacional? É claro que vamos lá estar para cobrir tudo o que lá se vai passar! Pessoal… Esta é a minha história.
Várias são as razões que motivam as pessoas a ir a este tipo de eventos. Temos os querem encarnar, da melhor forma que conseguem, os seus heróis preferidos, temos os já heróis que se dão a conhecer à sua legião de fãs, temos os jogadores, os leitores, os coleccionadores. Mas temos também… os aficionados por enfermarias. Acreditem, não há nada melhor do que acordar às cinco e e meia da manhã, percorrer quilómetros atrás de quilómetros, atrás de quilómetros, entrar em Matosinhos, chegar à Exponor onde se realiza a imponente Comic Con Portugal e chocar uma valente Gastroenterite Viral. As dores de barriga, o frio, ou melhor ainda os calafrios, ou ainda melhor o tremer incessante, as náuseas, o tempo a abrandar… É qualquer coisa!
Pensei: “Bom, se calhar ainda há tempo para trincar qualquer coisita”. Tirei o meu segundo croissant de manteiga, queijo e fiambre do dia (aqui a malta trata-se bem) e Compal de pêssego para ajudar a empurrar. Bebi o sumo, o croissant teve de ficar a meio. “Se calhar devo mesmo é ir para a enfermaria”. Não consegui dar nem mais uma dentada, estava mesmo ansioso por conhecer o espaço.
Lá fui, fomos aliás, porque os meus companheiros de viagem fizeram questão em acompanhar-me e lá conheci a enfermeira Dilsa e a cama de onde não saí mais, até voltar para casa. O espaço era bem agradável, quatro paredes bem sólidas, uma secretária de trabalho, armários, enfim… Uma enfermaria de sonho, bem composta, capaz de fazer o gosto a qualquer aficionado.
Tinha 39 graus de febre, tremia que nem varas verdes, fiquei a saber que ingerir fiambre neste estado é… como dizer sem ser demasiado rude para comigo. É ideia de jerico, estúpido, vá. Lá dentro ouvia os gritos e gargalhadas dos visitantes. “Tolos, nem sabem o que perdem”. Chegou a hora de beber um pouco mais do delicioso soro caseiro (água com açúcar e sal, tirem as próprias conclusões)… Que maravilha é, que até faz arregalar os olhos e pedir por mais. Esperavam-me mais 3 garrafas para despejar, recheadinhas daquele néctar divinal.
Para quem não conhece o significado de sarcasmo, ironia e metáforas, que se informe. Debati-me como um valente durante várias horas, mas perto das quatro da tarde (a aventura começou lá para as onze e tal da manhã) a incansável enfermeira Dilsa conseguiu baixar a febre. Durante as horas em que lá estive, deu mostras de uma resiliência, dedicação e de um profissionalismo exemplar. Tanto que conseguiu evitar que tivesse de ir para o hospital onde provavelmente teria de pernoitar, a tantos quilómetros de casa.
À fantástica enfermeira Dilsa Dias, um enorme obrigado por me ter ajudado a voltar a casa em óptimas condições. A quem me viu, foi como passar da noite para o dia e de facto foi como me senti. Todos os conselhos foram seguidos e estou (quase) em plena forma. Aos meus companheiros de viagem aos quais infelizmente tive de encurtar toda esta experiência, as minhas desculpas. Por se terem prontificado a acompanhar-me de início ao fim, chegando a considerar o pior dos cenários (passar lá a noite), o meu obrigado!
O esforço de trazer um evento deste calibre a Portugal por parte da organização tem de ser elogiado. Apesar da nossa experiência no evento ter acontecido de uma forma diferente da grande maioria dos visitantes, a dimensão da Comic Con Portugal não nos passou despercebida. E se este ano, apesar de todas as condicionantes de uma primeira edição, já saímos de lá com um feedback muito positivo, a partir daqui o evento tem todas as possibilidades para crescer, almejar a grandes voos, e atrair novas e maiores celebridades do panorama mundial da cultura da TV, cinema, banda desenhada e dos videojogos.
Lá estaremos na Exponor para o ano para vos contar como foi… Já o nosso redactor Filipe Fernandes terá de cumprir todos os exames médicos antes de entrar novamente no carro da equipa da redacção WASD.
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