O futuro da Xbox One: Slim e Scorpio
Nesta feira E3 foi apresentada apenas uma nova consola Xbox One, de duas que já sabíamos estarem em produção, graças aos rumores que circularam dias antes da conferência da Microsoft. Para além da anunciada Xbox One S, há uma outra no horizonte, chamada Xbox One: Project Scorpio. E essa sim, pode vir a mudar o actual paradigma do “X verde”.
Ao longo da vida da Xbox 360, foram lançados três modelos. Desde a original, que teve ainda alguns modelos de outras cores e capacidades internas, surgiram mais duas consolas de menores dimensões a quem o mercado chamou carinhosamente de slims. A nova Xbox One S que irá ser lançada em Agosto, é isso mesmo, uma Slim. Só que, além do seu aspecto de menores dimensões, esconde um pequeno segredo.
Por debaixo do seu aspecto mais emagrecido em 40% e da nova cor branca (haverá outra também em preto), a consola será, ainda assim, tecnicamente superior à original Xbox One. E nem sequer falo da sua capacidade de fazer streaming de vídeo e reprodução de Blu-Ray em resolução 4K. Isso vale o que vale numa era em que os conteúdos 4K ainda são raros. Falo, isso sim, de uma pequena referência à nova tecnologia HDR (High Dynamic Range) que ajuda cores e luminosidade em jogos. Parece uma pequena novidade, mas não é.
Para ter essa nova capacidade, o GPU (unidade de processamento gráfico) teve de sofrer uma óbvia actualização. Não diria que o chip é novo, mas poderá ser uma nova versão. E, assim sendo, porque não mexer em mais alguma coisa que seja possível? Segundo Rod Fergusson, responsável pelo estúdio The Coalition em entrevista ao site Polygon, os jogos poderão até ter melhor performance na nova XBO S. Diz Fergusson que há uma “melhoria no detalhe das superfícies como metal e armaduras”, além de ter “uma performance mais consistente”. Fala-se, ainda, de “mais poder de GPU e CPU” não anunciado e que parece afectar a frequência de fotogramas por segundo (FPS).
Poderão dizer que Fergusson é suspeito por dirigir um estúdio interno da Microsoft e por estar a produzir um jogo exclusivo para a consola (Gears of War 4). No entanto, não seria de estranhar que a Microsoft aproveitasse a deixa e desse “mais sumo” na sua consola para ultrapassar a concorrência, nem que fosse por alguns milésimos na performance. Certamente será possível equivaler o mesmo jogo numa Xbox One e numa Xbox One S e tirar as nossas próprias conclusões. Até lá, no entanto, estamos todos a especular a avaliar as palavras de um produtor interino.
Contudo, a maior das revoluções virá sob a forma de uma outra consola Xbox One. Deliberadamente, não falámos da Xbox One: Project Scorpio aquando dos destaques desta última E3 2016. “Deliberadamente”, também, porque o vídeo em baixo não fez parte do press kit que nos chegou da conferência da Microsoft em Los Angeles. E um visionamento cuidado desta apresentação torna óbvio o motivo pelo qual a Microsoft decidiu não dar muito destaque à Xbox One Scorpio. Esta consola ainda não existe…
A Project Scorpio foi mostrada apenas como um conceito, um projecto para 2017. Não houve consola física para mostrar, apenas algumas palavras dos produtores a especular sobre as suas capacidades listadas e respectivas possibilidades, além de algumas imagens do que parece ser a nova motherboard da consola, filmada até à exaustão. Mas do que aí vem, graças aos dados mencionados, podemos já comentar e lançar algumas ideias e questões, tanto para a Microsoft, como para os criadores de jogos e, claro, para nós, os jogadores.
“Uma consola sem fronteiras e sem limitações”, é a premissa da Scorpio. 6 TFLOPS de capacidade processamento gráfico, reprodução nativa sem compressão para resoluções 4K, 8 cores de CPU e mais de 320GB de largura de banda para a memória. É isto que podem esperar desta próxima consola, embora, por enquanto, tudo não passe de uma lista de especificações teóricas, sem plataforma para mostrar na prática.
Comparativamente, parece que a nova Xbox terá quase o quíntuplo da capacidade total da actual consola. De 1.30 TFLOPs teóricos da actual Xbox One para 6 TFLOPs anunciados na Scorpio é obra. E para ter tanta largura de banda na memória é porque também terá um upgrade significativo na sua memória RAM, não só em quantidade como em velocidade (MHz). Dificilmente terá uma nova arquitectura no CPU da AMD, a não ser que a produtora de chips esteja a desenvolver algo novo em segredo. Contudo, quase de certeza que a nível de GPU irá receber algo parecido à recentemente anunciada Radeon RX480, cujo timing do seu anúncio pela AMD não parece muito inocente.
E onde está a concorrência? Ainda há dias a Sony confirmou a existência do projecto PlayStation NEO. Lá dentro, ainda menos se sabe o que virá, mas tendo em conta que a arquitectura no interior da actual PlayStation 4 é muito semelhante à Xbox One, ambas recorrendo ao APU Jaguar da AMD, não será de estranhar se a guerra de especificações não ficar por aqui. Até, porque, algumas dessas especificações da Scorpio parecem números “lançados para o ar” para responder a essa concorrência, que também não levou a consola à E3.
Mas, quem sabe, a pior das concorrências para a Scorpio… poderão ser mesmo as restantes Xbox One. Afinal, a actual consola tem uns meros quatro anos de vida (três em Portugal) e já neste Verão será lançado um novo modelo Slim, pelos vistos marginalmente mais potente. Anunciada para 2017, porém, a Scorpio será quase uma Xbox Two (quem sabe?). Assim, será encerrado o ciclo da primeira Xbox One num curto espaço de vida, lançando logo duas novas consolas, “rematando-a” para um canto. O anúncio de que os actuais jogos continuarão compatíveis na Scorpio parece ser uma lenta mão no pescoço na Xbox One actual, sussurrando-lhe: “chiu, vai terminar em breve…” Um pouco como aconteceu com o Kinect… lembram-se deste dispositivo?
Depois, há a ideia de que, se calhar, gastar 350€ na actual consola ou na Xbox One S deste Verão é uma péssima aposta. Pior, quem já tem uma Xbox One, caso queira tirar pleno partido dos videojogos que vão chegar para o ano, sobretudo para o mercado VR, vai ter de investir de novo. E isto coloca já a actual consola no estatuto de obsoleta. Mesmo quem queira fazer coexistir os modelos, terá poucas justificações para ter mais que uma Xbox se a Scorpio tem capacidade para tudo o que se exige de uma consola, inclusive com retrocompatibilidade com jogos da Xbox 360..
Há quem diga que a Microsoft está a tentar colmatar as falhas da sua consola, logo à partida (teoricamente) inferior à concorrente directa, PlayStation 4. Se assim é, um novo modelo é um tiro no escuro, muito possivelmente com o gatilho premido pelos produtores que pedem mais “sumo” do seu hardware. Afinal, a Sony também concluiu que precisava de uma nova consola e a tecnologia da informática avança a passos larguíssimos com advento do VR, bem além das capacidades das limitadas consolas.
Assim, a Microsoft pode não ter tido grande escolha senão abreviar o hiato entre produção de novos modelos Xbox ou perdia a corrida. A avaliar pelo estreitamento que está a promover entre Xbox One e os PCs com Windows 10, o futuro passará por uma linha cada vez mais ténue entre o PC e a consola da Microsoft (que já se nota no software). Será que, no futuro, PC e consola confundem-se? Avaliando a performance teórica da Scorpio, aproxima-se das especificações de um PC mediano actual, portanto, não será imediata essa confusão.
A questão primordial é saber se os jogadores querem esse estreitamento. Estarão os jogadores dispostos a comprar uma nova consola em tão pouco tempo no ciclo de vida do actual modelo? Esta é uma pergunta ainda mais pertinente, uma vez que, apesar dos custos associados à Scorpio serem ainda desconhecidos, para acompanhar essa tendência, o preço da consola, invariavelmente, terá de aumentar em proporção ao hardware mais potente. E todos sabemos que o que é novo se paga bem no mundo da informática.
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