Insólito – Difamação e abusos nos bastidores de Disco Elysium

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A produtora de Disco Elysium, a jovem ZA/UM, sediada no Reino Unido e com um escritório aqui em Portugal, no Porto, tem sido notícia nos últimos dias. Não por causa do jogo mas pelo que se passa nos bastidores.

Lançado há cerca de três anos, Disco Elysium é um interessante RPG criado e publicado pela própria ZA/UM, uma autêntica surpresa de popularidade e vendas. Infelizmente, foi um jogo que, por mais que tentássemos, nunca conseguimos analisar, acima de tudo, porque nem mesmo a sua filiação em Portugal alguma vez respondeu aos nossos apelos. Talvez o que se tem passado nos últimos dias seja um reflexo dessa aparente desorganização.

Tudo começou em Outubro passado, quando o fundador da produtora e editor de Disco Elysium, Martin Luiga, decidiu denunciar na plataforma Medium o que chamou de “dissolução da associação cultural da ZA/UM”. Basicamente, anunciou que ele e elementos-chave da produção (o designer principal Robert Kurvitz, a argumentista Helen Hindpere e o director de arte Aleksander Rostov) tinham deixado o estúdio no final de 2021 por “divergências”.

Divergências, essas, que teriam resultado num despedimento sumário no que Luiga afirma serem “falsas premissas”. De acordo com uma mensagem recente de Rostov, os actuais donos da produtora tomaram a empresa de assalto e assumiram ilegitimamente a sua direcção. Kurvits fala de “prevaricação financeira”, de conluio entre o CEO Ilmar Kompus e o produtor executivo Margus Linnamäe, despedindo estes elementos num processo alegadamente hostil e de “jogadas” entre empresas secundárias para justificar uma troca coerciva de poder.

Por seu lado, um artigo num jornal Estónio alega que Kurvits e Rostov tiveram justa causa nos despedimentos, por “gestão tóxica” do estúdio. O artigo chega mesmo a dizer que os dois elementos teriam “ilusões de grandeza” na sua posse da propriedade intelectual de Disco Elysium e que ninguém quis contratar a dupla depois da sua demissão. Ao site PC Gamer, a ZA/UM respondeu oficialmente por acusar Kurvits e Rostov de “abusos verbais”, “descriminação sexual” e “tentativas de vender ilegalmente a propriedade intelectual da ZA/UM”.

Quem terá razão, poderemos nunca saber. No entanto, a “lavagem de roupa suja” em público não fica bem a nenhuma das partes. Segundo o site GI.biz que cita uma fonte anónima, internamente as coisas estão muito tremidas, com o que a fonte chama de “esquemas” dos dois lados. Há agora uma intenção de levar tudo isto para tribunal, o que, com tantos “galhardetes” trocados, não é de admirar. A “guerra pela legitimidade”, pela ZA/UM e por Disco Elysium, parece só ter começado.

A principal vítima, claro, é o jogo. Um título aclamado pelos fãs e pela crítica, nos tops de vendas de vários locais por várias semanas, pode estar com problemas no horizonte, até mesmo uma sequela poderá ser colocada em causa neste momento. Os dois lados reclamam posse da sua propriedade e isso pode significar que, se os processos judiciais realmente avançarem, possam ser emitidas ordens judiciais, como providências cautelares ou mesmo embargos.

Sabendo que é o único jogo lançado pela ZA/UM, também deixa no ar uma preocupação pelo futuro do próprio estúdio, a braços com uma guerra de palavras que pode escalar para algo mais tangível. Embora seja sempre positivo falar a verdade e dar a conhecer realidades que, de outra forma, não teríamos oportunidade de saber, nunca é positivo ver este tipo de tricas. Colocam um foco errado em obras que nada deviam ter a ver com elas e, pior, põe em causa postos de trabalho.

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