Jogos que completam 20 anos em 2018: <br/> Half-Life
Este artigo pertence à rubrica “Jogos que completam 20 anos em 2018” que iniciámos na passada semana. Como bem se recordam, nestes artigos vamos abordar títulos que ajudaram a mudar o paradigma dos videojogos, celebrando o seu 20º aniversário neste ano.
São raros os jogos que são reconhecidos por revolucionar por completo a indústria. Este jogo foi um bom exemplo dessa capacidade único. No dia 19 de Novembro de 1998 foi lançado o ambicioso Half-Life. A sua história não se comparava a nenhum outro título do género na altura. E os rasgados elogios que recebeu, ajudou-o a tornar-se num jogo de culto. Hoje, ainda estamos à espera da conclusão do seu enredo continuado em Half Life 2, com um infame terceiro jogo que tarda em aparecer. Até que isso aconteça, vamos recordar como tudo começou.
O primeiro Half-life passa-se maioritariamente na Black Mesa Research Facility, um laboratório ultra-secreto que tem contrato com o governo para conduzir experiências secretas. Jogamos no papel de Gordon Freeman, um cientista da Black Mesa que, como é habitual, se desloca até ao seu laboratório para mais uma experiência. Contudo, a experiência desse dia é em tudo invulgar. Assim que entramos na câmara de testes e deslocamos a amostra para o centro do espectrómetro de anti-massa, dá-se uma série de acontecimentos que acabarão por nos conduzir a uma aventura realmente fantástica.
Toda a história de Half-Life é contada através dos olhos do protagonista. Os momentos mais importantes desenrolam-se mesmo à nossa frente através de sequências activadas através de alguma acção do jogador. Gordon Freeman é um improvável e silencioso herói. Durante toda a aventura, não espressa qualquer palavra, nem existe qualquer cena intermédia. A razão para esta lógica, segundo a própria produtora Valve, era evitar que Freeman influenciasse as opiniões de quem está a jogar, deixando que seja tudo interpretado por nós. Foi desta forma, que HL criou uma ilusão de estarmos no meio de toda a confusão e a tentar sobreviver enquanto conhecíamos todos os segredos da misteriosa Black Mesa.
Quando Half-Life surgiu, revolucionou não só com a sua jogabilidade, como também com um grafismo impressionante, aliado a uma apresentação cinematográfica. O jogo foi construído sobre o motor gráfico de Quake, mas a Valve modificou radicalmente a tecnologia, adicionando suporte para Direct3D e animações mais detalhadas nas personagens. A influência desse jogo da Id Software era clara, mas a Valve acreditava que os videojogos conseguiam oferecer mais do que um festim de balas. Por isso, decidiu explorar formas de suscitar emoções nos jogadores e entregar uma experiência verdadeiramente gratificante. O resultado ultrapassou qualquer jogo da época e definiu novos patamares para o género First Person Shooter.
As introduções dos jogos de acção da altura eram feitas com cenas intermédias cheias de explosões e heróis cheios de esteróides. No entanto, Half-Life quebrou por completo estas convenções. E isso é notável desde os primeiros segundos do jogo com uma introdução ao ambiente do jogo, feita através de uma pacata viagem numa carruagem do sistema de transporte de Black Mesa. Toda a ambiência conquistou-nos nestes primeiros minutos, uma agradável voz feminina a dar-nos as boas vindas durante a viagem, observando os empregados na sua lida diária, a arquitectura dos edifícios e os materiais perigosos espalhados por todo o lado, entre outros pormenores. A atenção ao detalhe ficava logo ali clara, através das janelas da carruagem suspensa a longos metros do chão. É um cartão de visita perfeito para o resto do jogo.
Outra convenção que foi radicalmente repensada, foi a forma como os jogo se dividia. O complexo de Black Mesa e todos os outros locais que visitamos em Half-Life, não estavam espalhados ao longo de vários níveis mas, sim, num mundo persistente, onde era possível voltar a diversos locais em algumas partes no jogo. A primeira parte, leva-nos a este universo com o simples objectivo de procurar e vestir o famoso fato laranja para, logo de seguida, ir fazer a tal experiência. Ao longo desse caminho, vamos cruzando com vários guardas e cientistas na sua rotina diária e isso ajuda a criar uma ligação emocional para quando as coisas correrem mal.
Depois das várias explosões e teleportes inexplicáveis resultantes da experiência, extraterrestres invadem o laboratório e começam a matar todos os empregados. Uma equipa de Marines é enviada para tentar evitar a invasão, mas também eliminar quaisquer testemunhas. Teremos, então, a árdua tarefa de tentar sobreviver e chegar à superfície para pedir ajuda. Os inimigos estão divididos em duas categorias: Humanos e extraterrestres. Enquanto que os extraterrestres não são muito brilhantes, os soldados procuram protecção durante os tiroteios, chamam reforços e tentam flanquear o jogador. Para os combater, Freeman tem à sua disposição um arsenal composto por armas de fogo e outras mais futuristas desenvolvidas pela Black Mesa, além de algumas armas orgânicas dos alienígenas.
Half-Life foi apresentado pela primeira vez em 1997 na Electronic Entertainment Expo, hoje conhecida por E3, sendo finalmente lançado no ano seguinte. O título atraiu a atenção de muitos fãs a nível mundial, tendo despertado também o interesse da imprensa especializada. Muito rapidamente garantia o seu lugar como um dos melhores jogos de acção de sempre. O seu sucesso comercial garantiu ainda um espaço no livro do Guinness World Records como um dos mais bem sucedidos jogos de acção na primeira pessoa de todos os tempos.
Depois do grande sucesso do original Half-Life, a Valve continuou a trabalhar no seu projecto, lançando duas expansões que ajudaram enriquecer ainda mais a história. A primeira, foi intitulada Opposing Force e colocava-nos no papel dos soldados enviados para eliminar todas as testemunhas do acidente e a segunda expansão. Depois, surgiu Blue Shift que nos deixava vestir a farda do polícia Barney com que nos cruzamos na história original. Os acontecimentos destas expansões estavam ligados à história principal de forma paralela. Querendo com isto dizer que, se se cruzassem com Barney no jogo principal, também iriam cruzar-se com Gordon Freeman nesta expansão.
Mas o pináculo do sucesso da produtora, deveu-se à estratégia de distribuir a sua ferramenta de produção Worldcraft que a própria Valve usou para desenhar o seu jogo. Foi distribuída com o objectivo de encorajar os produtores independentes a criar os seus próprios mapas multijogador. Tal como no caso de Doom, esta estratégia revelou-se muito popular, levando a febre dos mods para outro nível. Alguns dos mapas criados pelos utilizadores ajudaram mesmo a definir os pilares de futuros jogos como Counter-Strike, Day of Defeat ou Team Fortress.
Seis anos mais tarde, em 2004, o jogo recebeu uma sequela igualmente bem sucedida. Half Life 2, por sua vez, originou uma série de expansões lançadas de forma episódica. Contudo, conforme já mencionámos, todo o enredo criado pelos dois jogos da série, inclusive com as suas expansões, nunca foi realmente completado. Os arcos de história terminaram de forma abrupta, deixando para trás demasiadas perguntas que ainda hoje estamos à espera de serem respondidas. É recorrente vermos comentários e memes relacionados com um hipotético “Half Life 3” que a Valve parece relutante em lançar.
A Valve está hoje em dia mais virada para a gestão da sua plataforma online Steam. No entanto, há 20 anos atrás estava bem longe de ainda pensarem no Steam. Esta produtora queria deixar a sua marca na indústria com o seu primeiro jogo. Indiscutivelmente, conseguiram. O seu título foi uma obra-prima que estabeleceu novos patamares para os First Person Shooters. Curiosamente os fãs de mods ainda hoje continuam a trabalhar com o jogo original nos dias que correm, seja na versão original, seja numa outra versão entretanto adaptada ao motor gráfico Source, lançado pela produtora em 2004.
Para além do PC, o primeiro Half-Life foi lançado também na PlayStation 2 em 2001. Hoje, está disponível na sua versão original ou Source via Steam por 9,99€. Na mesma plataforma, existe também o remake Black Mesa, criado de raiz por fãs com o motor gráfico de Half-Life 2, este com um custo de 19,99€.
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