Lisboa Games Week – A Feira
Os eventos relacionados com videojogos no estrangeiro, são autênticas festas da celebração do jogo como fonte de entretenimento. Em Portugal, apesar de muitos esforços no passado, os eventos relacionados com este meio sempre ficaram aquém das espectativas. LAN Parties como a XL Party ou exposições já não chegam para os gamers Lusos. Talvez a Lisboa Games Week que decorreu este fim-de-semana seja o primeiro passo para um evento daqueles que nos encham as medidas!
O espaço escolhido, a Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações na Capital, é um local habitual para este tipo de eventos. No passado recente, a XL Party teve lugar no mesmo recinto. Tem como trunfos os fáceis acessos (comboio, metro, autocarro e automóvel), os vários espaços de restauração nas proximidades e outras vantagens. Talvez seja um pouco remoto para algumas pessoas mas é, sem dúvida, central e acessível. Uma boa escolha, quanto a nós. Talvez uma nota mais negativa para o fraco estacionamento e preços dos respectivos parques pagos, mas esse é um problema de toda a cidade de Lisboa.
O uso de um só pavilhão também é bem-vindo, a bem da facilidade de passeio pela exposição. Era, no entanto, inevitável dada a pequena quantidade de expositores e a enormidade do espaço. Uma nota negativa, porém, é o facto dos espaços de restauração tipo quiosque no interior ocuparem demasiado espaço e estarem lado a lado com expositores e eventos. Não é inédito noutras feiras isto acontecer, mas também não se entende porque não foram criadas divisões para estes espaços. Achámos uma manobra de preenchimento do espaço e um aproveitamento das circunstâncias, já que não era possível sair do recinto e voltar com o bilhete pago. Se tinham fome ou sede e não podiam sair do espaço, tinham de recorrer a estes quiosques, alguns entre os pavilhões, e ser cobrados valores absurdos pelas mais pequenas coisas. 1€ por um péssimo café, é um roubo.
Falando de preços, todo o comum mortal que visitou o evento teve de adquirir um bilhete na ordem dos 7€. Este bilhete, como já dissemos, não conferia liberdade para reentradas e só dava acesso a um dos quatro dias. O preço do bilhete não era elevado, honestamente. Talvez até uns 10€ fosse aceitável pela qualidade dos expositores que já vamos falar. Em termos de necessidade de cobrança de admissão, só a organização poderá justificá-lo. É perfeitamente normal e lá fora os preços são bem mais elevados.
Agora, o que nos faz sempre reflectir é o direito de admissão. E não, não estamos a falar de haver um “bouncer” a escolher quem entra, com bilhete pago toda a gente pode entrar. Estamos a falar das idades de admissão. Hoje em dia, entidades como a PEGI fazem o seu trabalho para ajudar os pais de menores a escolher jogos para os seus filhos, limitando o seu acesso a crianças ou adolescentes, cujas idades são mais susceptíveis de influência. Uma vez mais, no evento desta dimensão, foi lamentável ver crianças que nem chegavam aos comandos assistirem a cenas de violência, pancadaria ou pior.
Alguns expositores podem ter dificuldade em gerir isto, sobretudo em momentos de grande afluxo de visitantes. Soubemos que a Sony Playstation, por exemplo, orientou os seus colaboradores para esta restrição. Por outro lado, não há desculpa nenhuma a dar aos pais que não só acompanharam os pequenotes, como ainda os incentivaram a jogar. Para a memória fica um pai anónimo a explicar ao seu filho, não tendo mais de 8 anos, como se matavam zombies com todos os pormenores macabros. Cada um tem o direito e o dever de educar os seus filhos como achar melhor. Mas, se calhar, se o acesso fosse mais restrito não haviam situações destas.
Cabe à organização deste tipo de eventos, no entanto, zelar para que as leis sejam cumpridas. E se o IGAC – Inspecção Geral das Actividades Culturais, tem tanto trabalho em obrigar a colocar selos com classificação etária nos videojogos, algo único no mundo (só Portugal o tem), então não entendemos porque se deixam crianças ter acesso a estes jogos. Das duas uma: ou se restringe o acesso em faixas etárias ou obriga-se a ter áreas fechadas para jogos mais violentos. Sigam o exemplo da Capital Games que fechou a área de Evil Within.
No que diz respeito à qualidade da exposição, temos de louvar a vontade da organização em trazer mais e melhores expositores. Julgamos que este foi o único evento em Portugal com esta dimensão e com apresentação de títulos e unidades para teste tão vastos e interessantes. De menor relevância, digamos até, de menor interesse foram os espaços dos patrocinadores. Apesar do esforço da Worten, NOS e CTT, achámos que os seus espaços estavam colocados em áreas demasiado largas e demasiado destacadas, para a oferta que proporcionavam. Ter jogos casuais e até divertidos nos seus stands, apenas serviram para desviar atenção. O foco, porém, deveria estar nos grandes expositores que deram nome ao evento, por mais importante que seja dar o devido espaço a patrocinadores. Mas nem foram estes os stands mais inusitados.
Iniciámos a nossa visita logo pela esquerda, assim que se entrava no recinto. Não havia propriamente uma ordem, apenas éramos guiados pelo nosso interesse nos jogos publicitados. Assim, pelo lado esquerdo, encontrámos o primeiro expositor com uma série de jogos interessantes e uma surpresa.
Começando com os expositores de videojogos, a Capital Games (InfoCapital) trouxe diversos postos com os seus títulos. Além de diverso hardware para gaming, com destaque para os produtos Thrustmaster, foi o rei Grand Theft Auto V que deve particular interesse dos visitantes, mas a Capital tinha outros trunfos. Evolve tinha enorme destaque com um poster gigante e havia uma surpresa… Quem lá passava via que algumas pessoas entravam numa área reservada… mas não saiam! Havia um portal de horror, devidamente guardado pelo staff da Capital com um avental ensanguentado e facas. Conforme poderão ver nas imagens, não se quereriam meter com a Maria João de Basto, responsável pelo marketing e relações públicas da distribuidora, armada com um valente cutelo. Tudo isto servia de mote para a demonstração no interior do jogo de terror Evil Within. Uma excelente forma de criar suspense e, ao mesmo tempo, garantir que os mais susceptíveis não ficassem expostos à cenas macabras do jogo da Bethesda Softworks.
Continuando a nossa visita pelo evento, passando o stand do patrocinador Worten, chegávamos a um espaço fechado que não enganava ninguém. Tratava-se do stand da Upload Distribution que, lá dentro tinha duas surpresas.
Fizemos uma interessante reportagem da nossa experiência tanto com o fantástico Mortal Kombat X, que com seis meses de antecedência foi uma demo exclusiva para Portugal, e também destacámos o genial novo jogo de acção na primeira pessoa contra zombies de nome Dying Light. Além deste stand a Upload teve ainda um pequeno espaço dedicado aos mais pequenos com LEGO Batman 3 – Beyond Gotham que está prestes a ser lançado.
Nunca é demais enfatizar o esforço de João Campos e a sua equipa da Upload Distribution com os títulos da Warner Brothers e não só. Notem que estes jogos estiveram com enorme antecipação, sobretudo MKX em exclusivo para nós, em consolas Playstation 4 “debug” e PCs artilhados topo de gama, para que a experiência fosse somente a melhor.
O espaço da Sony Playstation foi, sem dúvida, um dos mais concorridos. Logo na frente estavam três colossos para chamar a atenção: O shooter do momento Destiny e os dois rivais de futebol FIFA 15 e PES 2015, frente-a-frente. Mas havia mais, muito mais. Diversos postos estavam devidamente dedicados a Drive Club. O fantástico Audi R8 vermelho chamava bem à atenção. De notar, porém, que nem todos os espaços tinham volante, alguns apenas o Dualshock 4 estava presente para jogar. Mesmo assim, todos tinham cadeiras de competição para experimentar o arcade de condução da Sony. Do outro lado, estava um gigante exclusivo, The Order 1886 em três postos, devidamente guardados dentro de um contentor. Grande jogo.
E não acabou aqui o destaque. Na traseira destes grandes jogos estavam diversos jogos de destaque. Desde o fantástico LittleBig Planet 3 que acompanhámos a apresentação aqui, diversos postos do simpático Singstar e outros jogos casuais, estavam lá dois grandes jogos em demonstração: De um lado Bloodborne fez as nossas delícias com o seu fantástico grafismo e jogabilidade, do outro, o jogo de terror Until Dawn. Ambas demos exclusivas Playstation, sempre muito concorridas!
O espaço Playstation esteve sempre muito concorrido, ora não fosse esta a marca do momento um pouco por todo o mundo. Novos títulos e novas continuações, inúmeros postos de teste no espaço azul.
Mesmo ali no meio estavam duas organizações que tem cada vez mais destaque neste tipo de eventos, pelas razões lógicas. A Restart e a ETIC possuem cursos de videojogos, que cada vez têm mais adesão. No caso da Restart temos dois jogos prestes a ser comercializados: Between me and the Night e Munin. Ambos em grande destaque para qualquer um experimentar e perceber o potencial destes cursos.
A Namco Bandai, em conjunto da Electronic Arts, decidiu colocar um espaço enorme e central com diversos pontos de experimentação de jogos novos e algumas demos inéditas. Destaque lógico para FIFA, jogos nipónicos da chancela Naruto e Dragon Ball, sempre cheios e outros jogos como Formula 1 2014, Moto GP, Lords of the Fallen, Project CARS (boa surpresa), entre outros. Não gostámos de ver lá como destaque Witcher 3, esse RPG tão esperado, uma vez que de destaque só estava uma televisão a correr o trailer que já falámos aqui. De certa forma é publicidade enganosa, sem dúvida desapontante.
Pior de tudo neste espaço da Namco/EA, quanto a nós, foi mesmo a dimensão em altura do stand. Se este stand estivesse num canto ou numa lateral, o facto de estar montado em altura, não daria lugar a qualquer tipo de comentário. O que acontece, porém, é que este stand esteve montado mesmo no meio da feira, logo em frente à porta. Gigante em altura, tapou todos os outros stands e tirou visibilidade tanto à Sony Playstation como à Microsoft e todos os outros que estavam por trás, criando um espaço morto na sua traseira, uma vez que o auditório estava atrás. Isto é um problema de organização de espaço e visibilidade que, se calhar, a Namco/EA até é alheia. Estamos certos que o espaço foi dado pela organização, assim como as restrições em altura ou visibilidade.
A Microsoft foi outra empresa em grande destaque no evento. Com a Xbox One cheia de ganas para entrar com força no nosso mercado, os títulos disponibilizados pela Microsoft são de meter inveja a qualquer um: Sunset Overdrive, Forza Horizon 2 e Halo: Master Chief Collection ocuparam o devido destaque. Mas foi o espaço do Kinect que mais encheu nos dias do evento. É incrível como o jogo de dança Dance Central: Spotlight atraiu tanta gente para dar um passinho de dança, de todas as idades e sexos, aquela Xbox One nunca parou!
Noutros espaços estiveram diversos jogos exclusivos como Forza Motorsport 5, Ryse: Son of Rome ou Dead Rising 3, mas também houve lugar para outros grandes jogos de teste na consola verde como Call of Duty Advanced Warfare ou FIFA 15.
Quanto a nós, o espaço da Microsoft foi o melhor em termos de arrumação e espaço para jogar. Muito bem organizado e com inúmeras consolas a jogo, o trabalho de Alexandre Mestre e a sua equipa de Marketing da Microsoft é de louvar. Uma outra curiosidade para assinalar foram os diversos comandos Xbox One que surgiam em diversos postos para teste, inclusive nos próprios indies, quando se tratava de experimentar jogos com o uso de um game pad.
Notámos a clara falta de outras grandes marcas como a Nintendo, por exemplo. A marca nipónica esteve presente com algumas consolas para teste em uns quantos stands com Super Mario 3D World e super divertido Mario Kart 8, mas a julgar pelo enorme sucesso da marca por cá, seria de esperar um stand próprio com os seus exclusivos, talvez o novo Super Smash Bros. da Wii U ou o Bayonetta 2.
Depois de todas estas grandes distribuidoras e produtoras de jogos, haviam diversos espaços relacionados com Hardware. Algumas lojas de venda estiveram na FIL a fazer representação dos seus produtos e a vendê-los a preços convidativos. De assinalar a presença da patrocinadora do evento a ASUS com um palco onde se jogaram diversos jogos em torneio, com direito a relato e tudo, mas também da Cooler Master que colocou à disposição dos visitantes os seus computadores artilhados e alguns exclusivos que falamos aqui.
Num simpático canto estava a malta retro! O WASD perdeu (ou ganhou, depende como queiram interpretar) imenso tempo a jogar alguns dos jogos que nos preencheram a infância. Pong e clássico Doom faziam as delícias dos mais velhos, mas o recinto tinha muito mais consolas para agradar a todos os fãs de retrogaming.
The Games Detectiv, deslocou todo o seu espólio para que os visitantes, incluindo a equipa do WASD, pudesse jogar nas suas consolas, entre elas podiam encontrar Amiga CD, Amstrad, Spectrum, enfim era uma panóplia de consolas, todas ligadas e prontas a jogar.
Já que falámos de retro não podemos deixar de falar do “The Arcade Men“. Como o nome indica, este é o homem que devem falar, se um dia tiverem dúvidas sobre arcadas. Ele constrói arcadas do zero e recupera arcadas danificadas – ao ponto de recriar as ilustrações para ficarem como as originais.
No recinto, podiam ver dois dos seus grandes trabalhos: A sua incrível arcada com Mortal Kombat 9, criada totalmente de raiz e as motas Tron com Oculus Rift, criadas de propósito para o evento CodeBits da Sapo, onde teve apenas um mês para idealizar, criar, montar e desenvolver o jogo em paralelo com outra empresa. Como podem ver pelas fotos, foi a grande atracção do evento.
Depois de arrancarmos o nosso redactor retro Ivo Pereira do Doom, continuámos a nossa visita entre os vendedores de memorabilia, merchandise e coleccionáveis dos nossos amigos da Spawn Point – Gaming Lounge, na pessoa de Jorge Serra, com imensas edições especiais de jogos que fazem as delícias de qualquer coleccionador. Mais à frente, lojas de artigos de merchandise, comics e videojogos em segunda-mão. Destaque para os talentosos artistas de Manga da revista Banzai, que estavam a fazer as delícias dos fãs com diversos artigos desenhados pelos seus colaboradores, como t-shirts, por exemplo.
Um espaço obrigatório para os fãs de jogos de mesa é sempre a área de Magic The Gathering, também sempre concorrida nesta série popular. Havia pelo meio, ainda, a empresa StandVirtual que julgamos estar ali um pouco fora do seu meio, uma empresa que nos trouxe plataformas de filmagens em helicópteros telecomandados e até uma empresa dedicada à venda de apontadores laser. Talvez seja necessário, porém, organizar esses últimos stands de menor relevância (com todo o respeito, mas o ênfase são os jogos) e colocá-los em áreas específicas, ao invés de serem colocados de improviso entre merchandise e outros, negligenciando um pouco os Indies que estavam logo atrás destes.
Num stand, também muito concorrido, estiveram nos quatro dias diversos Youtubers que dedicam o seu tempo a falar online dos videojogos que se dispõem a demonstrar ao vivo. O termo Youtuber aplica-se aos que possuem um canal no serviço Youtube e publicam vídeos de análise, opinião ou simples jogabilidade. Alguns destes gamers possuem uma dimensão que atinge níveis de popularidade fenomenais, dignos de estrelato televisivo ou desportivo. A prova é a enorme camada de fãs que fazem filas só para os cumprimentar e receber o desejado autógrafo ou a selfie com o Youtuber preferido.
Num dos canto do recinto, estavam presentes várias produtoras portuguesas que tiveram a oportunidade de falar e receber feedback com o consumidor final: os jogadores.
A nossa visita pelas produtoras independentes foi orientada pelo Ivan Barroso, que nos guiou e apresentou às produtoras portuguesas, que desejam vingar na indústria. Os jogos que experimentámos, não deixam marquem para dúvida, temos excelentes jogos que são capazes de se destacar sem qualquer problema no mundo dos jogos.
Temos de assinalar por fim, o perfil do visitante no espaço. Não é possível que todos os visitantes sejam iguais. Há pessoas mais ou menos civilizadas em qualquer evento, sejam quais forem as faixas etárias. Neste caso o Lisboa Games Week terá um apelo mais interessante para os mais jovens. Notámos o entusiasmo de muitos jovens pelos jogos do momento de desporto ou acção e um interesse algo reduzido pelas categorias portáteis, retro ou indie. Julgamos que é normal, dada a publicidade e dimensão tão diferentes entre os géneros. O Cosplay foi uma interessante presença em todos os dias, sobretudo durante os passatempos criados pela organização. Lá fora, o Cosplay atinge proporções muito maiores, mas temos de entender a nossa realidade e o poder de compra para adquirir/criar fatiotas mais caras. Mesmo assim, algumas pessoas foram vestidas a rigor.
Veredicto do Evento
Queremos mais! O espaço e a dimensão da Lisboa Games Week deste ano foi brilhante, a oferta foi muito boa e a organização esteve muito bem. Algumas questões de ordem técnica e organizacional precisavam ser revistas, sobretudo ao nível da disposição de stands e visibilidade. Mas foi o primeiro evento do género. Para o ano, se tudo correr bem, haverá outro evento com o mesmo nome.
Quem esteve num ou mais dos quatro dias pode experimentar os melhores jogos do momento, as melhores plataformas e ainda pode conviver com amigos e conhecidos, conhecer gente nova e até experimentar novas experiências. Ao contrário da XL Party, antecessora deste evento, o foco não foi uma Lan Party com exposição, mas sim a própria Exposição, afinal o que sempre atrai as visitas. Embora tivessem havido alguns torneios, a informação foi sempre algo escassa e apenas os eventos no palco tiveram direito a anúncio sonoro. Mais participação dos visitantes seria interessante.
Por último, queremos agradecer à organização do Lisboa Games Week, na pessoa de Lourenço Soares e Pedro Silveira, toda a ajuda prestada ao WASD para que pudéssemos cobrir o evento. Até para o ano.
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