PlayStation Portal, uma cara opção a uma segunda televisão
A utilidade do PlayStation Remote Play ou qualquer outra variante noutra plataforma, é obviamente subjectiva. O PlayStation Portal pode ser uma óptima solução para uns ou uma inutilidade para outros.
O conceito deste comando DualSense literalmente partido em dois pedaços com um ecrã encaixado no meio, é bastante claro. Numa casa em que a PlayStation 5 está instalada na sala, onde geralmente a Televisão é o centro de tudo, quando estamos a jogar ninguém mais pode usar a televisão. Por outro lado, quando precisamos de privacidade a jogar, ir para outra divisão nem sempre é possível e, mesmo que seja, levar a PS5 atrás não é prático. É para estas situações que serve o PS Portal. Não, não é uma consola portátil como foi a ida PlayStation Vita ou a PlayStation Portable (PSP). Este é, apenas e só, um comando glorificado com um generoso ecrã embutido, fazendo frente a várias outras plataformas para jogar remotamente, algumas de uso bem mais amplo. Esta, por seu lado, é exclusiva da PS5 e precisarão da própria consola ligada em rede, usada exclusivamente pelo comando. Se já estão desapontados, preparem-se.
Neste momento, para jogar Remote Play com uma PlayStation 5, podem fazê-lo na mesma rede interna num PC ou até num Smartphone, desde que configurem tudo como deve ser e possuam um comando DualSense preparado para o efeito. O que o PlayStation Remote permite é fazê-lo numa unidade dedicada, que já inclui o comando em si e tem um ecrã ideal para espaços confinados. Termina exactamente aí o que o dispositivo pode fazer, embora esteja muito convicto que muitas pessoas não perceberam isso quando foram comprá-lo nas lojas durantes as campanhas recentes da Black Friday, esgotando rapidamente o dispositivo. Não me parece que todos os compradores perceberam exactamente o que este comando glorificado fazia.
Não ajuda muito que a Sony Interactive Entertainment Portugal não permitisse grande acesso ao dispositivo, nem que fossem feitas muitas análises concretas às suas capacidades, pelo menos por cá. Praticamente o mesmo que fizeram com o PSVR 2 e com outro comando de preço elevando, o DualSense Edge. Talvez a SIE pensasse que era perfeitamente intuitivo o que o dispositivo faz mas, honestamente, vendo a Steam Deck ou a ASUS ROG Ally por aí, observar uma “consola” da PlayStation por 219,99€ na prateleira é, no mínimo, tentador. Como sempre, é preciso ler as letras pequenas. Mas, aqui estão outras letras bem grandes para que saibam exactamente o que vos espera com o PlayStation Portal.
O que estão a fazer com este comando é, literalmente, controlar a PS5 remotamente. Não podem usá-lo independentemente, por exemplo desligando a consola ou saindo da rede interna onde está a PS5. Não podem usar este comando como um “segundo utilizador” com outra pessoa a interagir como outro perfil na consola. Não podem instalar jogos ou aplicações próprias, uma vez que a unidade não possui armazenamento dedicado. Também não o podem usar em nenhum outro dispositivo ou consola (até que alguém o consiga, claro). Subitamente, o preço do dispositivo parece francamente caro para o que, efectivamente, é um comando com um ecrã acoplado.
O apreço pelo design do dispositivo, claro, depende dos gostos individuais de cada um. A ergonomia do comando DualSense é conhecida mas tomem nota que aqui as pegas laterais são ligeiramente menores. Não deixam de ser confortáveis mas requerem algum hábito. Pessoalmente, gosto bem mais deste design que o das consolas portáteis convencionais, incluindo a Nintendo Switch com os seus joypads acoplados. Conforto garantido, porém, o design é, ainda assim, muito estranho. A base dos sticks analógicos parece mal pensada quase em cima do ecrã, fazendo que o próprio ecrã pareça algo “afundado” no dispositivo, seria um pouco melhor se o comando fosse ligeiramente mais espaçado para acomodar melhor o ecrã.
A ligação com a PlayStation 5 é relativamente simples, necessitando de uma primeira configuração dentro da mesma rede wireless (a consola pode estar ligada por cabo), provavelmente necessitando de um pequeno update de firmware antes de poder ser usado. Em termos práticos, o que estaremos é a fazer stream de vídeo da consola para o dispositivo, enviando sinais de controlo pela mesma ligação. Assim sendo, como imaginam, a sua eficácia varia muito de acordo com a qualidade da rede wireless aí em casa. Nos meus testes, o dispositivo funcionou sempre relativamente bem, notando algumas quebras pontuais de performance e umas quedas de ligação sempre que estive mais longe do router wireless. Enfim, algo esperado.
É preciso notar que este comando remoto possui um ecrã LED (não é OLED) de 8 polegadas com uma resolução de 1080p. Seria tecnicamente impossível algo melhor em termos de resolução mas a qualidade de contraste e brilho do ecrã podia ser um pouco melhor, especialmente em frente-a-frente com um televisor 4K com HDR. Obviamente, duvido que um utilizador deste comando esteja muito atento a estes detalhes de qualidade, bastando-lhe algo digno para simplesmente jogar noutra divisão. A experiência visual derradeira da PlayStation 5, obviamente, será sempre num bom televisor ou monitor 4K com HDR, 120Hz e refrescamento variável (VRR). Isto é só um compromisso de portabilidade com um visual aceitável.
Até porque alguns jogos não foram feitos para correr num ecrã tão diminuto ou para jogar remotamente. As principais questões têm a ver com o tamanho de algumas letras ou detalhes em jogo. Por vezes, por causa da dimensão tão reduzida e por causa do tamanho dos pixéis do monitor, algumas letras ou pormenores parecerão indefinidos ou até pixelizados. E não me façam falar das enormes latências nos controlos e nas respostas. Será algo que quem já joga remotamente, por exemplo, num smartphone já estará habituado. O ecrã é táctil mas é uma funcionalidade dispensável, já que muitos jogos não estão adaptados ao seu uso, limitando a sua utilidade ao também pouco usado touchpad do DualSense, faltando-lhe o célebre botão embutido que é substituído por um “duplo toque” que nem sempre funciona muito bem.
Mas há mais detalhes que saltam à vista e que parecem uma clara falha no conceito. Um detalhe muito evidente e que frustra um pouco é a falta de um menu da própria consola, algo que nos dê uns indicadores de bateria, volume, etc. Actualmente, obriga-nos a usar o botão PlayStation para abrir o gestor de dispositivos na própria PS5. Mas, nem é esse o pior detalhe. O pormenor mais irritante é que não podem usar o comando sem fazer primeiro login na PlayStation 5. Sim, precisam ligar a televisão, usar um DualSense normal para fazer login e só depois é que podem podem usar este dispositivo. Não faz lá muito sentido, digo eu. É possível que no futuro as lógicas mudem com actualizações de software mas, por agora, isto é um empecilho.
O detalhe que será o mais divisor de todos é sempre a duração da bateria. Com uma composição interna tão simples, a duração é, no mínimo estranha. Já sabem que o DualSense tradicional não é propriamente muito duradouro mas, dado o objectivo deste novo dispositivo e do espaço interno para a sua bateria, seria de esperar uma óptima duração, certo? Mais ou menos. Nos testes efectuados, a bateria durou umas 7 horas entre carregamentos. Segundo a Sony, a duração é variável entre 5 a 12 horas, contando para isso a intensidade do ecrã ou o uso dos LEDs embutidos, das funcionalidades hápticas ou do áudio via ligação jack 3.5mm. Contudo, não consegui mesmo “esticar” a utilização do comando até essas 12 horas anunciadas.
Pensem bem: um ecrã, com um comando com feedback háptico e uma placa wireless interna, usando uma bateria que ocupa uma boa parte da traseira, dura praticamente o mesmo que uma Nintendo Switch OLED, com processamento e armazenamento próprio e que ainda carrega dois comandos independentes. A explicação mais provável para este consumo considerável é que o ecrã LED tem uma resolução mais elevada que na consola da Nintendo (720p na Switch) mas não sei se é uma justificação tão “de caras”. O mais provável é que a bateria interna não seja assim tão eficaz. Graças ao youtuber Jacob R que abriu um destes dispositivos, vemos como a bateria ocupa quase metade da dimensão do ecrã, o que dá que pensar.
Se, mesmo assim, estão interessados em comprar o PlayStation Portal, é bem provável que não o encontrem à venda. Ao contrário dos milhares de consolas PlayStation 5, tantas que as lojas preferem nem vender PlayStation 5 Slim antes de escoar o stock, a SIE, por qualquer motivo, decidiu enviar muito poucas unidades do PS Portal para as lojas. Resultado: esgotou rapidamente. É possível que a SIE não antecipasse grande procura pelo dispositivo. Por outro lado, como já disse, acredito que muita gente o comprasse pensando que era uma consola portátil. Seja como for, a raridade deste dispositivo não deve ser entendida como um real sucesso. É mais uma questão de stock desajustado para uma época festiva. Esperem um pouco ou encomendem-no via PlayStation Direct. Pelo menos, agora já sabem o que é… e o que não é.
Veredicto
Para jogar remotamente na PlayStation 5, podem fazê-lo num PC ou num smartphone. A alternativa é comprar o PlayStation Portal por 219€, quase o preço de uma consola portátil… sem ser um consola portátil. É só um comando com um ecrã embutido e que possui várias limitações e compromissos de uso que o tornam algo falível. Preferia que a Sony investisse numa consola “mais a sério” com capacidades de fazer stream via PlayStation Plus ou, então, um comando remoto um pouco mais autónomo e que não fosse tão dependente da própria consola. Assim como está, é um tanto redundante, com um papel muito específico, diria mesmo restritivo. Só espero que os que esgotaram o comando nas primeiras semanas saibam bem o que compraram.
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