Simuladores – Heatblur Simulations DCS: F-4E Phantom II

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Depois de nos dar uma das melhores simulações no DCS World com o seu DCS: F-14 Tomcat, eis um novo histórico da Heatblur Simulations. O DCS: F-4E Phantom II estabelece uma nova fasquia de qualidade ao simulador.

Entre os aviões mais icónicos da história da aviação, alguns destacam-se pela polarização que criaram. Há quem ache o McDonnell Douglas F-4 Phantom II uma aeronave belíssima, como há quem o ache absolutamente horrível. O design, de facto, é divisor mas a sua utilização e operação ao longo da história da aviação é inegavelmente vasto, rico em eventos marcantes, novos recordes, novas tecnologias e, claro, alguns episódios caricatos. Sabiam que, certa vez, o F-4 Phantom II chegou mesmo a “empurrar” outro no ar? Estas e outras peripécias, num dos aviões mais produzidos de sempre pelo arsenal norte-americano, tornam o Phantom II um avião lendário, um “canivete-suiço” no pleno sentido, que fez de tudo um pouco… até de alvo aéreo (QRF-4C). Agora, está na altura de o revisitarmos no DCS World.

Como sempre, antes de falarmos na simulação, um pouco de História. O F-4 Phantom II foi uma aeronave produzida em 1958 e 1981, entrando ao serviço com as suas variantes nas forças aéreas e marinhas de vários países, com óbvio destaque para os EUA. É talvez das aeronaves mais conhecidas do conflito do Vietnam, uma era que levou a imensas inovações tecnológicas que o Phantom II liderou no desenvolvimento. Foi originalmente concebido para ser um misto entre caça supersónico e bombardeiro, mas cedo provou ser capaz de fazer tudo o resto. A sua fiabilidade operacional teve poucos rivais, sendo removido muito lentamente do serviço no início dos anos 2000 mas ainda estando ao serviço da força aérea Iraniana (ao lado dos seus Tomcat) e só neste ano a Força Aérea Coreana planeou a desactivação.

Em tempos, até mesmo a mítica patrulha acrobática Thunderbirds da USAF os levou aos céus para mostrar as capacidades únicas da aeronave. Mas, não é que fosse um primor de acrobacia. A dada altura o Phantom II recebeu a pouco prestigiante alcunha de “Flying Brick” (ou “Tijolo Voador”) dada a antipatia que os pilotos tinham do seu comportamento em voo. Contudo, ao longo do tempo a McDonnell Douglas viria a melhorar substancialmente o controlo da aeronave, adicionando várias modificações aerodinâmicas. Até mesmo um canhão foi adicionado à fuselagem, num badalado recuo no conceito que os aviões daquela era já não precisavam de um, dado que os mísseis eram tão “eficazes”. A guerra do Vietnam provou o contrário e o Phantom II adaptou-se.

O Phantom II entraria para a história também como um recordista, estabelecendo recordes de velocidade, altitude, duração de voo, velocidade média, entre outros. Foi também uma plataforma revolucionária, já que estabeleceu um modelo de conceito e distribuição nos vários ramos das forças armadas, algo que ainda hoje tem poucos rivais. Sim, além do actual F-35, só mesmo o F-4 foi produzido em massa para a Força Aérea, Marinha e Fuzileiros dos EUA, com as devidas alterações e modificações. Foi também um sucesso nas exportações, equipando as forças armadas da Alemanha, Reino Unido, Espanha, Grécia, Turquia, Egipto, Israel, Irão, Japão, Coreia do Sul e Austrália.

A História menciona mesmo muitos eventos envolvendo o F-4 Phantom II. Sabiam que Portugal esteve em vias de adquirir F-4 Phantom II para substituir a velha frota de F-86 da Força Aérea Portuguesa? Na verdade, a aeronave eleita era o F-5 Tiger II (também no DCS) mas o negócio incluía também a aquisição de F-4 exclusivamente para defesa do território nacional. Como bem sabemos, nada disso aconteceu e o negócio acabou concretizado com nenhuma destas aeronaves no nosso país, sendo Portugal “obrigado” a comprar os carismáticos Vought A-7P Corsair II (brevemente no DCS) recondicionados. Ainda hoje é um “quase” que custa muito digerir entre os aficionados da aviação em Portugal.

Mas, a história tem muitos outros relatos referentes ao F-4 Phantom II, relatos bem mais emocionantes. Falando então dessa vez em que um Phantom “empurrou” outro, essa manobra arriscada ficou conhecida para a História como a “Pardo’s Push”. No dia 10 de Março de 1967, em plena guerra do Vietnam, dois F-4 foram destacados para a região norte de Hanoi para uma missão de bombardeamento. Contudo, as duas aeronaves foram danificadas por armas anti-aéreas, ficando uma delas com danos mais sérios no tanque de combustível. De modo a evitar terem de se ejectar sobre território inimigo, o Capitão Bob Pardo pediu ao Capitão Earl Aman para baixar o seu gancho de cauda. Assim, Pardo conseguiu empurrar o companheiro, encostando o gancho à sua canópia. As duas tripulações (pilotos e co-pilotos) conseguiram depois ejectar-se sobre o Laos, evitando os inimigos. Façam lá isso com um F-35 de “plástico”…

Tamanha introdução como esta, serve para que entendam que o legado histórico do Phantom II é gigante e qualquer representação desta aeronave não deveria ser apenas “mais um módulo” no DCS World. Poderão dizer que é sempre assim com todas as aeronaves e até concordo. Contudo, o F-4 é mesmo um avião especial, muito peculiar no aspecto, muito peculiar na sua operação e ainda mais peculiar no lugar que ocupa na História da aviação. Por isso, saber que os “loucos pelo detalhe” da Heatblur iriam abraçar este projecto foi uma óptima notícia. A aeronave demorou mas lá chegou, depois de largos meses de atraso para aperfeiçoamento. Ainda não está “no ponto” mas, acreditem, está muito lá perto.

Em termos de modelo, a Heatblur escolheu a variante F-4E, equipada pelo poderosos motores General Electric J79, radar AN/APQ-120 e o sistema Digital Scan Converter Group que lhe permite operar armas avançadas e ainda o lendário AN/AVQ-23 Pave Spike, um dos primeiros “targeting pods” com capacidade de designação a laser a operar em combate. A variante E também se faz acompanhar por um acrescento de fuselagem na parte inferior do nariz com um canhão M61 Vulcan, capacidade de operação com mísseis AGM-65 Maverick, vários tipos de bombas, foguetes e até casulos de canhão, foguetes guiados, bombas guiadas a laser ou por contraste óptico e ainda, o seu maior destaque no papel de “Wild Weasel”, a capacidade de transportar mísseis anti-radiação para atacar baterias anti-aéreas com o AGM-45 Shrike e o jammer AN/ALQ-131.

No que toca ao combate ar-ar, este é também um avião muito capaz. Consegue transportar várias versões do AIM-9 Sidewinder (mira térmica) mas é com os AIM-7 Sparrow (mira radar por telemetria) que se torna numa real ameaça. Tudo bem, estamos longe das capacidades “mágicas” dos AIM-120 e outros mísseis modernos com maior alcance. Contudo, graças aos AIM-7 e AIM-9, o F-4 foi profundamente mortífero em todos os palcos onde operou. Para isso, contribui muito o papel do co-piloto, também conhecido como Weapons Systems Officer ou WSO. Ao contrário do Tomcat, o WSO é mesmo um co-piloto, com capacidades (reduzidas) de operação de voo da aeronave. Mas, a sua principal missão é operar o poderoso radar forma isolada. E o nosso, fá-lo de forma competente.

Tal como aconteceu com o RIO do F-14, o WSO do F-4E pode ser igualmente operado por um segundo piloto (multiplayer) ou com a Inteligência Artificial. Sim, o infame “Jester” está de volta no Phantom, com a sua óptima ajuda e também as suas piadas ocasionais. Uma vez mais o “Jester” tem a capacidade de operar o radar de forma relativamente competente, conseguindo operar todos os modos para melhor localizar e interceptar os alvos. É também o “Jester” que ajuda na navegação, que coloca os dados nos computadores das bombas, que opera vários sensores e contramedidas e que ainda nos chama a atenção de perigos e alvos ao redor. Uma vez mais, temos um sistema de menu rotativo a bordo que pode ser operado com a cabeça (usando captura de movimento do VR ou de “head-tracking”) ou com o rato.

Infelizmente, a utilidade do Jester não é tão abrangente como é no Tomcat no combate ar-chão. Para já, neste aparelho muita coisa é feita pelo piloto, como a selecção de armas, modos de lançamento, intervalos de largada, etc, algo que no Tomcat era feito pelo RIO. A sua busca de alvos terrestres com o TPOD também não existe, embora a Heatblur já tenha informado que fará algo nesse sentido no futuro. É possível fazê-lo no assento traseiro com o “Pave Spike” ou “Maverick” mas não com o co-piloto sintético. O que é pena, porque no Tomcat o “Jester” é muito útil no ar-chão. Felizmente, no ar-ar continua a conseguir fazer quase tudo bem feito, com algumas excepções que me pareceram mais uma limitação deliberada da IA a bem do realismo.

Em termos de armamento, já mencionei quase tudo o que o F-4 consegue levar. Dada a sua falta de computação contínua via radar (como nas aeronaves modernas), o uso de bombas, rockets e outras armas não-precisas é quase uma “arte”. Temos um calculador de performance para prever trajectórias a bordo, podendo depois pedir ao Jester para inserir no computador, permitindo-nos alguma precisão. Contudo, se querem garantir real precisão, têm a bordo bombas guiadas a laser da família Paveway, bombas de sensor óptico tipo Walleye e até foguetes guiados remotamente o AGM-12 Bullpup. Todas são excelentes ferramentas para ataques mais exigentes mas há uma que se destaca, o já mencionado e emblemático “Shrike”.

Este míssil anti-radiação é o “pai” do famoso AGM-88 HARM, tendo até um aspecto semelhante. Pela sua menor dimensão, dá para entender que é um míssil de menor alcance e é também importante perceber que o sensor a bordo é modular, sendo preciso carregar o adequado para os tipos de SAM que vamos encontrar. Também emite um sinal sonoro para detectar estações, não tendo qualquer ajuda visual. Por tudo isto, é uma diversão imensa usá-lo, mesmo que por vezes frustre um pouco pela sua precisão algo aleatória. Contudo, usando um Jammer, sempre de olho no RWR, ouvindo o PRF (frequência) das estações e voando a baixa altitude, as missões SEAD/DEAD são as mais divertidas nesta aeronave, onde o Phantom está “em casa”.

O que também é uma diversão, é voar este “Flying Brick”. Ok, é uma alcunha um pouco injusta nesta versão, sendo mais aplicada aos primeiros F-4 que tinham claras deficiências aerodinâmicas. Mas, mesmo assim, diria que o DCS: F-4E é… vá lá, único. Pode mesmo ser um avião muito suave de voar… a direito… Não é realmente muito manobrável em velocidades medianas ou altas, entrando rapidamente em notórias perdas de performance em voltas apertadas ou até a baixa velocidade. É talvez na fase de aterragem que notarão as maiores dificuldades, com um avião a querer “cair” com facilidade, obrigando a antecipar o “on speed”, sob risco de entrar numa perda com uma rolagem complicada de resolver.

Não é que a Heatblur não tenha feito o seu trabalho de casa, notem. O modelo de voo do Phantom II foi exaustivamente recriado no DCS World até ao mais pequeno pormenor, garantindo que tudo está modelado com precisão. Foi também preciosa a ajuda da equipa de SMEs (“Subject Matter Experts” ou Especialistas na Matéria), composta por ex-pilotos e ex-mecânicos na aeronave. Por isso, se as vossas aterragens terminam muitas vezes em trens de aterragem partidos, não culpem a HB. É provável que precisem de mais horas a treinar. Eu sei o que é isso, não estou a dizê-lo “de borla”. No acesso antecipado, só consegui aterrar como deve ser para aí à terceira tentativa.

No que toca a outras novidades, gostarão de saber que, além do “Jester”, também o oficial de placa ou “Crew Chief” foi inteiramente incluído no tal menu radial. Isto permite efectuar todas as operações de chão, entre colocar ou remover a escada ou pedaleiras, colocar ou remover calços, ligar a unidade de energia exterior (GPU), etc. Já agora, esse GPU está modelado, sendo até possível ver os respectivos cabos ligados. Em termos de overlay, além do já mencionado calculador de bombas interactivo, também é possível visionar o próprio manual da aeronave a bordo, uma óptima ideia e que poupa imenso trabalho de aprendizagem. É até possível pesquisar termos para ajudar na navegação e tudo. AH! E podem até escrever na canópia para aquelas mensagens de última hora… Genial!

Sistemas integralmente modelados, funcionalidades básicas e avançadas devidamente implementadas, excepcional profundidade na operação, resta só perguntar como está o visual. Uma vez mais, a Heatblur não desaponta, com um modelo de cockpit e exterior absolutamente irrepreensíveis. Tudo bem, há determinados pormenores que precisam de polimento. Talvez a sujidade do cockpit tenha sido levada a um extremo quase demente. Contudo, ninguém pode dizer que as inúmeras pinturas (algumas feitas pela comunidade), modelos 3D e detalhes de pormenor não possuem qualidade. Uma vez mais, este é visualmente um dos melhores módulos de sempre para o DCS World.

E não estou só a falar de modelos e texturas. Também os efeitos visuais são deslumbrantes, com uma simulação de afterburner belíssima, efeitos condensação nas asas e fuselagem, vibração nas superfícies de controlo e até nos instrumentos a bordo, efeitos de riscos e desgaste. Tudo isto é complementado com uma sonoridade excepcional, com todos os efeitos sonoros esperados, até mesmo no chato “Jester” que aprendeu novas piadas para nos entreter. Num todo, o DCS: F-4E Phantom II é um marco tecnológico para o DCS World, numa nova fasquia para os demais atingirem e ultrapassarem (se conseguirem).

Para o futuro, a Heatblur tenciona continuar a trabalhar em melhorar e adicionar mais ao módulo. A próxima fase é a inclusão de um outro modelo mais avançado, a variante com o pacote digital DMAS. Futuramente, claro, a HB espera também lançar as variantes navais do Phantom II, certamente tirando proveito da forte oferta de aviação naval em porta-aviões do DCS World. Há também planos para personalizar os pilotos e “ground crew”, entre outras novidades que serão adicionadas no futuro, não só a este DCS: F-4E Phantom II mas também ao DCS: F-14A/B Tomcat. Até mesmo o DCS: AS-37 Viggen deverá receber algumas funcionalidades derivadas desta produção.

Veredicto

Se há uma “norma” do que de melhor se consegue produzir no DCS World, a Heatblur Simulations tem, claramente uma palavra a dizer. O DCS: F-4E Phantom II não se limita a ser “mais um bom módulo” para voar, é uma autêntica demonstração de capacidades da produtora, criando um modelo visual e sonoro que mais parece uma “réplica” que uma simples simulação de lazer, numa extrema atenção ao detalhe e ainda maior homenagem ao legado desta aeronave icónica. O “Flying Brick” renasce com imenso cuidado técnico e visual, inúmeros pormenores de qualidade, tendo muito pouco em jeito de “bugs” ou faltas assinaláveis. Este é um trabalho contínuo da HB mas é também uma “carta de amor” à paixão pela aviação, fazendo renascer um autêntico mito da História, agora num computador perto de vocês.

Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela Heatblur Simulations. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento.

Se desejarem conhecer a comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.

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