Simuladores – Flight Factor Airbus A320 Ultimate (XP11)

A320 – 2019-07-21 16.45.30

Depois do Boeing 767 da mesma produtora nos ter dado uns excelentes voos de longo curso, é agora a ocasião de visitar-mos o mais recente sucesso da Flight Factor Aero. O Airbus A320 Ultimate é mais uma demonstração de qualidade para o X-Plane 11.

A popularidade da família A320 (e porque não dizer, de toda a linha Airbus), é indiscutível. O consórcio multi-nacional Europeu, idealizou e concebeu o primeiro avião de controlo digital fly-by-wire produzido em massa, num conceito de simplificação na operação que ainda hoje perdura nas mais diversas plataformas e evoluções. Recriar um avião tão simples de operar num simulador até nem é difícil. O que é difícil é fazê-lo com fidelidade, garantindo que os complexos sistemas e redundâncias funcionam como o real, assim como o seu controlo único está aliado a uma aerodinâmica apurada. O FF 320 Ultimate é uma representação fiel do modelo Airbus A320-214 com motores CFM56, um dos aviões mais populares de sempre no médio curso. E nós, obviamente, fomos testá-lo nos céus virtuais.

O meu contacto com a família A320 já vem desde os velhinhos PSS A320, tendo andado pelos A320 da Aerosoft e Wilco Pub. no FS9/FSX e ainda brevemente pelo exigente FS Labs A320, este no Prepar3D. Já no X-Plane 11, confesso que até agora não tinha encontrado um Airbus que me satisfizesse, pelo menos no que tinha visto em oferta. Alguns modelos existentes nesta plataforma primam pelo aspecto, mas a performance ou a profundidade deixam um pouco a desejar. No que toca à simulação de um avião comercial deste calibre, prefiro (de longe) que a produção se esmere nos sistemas de controlo e gestão, que propriamente no aspecto. Como tive boas referências do FF 767, entretanto, fiquei confiante que o seu A320 pudesse surpreender-me igualmente pela positiva.

Mas, antes, um pouco de história. No final dos anos 70, as empresas BAe, Aerospatiale, Dornier e Fokker lançaram-se num projecto arrojado para criar um avião de médio-curso para competir contra a hegemonia dos Boeing 737 e Douglas DC-9. No rescaldo do sucesso com o seu A300 e A310, a recém formada Airbus virava-se agora para um conceito totalmente inovador, com o objectivo de diminuir a carga de trabalho dos pilotos, automatizando muitos sistemas e trazendo inspiração militar para os seus controlos com actuadores eléctricos controlados por computador, o mítico fly-by-wire. Em 1988 o Airbus A320 recebeu a sua primeira certificação de voo ao serviço da Air France, seguindo-se a versão “esticada” A321 (1994) e as versões “curtas” A319 (1996) e A318 (2003).

Em meados de 2010, foi introduzida ainda outra evolução do A320, o agora famoso A320 NEO (New Engine Option), que trouxe uma nova motorização (CFMI LEAP-1A) e as “infames” sharkelts, prometendo reduzir consumos em cerca de 15%. Infelizmente, este não é o modelo concebido pela Flight Factor, mas isto não quer dizer que o aparelho que temos no nosso hangar digital seja assim tão diferente. Não há grande distinção na operação entre o A320 clássico e o NEO, excepto na economia já mencionada (que se traduz numa maior autonomia) e em ligeiramente diferentes procedimentos de arranque e operação dos novos motores LEAP. Nos planos da produção está a introdução de motores IAE e das sharklets, mas vamo-nos manter na gama A320-200 com este aparelho.

A grande vantagem da família A320 é que partilha os mesmos sistemas e o mesmo cockpit entre si, mesmo entre os diferentes tamanhos de fuselagem (A321, etc) variando apenas os pesos e performance de cada modelo. Na prática, isto minimiza o tempo exigido para treino no necessário cross-training das tripulações ao transitar entre modelos. E, em teoria, caso os pilotos transitem para os aparelhos de longo curso (A330, A350, etc), a familiarização de sistemas e padrões de funcionamento também facilita na adaptação. Curiosamente, esta filosofia também me ajudou a abordar este FF A320, uma vez que a sua operação é virtualmente idêntica às experiências anteriores que tive com Airbus. As diferenças, como irão ver, estão nos pormenores e como a FF quer envolver-nos na simulação.

Tal como no caso do já mencionado FF B767, a operação deste avião é perfeitamente replicada do aparelho real. Isto significa que todos os sistemas vitais e secundários para a operação do avião em condições normais ou anormais estão presentes e devidamente simulados. Tal como o seu “primo”, o FF A320 também possui um pequeno tablet lateral para as operações excedentes ao voo. De resto, estamos “no avião”. E se quiserem recorrer ao manual FCOM ou ao QRH para emergências, conseguirão operar o aparelho como o real. De facto, todos os sistemas de hidráulica, energia, combustível, pneumáticos, FMGS e outros estão simulados com precisão, inclusive nas suas imperfeições, como os pequenos delays das trocas de informação entre computadores no sistema ARINC.

De facto, tendo já tido o privilégio de voar em cockpit no Airbus A320 (simulador e real), fiquei positivamente surpreendido com diversos pormenores de resposta e cadência, comprovadamente correctos. Em muitos add-ons e simuladores, é difícil replicar os timings da fluidez da operação com precisão. Mas, aqui, a Flight Factor teve imenso empenho para que as coisas funcionem nos tempos certos e com as respostas esperadas. Até mesmo nas animações, os sons dos cliques e da reacções físicas e sonoras do avião, como os botões se ligam com um ligeiro delay e como as lâmpadas se apagam com uma cadência própria. Pouca coisa não parece ou soa como o real, o que é 50% para tornar tudo mais envolvente.

No que toca à operação no cockpit, como seria de esperar, é profunda, com o muito essencial FMGS praticamente completo (tirando sistemas secundários, como o data-link/ACARS), FCU completo e o ECAM a funcionar como esperado, inclusive com pop-up checklists e status page (uma raridade nestes simuladores caseiros). Ainda assim, há muitas coisas que estão por implementar neste aparelho. As falhas, por exemplo, ainda não são tão profundas e personalizadas como no 767. São as do próprio X-Plane 11, até funcionam bem e podemos seguir QRH. Ainda assim, noto algumas emergências simuláveis ausentes, assim como as falhas persistentes como temos no 767. E ainda falta implementá-las no tablet.

E há mais elementos a serem adicionados ou a precisar de uma revisão. Recentemente, enquanto escrevo estas linhas, recebemos neste avião duas funcionalidades novas. A primeira tem a ver com a implementação de um radar de meteorologia. Infelizmente, ainda não está propriamente completo, sendo apenas possível operá-lo manualmente, por exemplo. Ainda assim, é uma adição importante. O radar funciona como o real, sondando o céu por turbulência ou formação de água para que possamos evitar zonas de perigo. Podemos nesta fase regular o ângulo de incidência e o ganho, além de seleccionar o modo (WX, WX+T, etc). É também possível regular a intensidade do radar no ND, tal como também já era possível com a representação do terreno (Terrain on ND).

A outra implementação nova, tem a ver com uma nova página de Assistência de Bordo no Tablet. Convenhamos que este tablet de companhia também não está ainda completo, faltando-lhe as tais falhas programáveis, por exemplo. Se tiver de comparar com o 767, porém, há muitas outras omissões. A página das operações de chão (handling, etc), está muito incompleta, faltando-lhe diversas funcionalidades, como as da entrada e saída de passageiros e/ou carga, por exemplo. As checklists são apenas representativas e não são dinâmicas como no 767. Também lhe falta uma funcionalidade de pushback (precisei recorrer a um plug-in de terceiros, o Better Pushback) e também lhe falta uma página de manutenção. Enfim, é trabalho em progresso e estou confiante que há-de lá chegar.

Essa tal nova página de Assistência de Bordo, ou FAP (Flight Assistant Page), permite regular as luzes de cabine, fluidos (água e detritos), temperaturas, entre outras funcionalidades da responsabilidade da tripulação de cabine. Infelizmente, esta página também está muito incompleta nesta fase, com a FF a prometer mais e melhores funcionalidades. De facto, pouco se pode fazer aqui, sem os comandos dos anúncios de cabine (escondidos num botão do painel de áudio do piloto), a regulação das portas (armar portas, por exemplo) ou algum comando importante, como sentar a tripulação para aterragem, por exemplo. O único botão que achei interessante é o de “Cabin Ready” para completar a Before Take-Off Checklist. Vejamos o que o tablet nos reserva futuramente.

Fora estas pequenas omissões, o A320 da Flight Factor é, ainda assim, uma excelente simulação deste aparelho. Além dos sistemas já mencionados que estão simulados com imenso rigor, o próprio comportamento do avião está exemplar. O X-Plane 11 já possui uma boa representação das protecções de envelope criadas pelo sistema Fly-By-Wire, mas a FF conseguiu replicar com pouca margem de erro as limitações e performances deste aparelho. Seguir tabelas de performance para calcular V-speeds é possível, assim como fazer cálculos de autonomia e rates. É até possível simular perdas de alta-velocidade e sentir alguns efeitos de transição. E, sim, o fatídico “More Drag” nas decidas está lá, assim como as previsões e margens do plano de voo via FMGS. Genial.

Não sendo um piloto real de A320, consigo, ainda assim, perceber porque é que esta sua filosofia é tão apreciada entre o pilotos que conheço. É um avião “de engenheiros”, é verdade, fazendo muitas (demasiadas?) coisas por nós. E, sim, a falta da clássica manche, tendo uma mesa no seu lugar (também simulada) causa algum desconforto inicial. Mas, é notória a facilidade de operação neste avião, a sua fluidez de trabalho é exemplar, o seu comportamento sempre domado não proporciona grandes surpresas, com os computadores a corrigirem muitos dos nossos erros. E a Flight Factor, com a sua precisão consegue reproduzir na íntegra esta facilidade de operação, mesmo em emergências.

E, depois, salta à vista a fidelidade visual e sonora deste aparelho. Mais uma vez, o rigor de modelação e texturas, assim como efeitos visuais de reflexos, iluminação e sombras são fantásticos, também fruto dos avanços técnicos do próprio X-Plane. Curiosamente, achei o FF A320 menos “pesado” que o primo 767, apesar da sua extrema qualidade visual e de modelação, tanto do cockpit, como da cabine completa e do modelo exterior. Ou seja, além da excelência dos sistemas, também tem óptimo aspecto e não exige muito do computador. Só tenho mesmo pena que este não seja o modelo NEO e que lhe faltem aqueles motores distintos e as carismáticas sharklets. São questões estéticas, porém.

No campo do áudio, ao contrário do anterior FF B767, onde mencionei que o som dos motores é algo “vago”, aqui a FF teve um trabalho mais cuidado, trazendo-nos um kit de sons bem concebido, inclusive dos característicos “whines” dos motores CFM56. Alguns pequenos pormenores de sonoridade precisam de uma afinação, como os sons de anúncios de cabine demasiado altos, o rolar na pista precisava ser mais suave e ainda notei a falta de uns pequenos ruídos característicos (o arranque da PTU, por exemplo). Nada de especial, sei que estou a entrar em pormenores um pouco exaustivos… mas, já me conhecem!

Por fim, tenho de falar nos planos da Flight Factor Aero para este seu FF A320 Ultimate. Segundo a produtora, este avião está longe de estar finalizado. A empresa fala de mais de cem actualizações desde que foi lançado no ano passado e não tem planos para o dar como concluído tão depressa. Possui uma versão Beta fechada, onde são testadas novas funcionalidades antes de chegar ao produto final. Para nos mantermos actualizados, precisamos instalar o software X-Updater e estar sempre de olho nos fóruns para saber se uma nova versão foi, entretanto, lançada com novidades. Dias antes de publicar esta análise, recebemos uma grande actualização que a adiou, por exemplo.

Nos planos da produtora, como já disse, estão a adição de motorização IAE e da opção de sharklets nas asas. Também já mencionei as faltas por incluir no tablet e há inúmeros pequenos pormenores numa lista extensa de melhorias e adições planeadas. Apesar da Flight Factor ser muitas vezes acusada de inércia, considero que é um argumento infundado. Juntamente com os B757/767, antes disso o B777 e mais recentemente o A350 (menos detalhado em sistemas), a FF tem produzido dos melhores aviões para o X-Plane. Se algumas actualizações demoram um pouco mais, é por uma boa causa, sendo testadas de forma extensiva antes de serem lançadas. E estou confiante no futuro do A320 Ultimate.

Notas Finais

O Flight Factor Airbus A320 Ultimate é mais uma demonstração positiva de que a empresa é capaz de entregar uma simulação credível e bastante realista. Comparando com o add-on que analisámos anteriormente, este é um aparelho bastante mais moderno e automatizado, mas a produção esteve à altura do desafio. Técnica e visualmente, é das melhores simulações de um Airbus A320 que terão por aí para o X-Plane 11. E digo isto consciente da concorrência feroz com múltiplas ofertas. Pode ainda não estar realmente completo, com muitas adições e melhorias a caminho, mas é a voar e a operar que interessa que esteja em conformidade. E está. Torna-se também essencial para entusiastas e até para quem procure algo para treinar procedimentos.

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