Está a Ubisoft a gerir bem a comunidade em The Division?
Já vos tínhamos falado de como a Ubisoft estava a pensar em punir os jogadores que teriam usado abusivamente as falhas na lógica e programação do jogo Tom Clancy’s The Division. No entanto, após diversas demonstrações de insatisfação, parecia que a produtora ia recuar nessa ideia. Afinal, a espada da punição vai mesmo cair em cima dos prevaricadores. Mas será isso que o jogo precisa?
Com um extensa publicação no site oficial, a equipa da Ubisoft Massive começa por explicar o que são estas batotas, além de passar em revista o que chama de “violação das regras do jogo”. O que é mais interessante é que a produção se defende virando o discurso para dar a entender que os batoteiros afectam os demais jogadores. O que é uma verdade na Dark Zone (ambiente PvP), porém, não se pode aplicar para o resto do jogo, incluindo a falível missão Incursion. Aí o alvo da batota é mesmo o jogo repleto de erros de programação. Mas, já lá vamos.
Assim, a Ubisoft está a lançar novos métodos de detecção de batoteiros de modo a identificar jogadores que usem ferramentas para o efeito (mais apropriado ao PC). Como a Ubisoft já tem detectado inúmeros jogadores a fazer batota, informa que irá distribuir o que chama de “a maior vaga de suspensões e banimentos até à data a acontecer nos próximos dias”. Se andaram a fazer batota no jogo e não conseguem entrar na vossa conta, já sabem o que aconteceu. A suspensão terá uma duração mínima de 14 dias na primeira ofensa (antes dava 3 dias de suspensão) e a segunda ofensa dará um total banimento da conta, com efeitos imediatos.
No que diz respeito a bugs e exploits, a Ubisoft é um pouco mais branda, mas não deixará de punir quem abuse das falhas do jogo. O óbvio resultado nesta situação seria corrigir os erros que permitem aos jogadores de fazerem as batotas e passar à frente dos níveis do jogo. E a comunidade tem ajudado bastante a detectar os erros, seja por anunciá-los no fórum seja… por repetidas vezes explorar as falhas e fazer missões sem passar pelos requisitos que a produção impõe. A Ubisoft até começa por dizer que deve corrigir esses erros, mas o que fazer com os batoteiros?
Depois de se desculpar que “não pode simular a experiência de milhões de jogadores diferentes” e de alegar que “alguns bugs podem passar além dos testes”, algo que muitos jogadores acham inaceitável perante a gravidade de alguns erros, a Ubisoft fala de uma reacção ao erro (a sua correcção) e da dissuasão de jogadores em explorar esse mesmo erro.
Assim, a Ubisoft irá dar mais clareza quanto aos bugs numa página do seu fórum, informando se são ou não passíveis de exploits, de modo a que os jogadores “não caiam no erro” e sejam punidos sem informação. Depois há sanções para os que deliberada e repetidamente usam esses bugs para seu proveito. Algumas sanções são a remoção de itens e armas adquiridas indevidamente, suspensões e também banimentos. Como e quando é que a produção pretende fazer isto e quantos jogadores podem ser afectados, porém, ficou por revelar.
Basicamente, neste último caso, a Ubisoft está a dar uma punição para um erro que os jogadores não causaram, que está presente no jogo e que alguns até podem ser despoletados de forma aleatória sem real intenção do jogador (cair do cenário, por exemplo). Por outro lado, apesar de imensas correcções e hotfixes, o jogo continua a dar alguma frustração com erros que persistem desde o primeiro dia, falhas na lógica e na continuidade de uma sessão (as quebras de ligação são constantes), além de uma falta de conteúdo do que se chama de “End Game”.
Com este quadro, não é de estranhar que a reacção a esta publicação, tanto no site oficial e fóruns como nas redes sociais, tenha sido incrivelmente negativa. Entre os jogadores batoteiros que não querem ver a suas contas suspensas (óbvio), há também os jogadores legítimos que pedem que a Ubisoft Massive se empenhe mais em conteúdo que em “dar bofetadas nas mãos dos batoteiros”.
Nos dias que correm, de facto, o “End Game” para os jogadores que terminam o modo carreira e estão perto do limite máximo deste The Division, está cada vez mais aborrecido. As missões diárias são repetidas, os desafios ou são demasiado fáceis ou pouco compensatórios e a única forma de progressão real é ainda a missão “Falcon Lost”, repleta de erros de lógica e com clara falta de inspiração em termos de qualidade e interesse em repetir.
Esta Incursion é a única forma de obter peças de equipamento acima dos 200 pontos. Peças essas que “caiem” de foram aleatória e, muitas vezes, repetidas. O Matchmaking não funciona como deve ser, juntando jogadores de nível díspar e não permite ir buscar mais e melhores jogadores se alguém desistir. Além disso, as vagas são aborrecidas e com momentos de absoluta injustiça, com diversos inimigos (chegam a ser dezenas) a correr contra nós com caçadeiras que matam com um só tiro. A organização e coordenação da equipa dão lugar ao completo caos e muitos desistem a meio, deixando os demais sem outra hipótese senão desistir também.
Ironicamente, a próxima Incursion que já aparece no mapa, só pode ser acedida para quem tiver o nível de equipamento 220. Esse nível só é possível se conseguirmos juntar todas as peças especiais da missão “Falcon Lost” num conjunto (Gear Set), mas isto no nível insano de máxima dificuldade chamado Challenging com inimigos de nível 34 em que virtualmente fazemos cócegas com as nossas humildes armas. Se nem a equipa da Ubisoft conseguiu passar esta missão neste nível de dificuldade, o que é que a produção esperava senão que alguém tentasse fazer a missão explorando alternativas?
É que, tirando os batoteiros do modo PvP que apenas querem ter uma vantagem injusta, os que tentam contornar as regras do jogo explorando bugs apenas querem… jogá-lo. Perante a enorme injustiça que alguns momentos da nova Incursion proporcionam, passar uma parede com um escudo ou usar armas de uma forma que não foi pensada é um recurso para um único objectivo: fazer a melhor carreira possível no jogo. Tudo bem que é feito de uma forma ilícita, mas não há outra forma de evoluir senão terminar esta missão que muitas vezes não é possível terminar, estando repleta de falhas, num jogo absolutamente instável.
Que se aprenda com a Bungie e a célebre “caverna mágica” nas primeiras semanas do jogo Destiny. Alguns jogadores descobriram que se se mantivessem no mesmo sítio a fustigar os inimigos naquele ponto em que faziam Respawn dentro desta caverna, evoluíam da mesma forma e sem esforço, além de apanharem loot aos magotes. Quando a produtora descobriu este e outros exploits, corrigiu o ponto de respawn da Inteligência Artificial na caverna e usou de humor para o informar. Não suspendeu nem baniu ninguém. Pelo contrário, a cada bug ou exploit descoberto a Bungie incentiva que se informe e ajude a corrigir. O objectivo é criar a melhor experiência possível, não é dividir a comunidade e afastando os jogadores.
Por outro lado, a Bungie pode gabar-se de ter ainda hoje um jogo que convida à repetição com os seus inúmeros e contínuos ajustes à jogabilidade. Oferece um enorme incentivo aos jogadores de se manterem no “End Game”. Em The Division, a Ubisoft ainda não compreendeu que o loot High End (amarelo) nas missões diárias é de muito baixo valor e não serve para nada. Também não compreendeu que não pode restringir o progresso a uma só missão, ainda por cima cheia de falhas e injusta para jogadores solitários (que são a maioria no seu jogo, curiosamente).
E tenho de concordar com os que reclamam actualmente: Ao invés de castigar os batoteiros com tanto afinco, era melhor gastar tempo a corrigir o jogo e a dar mais conteúdo a quem perde horas a jogar uma missão aborrecida para depois ter um erro a meio e perder o interesse em continuar.
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