Um mês depois, o que dizer da Xbox One X?
Descrita como a consola “mais poderosa de sempre”, a Xbox One X, surgiu por cá sem grande pompa e com muito pouca circunstância há exactamente um mês. Esta é a análise possível à sua curta vida, agora que muitos tentam fazer sentido da sua validade.
Lojas houve em Portugal que nem stock receberam da consolas. Não que as encomendas tivessem esgotado por excesso de procura, notem. Simplesmente, parece que a própria Microsoft não soube gerir bem este lançamento. Foi-nos dito pela Microsoft Portugal que nem consolas de análise estiveram disponíveis na data de lançamento para mostrar aos meios de comunicação. Algo que resultou também numa ausência notada na Lisboa Games Week do mês passado. Não vou dissertar sobre a gestão da marca em Portugal, mas todos ficamos tristes por ver como a presença da Xbox não está ao nível de outras marcas.
A questão principal é que ter “a consola mais potente do mercado” não chega. Numa altura em que concorrência está em força, com a Nintendo Switch e a PS4 a baterem recordes, seria de esperar um empenho muito maior da marca Xbox. E lá fora até houve esse empenho… bom, mais ou menos. Faltaram jogos exclusivos que justificassem a sua compra. Faltou oferta com tão poucas unidades disponíveis a nível mundial. E é claro “como a água” que faltou uma coisa ainda mais importante: um preço melhor.
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499€ numa caixa. Para depois, lá dentro, encontrar a consola e um comando apenas. Não houve bundles de jogos nem ofertas adicionais. Só uma nova caixa preta cheia de promessas. E notem que não foram só as consolas Switch ou PS4 as maiores concorrentes da Xbox One X. Ironicamente, a recente Xbox One S, por quase metade do preço e com bundles fantásticos, levou muita gente a entrar no universo Xbox ou a renovar a sua presença. Curioso, no mínimo, que não seja “a mais potente” das Xboxs a chamar jogadores. Alguns analistas de marketing teriam uma opinião bem firme sobre isto.
O que parece a muitos, é que a visão da Microsoft passará por fazer com que a sua Xbox venha a entrar sorrateiramente no mercado dos PCs para gaming. Já existem computadores para jogar a preços bem acessíveis e com performances consideráveis. Porque não criar uma consola para “trincar essa fatia”? Parece lógico. E até pode muito bem vir a ser plausível. No entanto, a informática avança todos os dias, com novo hardware e com novos preços a condizer. Será que o investimento numa consola mais “barata” mas limitada ao seu “miolo” compensa perante um PC, que pode ser sujeito a upgrades periódicos de hardware? A escolha parece pouco complicada de fazer.
Títulos como “a mais poderosa consola” são efémeros neste meio tecnológico. Um dia, inevitavelmente, teremos outra consola ainda mais potente que roubará esse título. Também os PCs de gaming estão cada vez mais apetecíveis, com marcas a apostar em força neste segmento. O verdadeiro “monstro”, afinal, é um PC, logicamente mais caro, mas também com outras capacidades que vão além de jogar e ver filmes. As consolas sempre foram a plataforma de entretenimento com um preço simpático. Quanto se tenta romper essa barreira distinta do valor comercial, estamos a entrar numa área bastante cinzenta. Para todos os efeitos, as consolas são itens lúdicos, mesmo que nos tentem “vender” algo mais além disso.
E acabamos, logicamente, a falar dessa componente tão importante, os jogos. A vantagem para quem já tinha uma Xbox One era que podia usar os seus jogos já comprados na nova plataforma. Nada contra, tudo a favor. Algo que sempre desagradou bastante nesta geração foi ver jogos das plataformas passadas a não transitar para algum novo hardware. Os programas de retrocompatibilidade da Xbox até garantem que jogos da Xbox original e da X360 sejam compatíveis ou possam ser comprados a preço promocional. Algo que a concorrência não pode realmente equivaler, pelo menos, não desta forma tão directa.
Contudo, o problema aqui é bem mais profundo. Não basta termos jogos clássicos retrocompatíveis ou títulos já lançados anteriormente tornados compatíveis com meros upgrades. Lançar uma consola que apenas tem um único exclusivo AAA que justifique a sua compra (Forza Motorsport 7), é uma manobra inconsistente perante a qualidade que se quer demonstrar. Então a Microsoft virou-se para onde podia: para os jogos de lançamento vindos de terceiros, sejam tecnicamente melhorados ou em versões mais vistosas, com 4K e HDR numa boa parte dos casos. Razoável ou não, pelo menos estas parcerias garantem alguns títulos demonstrativos das capacidades da Xbox One X.
Sejamos claros, a real vantagem desta consola é a sua performance melhorada graças ao hardware interno, se comparado com outras consolas. Por isso, só mesmo uma melhor versão possível dos jogos poderá levar à sua compra. E ninguém melhor que os estúdios internos da Microsoft seriam capazes de elevar a fasquia técnica dos seus títulos, como a Turn 10 demonstrou com Forza 7. Que seria da Nintendo Switch sem The Legend of Zelda: Breath of the Wild ou da PlayStation 4 Pro sem Horizon: Zero Dawn? Contudo, a Xbox One X não tem muito para mostrar ao nível de produção interna recente. Alguns jogos anteriores com melhorias residuais não são exemplares, quanto a mim.
Por outro lado, nem todos os jogos de terceiros na Xbox One X a correr em resoluções 4K são assim tão significativamente superiores ou mais vistosos. Não só porque estes títulos não foram criados de propósito para a consola, como coexistem noutras plataformas (quem sabe até com capacidades superiores, como no PC). E quem não tem uma televisão Full HD ou 4K com HDR ainda verá menos vantagens reais perante as demais consolas. Mais “estabilidade de fotogramas por segundo” ou “melhores performances no arranque dos jogos” não parecem justificar 499€ de investimento. Mas, como sempre, cada um encontra vantagens onde quer (ou pode).
Dirão por esta altura que eu não gosto da consola. Não é verdade. Sou fã da marca Xbox há vários anos. Estou ansioso para ver um novo Gears of War ou um Halo nesta nova consola, criados de raíz e a emanar qualidade pelas grelhas de ventilação. Mas, para isso, não me importava de esperar um pouco mais, ter um lançamento consistente com títulos de lançamento que justificassem a minha compra, alguns bundles interessantes com jogos ou até que o seu preço fosse mais compatível com a realidade financeira actual. Este lançamento, a par das questões de marketing associadas que já levantei, foi inócuo e um pouco escasso para a consola em causa. E nisto, todos concordarão.
Pegando no Comando
Adquirimos a unidade que testámos apenas nas últimas duas semanas. Não a tivemos no dia de lançamento, por causa da tal inexistência de consolas por parte da representação Lusa da marca. Conforme também já disse, não esperem grande conteúdo na caixa. Além da consola, encontrarão um comando Xbox One (edição regular), a cablagem necessária para a ligar à corrente e a um televisor (HDMI), além da documentação adicional do costume. Algo deve ter acontecido pelo caminho porque, sempre que vi por aí referências à consola, mostraram sempre cupões com trials de Xbox Live e Xbox Game Pass. Não que precisasse destes bónus, mas não estavam na nossa caixa, por algum motivo.
Ao nível de design, imaginem uma Xbox One S ligeiramente menor, mais compacta e igualmente mais pesada por causa do transformador interno de corrente. As linhas rectas são rapidamente reconhecíveis, com a única diferença visual a ser a cor (a Xbox One S foi comercializada na cor branca) e a posição da prateleira do leitor BluRay um pouco mais baixa. Ao nível de entradas e saídas, temos praticamente as mesmas ligações com HDMI (input e output), duas tomadas USB, uma saída Infravermelhos (comandos), saída óptica de áudio e porta LAN. E não, não tem a famosa porta para o defunto Kinect. No que toca ao comando de jogos, é exactamente o mesmo, com a revisão de Jack 3.5mm integrado da segunda geração.
Ficámos impressionados com a compactação do hardware interno numa peça tão pequena. Lá dentro está o mesmo CPU AMD Jaguar da consola original. Contudo, agora conta com oito núcleos a 2,3GHz, um GPU a 1.2MHz e 12 GB de RAM GDDR5 (partilhados entre CPU e GPU). Isto traduz-se nuns 6 Teraflops anunciados, uma marca impressionante para uma consola. O objectivo, como sabem é permitir que jogos e filmes possam correr em resoluções UHD 4K com suporte de tecnologia HDR. Contudo, mesmo cumprindo a promessa de ser a mais poderosa consola, não podemos fazer um paralelo com as capacidades actuais do PCs.
Começando com a memória RAM partilhada, uma opção de recursos muito usada em PCs portáteis de média gama, a RAM não pode ser usada apenas pelo CPU ou apenas pelo GPU. Nos dias que correm, as placas gráficas independentes para PC possuem a chamada VRAM que usam de forma exclusiva, não tirando RAM aos recursos do CPU. Por outro lado, apesar dos oito núcleos do novo Jaguar representarem mais de 75% maior capacidade de processamento que a consola original, comparado com um PC moderno, estará numa das gamas mais baixas de CPUs, a título de exemplo, na ordem de um Intel Core i3. Por isso, não esperem ser desta que as consolas se tornam a “Master Race”.
Todo este poder de processamento, porém, é um passo em frente ao nível do que há por aí na concorrência. O que permite que esta versão tenha mais sumo para usar na produção e reprodução de jogos. Só que há um revés onde penso que os gestores de produto não tiveram a devida atenção. Para que os jogos possam surgir em todo o seu esplendor 4K, na maioria dos casos, é preciso descarregar pacotes de texturas adicionais para os títulos. Alguns jogos chegam a ultrapassar os 100GB de instalação. Considerando que todas as actuais Xbox One X possuem um disco interno de 1 TB e que mesmo os jogos em formato físico precisam ser instalados e de descarregar esses pacotes de alta resolução, 1 TB enche-se muito depressa.
Não só a Microsoft poderia lançar a consola com um disco interno maior (A Xbox One S possui uma versão com disco de 2 TB), como simplesmente não é possível trocar este disco interno por outro de maior capacidade, como por exemplo podemos fazer nas PlayStation 3 e 4 ou, logicamente, num PC. Sinto que esta é mais uma fraca característica desta consola tão cara, até porque nem estamos a equacionar o espaço ocupado pelo sistema operativo. Estou certo que no futuro haverá uma versão com maior capacidade… mas a que preço? Alternativamente, dirão que posso sempre comprar uma unidade de disco externo e exportar os meus jogos para lá. Certo… mas é preciso que a consola colabore.
Logo nos primeiros dias de vida da consola no mercado, sobretudo as edições “Day One” chamadas de “Project Scorpio” sofreram de diversos problemas técnicos. Em primeiro lugar, algumas consolas desligavam-se diversas vezes sem intervenção dos utilizadores. Se esse problema foi mais raro, outros foram mais frequentes. Constantes freezes durante downloads ou durante as já mencionadas transferências de ficheiros para unidades externas, foram bastante reportados. Também a unidade de BluRay Disc, apresentava uma série de problemas a correr filmes 4K com HDR, dando, por exemplo, demasiado brilho à imagem.
Devo dizer-vos que durante as semanas em que estivemos a testar a nova consola, não tivemos assim muitos episódios negativos. Em algumas ocasiões, os menus, de facto, pareciam “congelar” por alguns segundos, mas acabavam por recuperar. E isto parecia acontecer apenas durante downloads mais demorados. Também tivemos umas quantas saídas involuntárias para o dashboard durante o arranque de alguns jogos. Nada de especial, apenas obrigou a uma maior persistência em arrancar jogos. Não considero nada disto realmente grave, até porque nos últimos dias a consola parece ter estabilizado nas suas prestações e performance geral.
“Então e os jogos?”, perguntam vocês. Confesso que não uso a consola propriamente para ver filmes, pelo que não vou falar muito das suas capacidades de ver filmes BD ou em stream a 4K. Sim, foram os jogos que definiram para nós esta consola. Não foi muito difícil angariar um bom punhado de títulos para testar na nova consola. Bastou ir ao armário da Xbox One original. Logo nas primeiras horas, Forza Motorsport 7 foi o óbvio jogo de produção interna que não perdemos tempo a instalar. Por parte de terceiros, tivemos também a testes os visualmente deslumbrantes Middle Earth: Shadow of War, Assassin’s Creed Origins, Star Wars Battlefront II e FIFA 18.
É realmente notória uma qualidade visual assinalável, sobretudo se tiverem uma televisão 4K com HDR lá em casa. Aconselho vivamente a quem possua uma Xbox One ou uma Xbox One S a jogar um ou mais jogos nessas consolas antes de instalar e ligar a Xbox One X, preferencialmente na mesma televisão. Era isto mesmo que a Microsoft prometia, mais performance e melhores visuais para os jogos criados com o recurso ao hardware mais potente. Não há volta a dar, esta é a melhor experiência visual que terão com uma consola de videojogos, pelo menos nos títulos que já assinalei e outros que possuam melhoramentos assinalados para esta consola.
E mesmo que tenham apenas uma televisão Full HD (1080p), também irão notar uma diferença visual de assinalar. O que a consola faz, neste caso, é recorrer a um palavrão chamado “supersampling”. Basicamente, o jogo é reproduzido à mesma em 4K mas é comprimido num monitor 1080p (4x menor), mantendo a mesma qualidade ao nível de detalhe e definição. Nota-se este supersampling em pequenos pormenores à distância, nas silhuetas de objectos e personagens mais definidas, enfim, tudo o que poderia parecer meio “pixelizado”, torna-se muito mais definido nestes televisores com a Xbox One X.
Por outro lado, em jogos mais datados como Gears of War 4, Halo Wars 2, Dead Rising 4, ReCore, Ghost Recon Wildlands e outros incluídos nesta lista, há também melhorias de assinalar. Estas melhorias, porém, prendem-se com a performance dos próprios jogos. Na verdade, não poderão procurar grandes aumentos de Fotogramas por Segundo (FPS) mas, sim, maior estabilidade. Limitados pelo hardware da Xbox One original, em muitas ocasiões mais caóticas, alguns jogos sofriam oscilações de performance. Na Xbox One X, os jogos que já corriam a 60FPS fazem-no agora de forma mais estável. Contém até com suporte 4K em alguns títulos e há também alguns que têm mexidas na qualidade das texturas.
A nossa avaliação final
O grande chavão “4K com HDR” parece que está para ficar. Isto até que a indústria se debruce no 8K ou algo superior. Até lá, as actuais consolas de topo estão levar muito a sério esta tecnologia. E a Xbox One X, de facto, leva para casa os louros dessa corrida. Esta é a primeira (e única) consola dedicada a reproduzir jogos na resolução nativa 4K com suporte para HDR. Melhor, não deixa de lado as suas mais valias para quem não tem um televisor com esta capacidade, garantindo suporte para televisores Full HD com igual qualidade via supersampling. Para todos os efeitos, esta é a derradeira experiência visual para jogos em consola nesta geração.
Contudo, este é um produto de categoria Premium. O que significa que o seu preço pode estar um pouco desajustado para a sua oferta. Um jogador mediano não vai pagar quase o dobro por uma consola, se existem por aí outras com performance muito próxima, como é o caso da PlayStation 4 Pro e até da Xbox One S. Tudo bem, podem não ter o poder de processamento de uma Xbox One X mas o jogos são os mesmos e não têm assim tão mau aspecto, também podendo correr em televisões Full HD ou 4K.
Lembrem-se que por 499€ terão apenas a consola e um comando. Nada mais, pelo menos por agora que não existem bundles ou ofertas disponíveis. E ainda faltará a televisão 4K HDR para tirar pleno proveito da consola. O seu disco interno até é grande mas, mesmo assim, escasso, se cada jogo pode instalar largas dezenas de gigabytes em texturas 4K. Por isso, pensem em comprar um disco externo também. Ou seja, sempre a somar e cada vez mais Premium. A pergunta a fazer na loja ao pé da prateleira é: vale a pena tanto investimento financeiro para jogar os mesmos jogos com umas melhorias visuais? E a resposta só vocês a podem dar.
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