Análise – The Spectrum
Foi em 1982 que um objecto tão pequeno quanto impactante surgiu no mercado europeu de computadores domésticos, até então dominado pelos americanos: o ZX Spectrum de Sir Clive Sinclair. Está de volta em 2024 com TheSpectrum.
Houve muitos computadores e consolas importantes na história da informática, inclusive para gaming. Um deles foi, sem dúvida este. Tratava-se de computador económico e extremamente compacto, equipado com o rápido e fiável processador Z80, uma quantidade razoável de memória (pelo menos no modelo mais caro, de 48 KB) e que ainda dispensava a necessidade de um monitor dedicado. Bastava ligá-lo à entrada de antena de uma televisão comum e sintonizar o sinal. A fórmula perfeita para a maioria que não podia investir assim tanto, numa altura em que a televisão era o electrodoméstico mais popular.
É fácil desconsiderar a sua importante, dada as suas capacidades limitadas como uma resolução gráfica de apenas 256×192 pixéis, um máximo de 15 cores e som restrito a um buzzer controlado pelo processador. Mas, na altura em que surgiu, era o último grito no entretenimento. O seu sucesso deveu-se em parte ao seu custo acessível, ao mesmo tempo que a sua acessibilidade veio conquistar o coração dos entusiastas da electrónica. Tornou-se o único concorrente capaz de rivalizar com o Commodore 64, que, embora mais lento e difícil de programar, era superior em gráficos e som, acabando por dominar o mercado a longo prazo.
Com tanto amor pelo histórico ZX Spectrum, era inevitável que acabasse por se juntar ao “mar” das “mini-consolas”, as reproduções oficiais de máquinas históricas que, ao longo dos anos, reintroduziram sistemas e jogos da Nintendo, Sega, Commodore e, mais recentemente, também da Atari. O ZX ainda não tinha sido incluído nesta lista, mas, surpreendendo a todos, pouco depois do lançamento do The400, a Retro Games Limited resolveu essa ausência de forma grandiosa. Aí está o renascido Spectrum, ou melhor, The Spectrum, em tamanho real, fielmente modelado segundo o histórico modelo de 48 KB, completo com o icónico teclado de borracha funcional e capaz de emular modelos posteriores, pelo menos aqueles produzidos pela Sinclair e Amstrad, incluindo o venerável 128k.
Para além do Spectrum, a sua caixa compacta inclui um cabo HDMI, um pequeno guia introdutório em papel, um cabo USB tipo A para tipo C para alimentação e uma capa plástica fina e transparente para proteger o teclado do pó. Infelizmente, não inclui fonte de alimentação, no entanto qualquer carregador de telemóvel de (pelo menos) 2 amperes serve. Também não está incluído um joypad, o que teria facilitado o regresso ao passado para quem, agora na casa dos 50 anos, prefere evitar o teclado de borracha. Contudo, esta decisão está em linha com a filosofia das máquinas que emula: acessíveis, mas totalmente autónomas. Os 48 jogos incluídos na memória podem ser jogados directamente com o teclado, tal como muitos utilizadores faziam na época dourada do Spectrum.
Em suma, não há nada de realmente novo, pois, do ponto de vista de configuração e controlos, estamos exactamente nos mesmos padrões a que a Retro Games Limited nos habituou nos últimos anos. Desde o início, é possível carregar outros jogos através de pen USB (uma funcionalidade que, curiosamente, não estava disponível no lançamento do TheC64 Mini) e até “rebobinar o tempo”, permitindo voltar atrás até 40 segundos no jogo para corrigir erros. Além disso, é possível guardar a posição em pelo menos 4 slots para cada jogo incluído no catálogo. Este recurso exibe uma grande cassete no ecrã, um detalhe que, por si só, é uma pequena preciosidade capaz de deixar os nostálgicos encantados.
Como já mencionei, na memória deste The Spectrum podem encontrar 48 jogos. Aqui estão eles por ordem alfabética:
- Alien Girl (Skirmish Edition)
- Ant Attack
- Army Moves
- Auf Wiedersehen Monty
- Avalon
- Bobby Bearing
- Cosmic Payback
- Devwill Too ZX
- Exolon
- Fairlight
- Firelord
- Football Manager 2
- Freddy Hardest
- The Great Escape
- Head Over Heels
- Highway Encounter
- The Hobbit
- Horace Goes Skiing
- Jack the Nipper
- Knot in 3D
- The Lords of Midnight
- Manic Miner
- Match Day II
- Movie
- Nodes of Yesod
- Penetrator
- Phantis (Game Over II)
- Pheenix
- Pyracurse
- Quazatron
- Robin of the Wood
- Saboteur! Remastered
- Shovel Adventure
- Skool Daze
- Snake Escape
- Spellbound
- Starquake
- Starstrike II
- El Stompo
- Stonkers
- Target: Renegade
- TCQ
- Technician Ted – The Megamix
- Tenebra
- Trashman
- The Way of the Exploding Fist
- Wheelie
- Where Time Stood Still
Ao lado de jóias gloriosas dos anos 80 como Head Over Heels, The Hobbit, Spellbound, Manic Miner, The Way of the Exploding Fist e Saboteur! (apresentados aqui na mais recente edição Remastered), também encontramos lançamentos recentes de grande importância, como o ecléctico TCQ de Amawek, o inquietante Tenebra, o divertidíssimo Shovel Adventure da equipa Pat Morita, e muitos outros. É uma viagem pelos videojogos que se estende por mais de quarenta anos e que, além dos clichés dos grandes clássicos, oferece nuances bem mais modernas, destacando a capacidade de programadores “mais jovens” em propor títulos tecnicamente superiores, com jogabilidade extraordinária.
É claro que não é possível “resumir” a vasta biblioteca de jogos do Spectrum em apenas 48 títulos. Vão gostar de saber, que podemos facilmente executar os jogos que quisermos, desde que tenhamos uma edição digital deles no formato de ficheiro .tap, que o The Spectrum consegue carregar a partir de uma thumbdrive e relembrar outros clássicos como Deus Ex Machina ou até mesmo o intemporal “malandreco” Paradise Café. Este processo pode até simular, se quisermos, toda a longa fase de carregamento a partir de uma cassete, com direito às linhas coloridas nas bordas e aos ruídos característicos. Saudades…
Como estamos habituados, actualmente, a jogar tudo de forma instantânea, o carregamento de ficheiros .tap pode ser bastante acelerado, bastando escolher a opção apropriada, mas, infelizmente, este carregamento não pode ser completamente eliminado. Assim, quer gostemos ou não, seremos obrigados a observar o ecrã de “load” com a devida paciência durante alguns segundos antes de começar a jogar. Esta escolha deixou-nos bastante surpreendidos, sabendo que o hardware moderno é bem capaz de carregamentos instantâneos. Poder ser que Retro Games Limited repense esta decisão em futuras actualizações do firmware.
Quanto à configuração dos controlos, a consola dispõe de definições personalizadas para, pelo menos, dois jogadores. Por isso, não deverá ser um grande problema encontrar a melhor combinação para cada jogo, apenas terão de ocupar o mesmo teclado para o efeito. Por fim, se quisermos abandonar o carrossel de selecção de jogos e regressar ao clássico ecrã branco do BASIC, podemos fazê-lo a qualquer momento e até configurar a máquina para ligar sempre dessa forma. Por que haveríamos de querer isso? Porque assim era a consola original, obviamente. Para voltar ao carrossel, basta pressionar o botão Home, localizado num canto na parte traseira da consola.
Veredicto
Se, em tempos, a comunidade do Commodore 64 via o Spectrum com desdém, hoje não é difícil reconhecer o contributo essencial de Clive Sinclair para a informática dos anos 80. Através do ZX Spectrum, muitos jovens aprenderam programação e iniciaram carreiras brilhantes. O The Spectrum oferece-nos a oportunidade de reviver ou descobrir esta época dourada por cerca de 100€. E notem que não é apenas uma peça de museu, já que pode oferecer uma visita ao passado através de uma experiência moderna e perfeitamente simulada. Não será para puristas de hardware, é uma excelente forma de explorar e recordar uma das melhores eras de sempre no mundo do gaming.
- MarcaRetro Games Ltd.
- ModeloThe Spectrum
- Lançamento2024
- Plataformas
Óptimo, aconselhamos a apreciar ao máximo.
Mais sobre a nossa pontuação- Reprodução fiel em aspecto e funções
- Possibilidade de adicionar mais jogos
- Muita nostalgia e respeito pelo hardware e jogos clássicos
- Falta carregamento imediato nos jogos adicionais
- Falta de um transformador
- Justificava-se um joypad