100 Censura: Pré-febre!
Pré-isto, pré-aquilo, pré-compra isto para seres mais feliz. A onda dos “prés” parece que veio para ficar. Pré-venda, pré-descarregamento, pré-registo… Parece que na azáfama do dia-a-dia o pessoal se torna cada vez mais desesperado por garantir que o jogo entre na sua consola e toca de dar um passo para isso nem que seja pequenino e se fique mais pobre. Não há justificação para esta febre que coloca toda a gente que adere num estado de ansiedade tal que MESMO ASSIM à meia-noite do dia do lançamento estão nas portas da lojas ou agarrados ao PC para garantir o jogo ou o conteúdo. É uma espécie de injecção de demência aos que já são dementes.
Não querendo ser desmancha prazeres, mas as pré-vendas chateiam um bocado. Não é porque o pessoal ávido de jogos queira assegurar a sua cópia do jogo. Nem é porque as lojas agora até fazem um desconto simpático a quem pré-encomenda, é mesmo pela injustiça na distribuição de determinadas edições e items que deveriam ser limitadas mas que se pode levantar uma semana depois do lançamento com uma mera reserva, ou ainda a escolha do que é ou não é “pré-encomendável”. Ficámos surpresos porque a FNAC, por exemplo, não achou que Elder Scrolls V: Skyrim merecesse pré-encomenda. O critério é, logicamente, as vendas e a sponsorship das distribuidoras, mas quem paga é sempre o gamer. Porque se não o fizer, aquela edição especial cheia de goodies… desaparece nas pré-encomendas…
Na onda dos “prés” também há os pré-descarregamentos… Mas estes chateiam menos. As pré-vendas já cá andam há uns tempos, os pré-descarregamentos chegaram há pouco a serviços como o Steam em que podemos pré-descarregar o jogo inteiro para o disco-rígido mas só o podemos activar à meia-noite no dia de lançamento. Se calhar esta característica justifica-se porque é um conteúdo digital e, de facto, o pessoal quer é jogar e não ficar 2 horas à espera de descarregar 15 Gb de jogo e mais meia hora a instalá-lo.
Depois há os pré-registos. Aí é que a febre assume níveis de loucura sem precedentes. Pré-registos? Porquê? Tem medo que por exemplo o Call of Duty Premium fique esgotado e têm de pré-registar na PSN Store? Não faz sentido. Os pré-registos roçam o ridículo porque a pessoa paga por uma coisa que no próprio dia vai estar disponível digitalmente para todos. Não há qualquer perda por não efectuar o pré-registo.
Como já dissemos, qualquer vertente dos “prés” prende-se com a vantagem comercial. Tanto as editoras como as distribuidoras de conteúdos físicos ou digitais beneficiam muito mais de ter o valor do produto já em caixa dias, semanas ou meses do lançamento do produto. Além de poderem perceber as quantidades que terão de encomendar sem risco de manter stock inerte, também já tem uma injecção significativa de capital mesmo antes do produto estar no mercado. Genial, não?
Por outro lado, o gamer é inundado de pressões diversas para obter o jogo. Qualquer um dos “prés” obriga o jogador a refazer planos. Se por um lado o conteúdo digital não esgota, os amigos já fizeram o pré-descarregamento e vão jogar à meia-noite no dia de lançamento enquanto que o jovem só depois de comprar, descarregar e instalar. A escolha parece óbvia. Os pré-registos garantem um serviço que estará disponível para todos, mas por qualquer motivo o jogador fica com a ideia de “prestígio” por já garantir a sua compra mesmo antes de saber se o produto vai ser bom ou não. Porque é fã, porque veste a camisola. E aquela edição especial cheia de extras, se o jogador não se apressar em ir à loja pré-encomendar, de certeza que quando lá for naquele dia depois do trabalho ou da escola, já voou para os outros que pré-encomendaram ou, no caso das lojas com menos stock, até já esgotou.
Recordo-me de um caso flagrante com um amigo meu e outro que se passou comigo por causa destas “pré-coisas”.
O meu amigo decidiu comprar a edição limitada de Battlefield 3. No dia do lançamento (reparem que não foi depois, foi no próprio dia) dirigiu-se calmamente à FNAC e reparou que só haviam edições regulares na estante. Pediu informações e foi-lhe dito que a edição limitada só estaria disponível para pré-encomendas. Ora, na caixa das reservas ou pré-vendas, não há lá distinção se é a edição limitada ou regular. O nosso amigo reclamou da situação e depois de muito protestar, disseram-lhe que deixasse passar uns dias e lá voltasse porque depois de satisfazerem as pré-encomendas iriam colocar as edições limitadas nas estantes. Até porque o número de pré-encomendas ficava aquém da quantidade de edições limitadas que tinham recebido, mas a loja recusava vender directamente até todos os clientes que pré-encomendaram terem reclamado o jogo. Ridículo. Privaram o meu amigo de adquirir a edição que queria que acabou por comprar noutro lado.
No meu caso foi diferente. No meu caso pré-encomendei a edição especial de Fallout New Vegas. No dia do lançamento liguei para a loja em questão e confirmei se podia ir levantar o jogo. Perguntaram-me se tinha pré-encomendado e ao confirmar disseram-me que tinham cópias separadas para levantar. Ao chegar à loja em questão (que me recuso a dar publicidade, já vão ver porquê), mostro o papel do pagamento do sinal e preparo-me para receber… uma edição regular… Indignado pergunto ao jovem da caixa se era piada, já que tinha explicitamente solicitado uma edição de coleccionador. O jovem com a lição estudada (certamente com um briefing explícito da chefia sobre como lixar com “F” o pré-encomendante) tentou explicar que vieram poucas edições especiais e que já tinham sido todas levantadas. O mais ridículo é que eu tinha PRÉ-ENCOMENDADO o jogo e bastava contarem as pessoas que o tinham feito e encomendado o número igual ou mesmo a mais. Mas não. A excelsa personagem que seria o chefe ainda foi mais longe por dizer-me que não iria reembolsar o valor do pré-registo. Bastou-me algum poder de persuasão e as letras DECO e ASAE ditas como palavras e as coisas amenizaram. Resultado da estória, para abreviar, fiz uns 5 quilómetros para outro local e comprei o jogo da estante noutra loja sem me chatear com pré-encomendas.
A moral das duas estórias é que as pré-vendas tem um factor psicológico forte mas não fazem sentido. O jogo em si estará em grandes quantidades nas estantes, não se preocupem. As edições especiais podem ser em menor número mas não temos em Portugal grande poder de compra para esgotar edições de 150 Euros ou mais. O caso mais flagrante são as Signature Edition de Gran Turismo 5 ou a Nano Edition de Crysis 2 ainda hoje à venda em muitas lojas… ao mesmo preço, diga-se.
Mesmo os pré-registos e os pré-descarregamentos acentuam um grau de demência, ansiedade e antecipação que desespera este grupo já segregado dos gamers. Não é saudável e cria ainda mais dificuldades económicas com contas difíceis de fazer, sobretudo em meses como estes últimos cheios de lançamentos de grandes jogos. Fica a dica que certas editoras até já escolhem não criar edições limitadas dos seus jogos mas apenas lançar DLC pontual.
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