Funcionários da Ubisoft Paris vão fazer greve pelas palavras de Yves Guillemot

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Conforme demos conta, o CEO da Ubisoft Yves Guillemot enviou uma mensagem aos funcionários, deixando “nas suas mãos” o futuro da empresa, pedido o empenho necessário para os projectos.

Como seria de esperar, a mensagem que parece descartar culpas para cima dos funcionários, não caiu bem entre eles. Dizer que a empresa atravessa um período difícil, prevendo cortes de milhões, quando se tem um ordenado chorudo é, no mínimo, irónico, dando a entender que o CEO é, na verdade, imune aos eventos que assolam a empresa.

O tom da mensagem é, para todos os efeitos, ameaçador. Dizer que se espera que os funcionários “cumpram datas e entreguem qualidade” na mesma mensagem, parece indicar que, ou acatam o que é dito (leia-se “exigido”) ou o “apertar do cinto” acontecerá. E todos sabemos que os cintos apertam na “cintura”, nunca na “cabeça”.

Dia 27 Janeiro 2023 na Ubisoft Paris, parece que só os Rabbids foram trabalhar, um deles com “burnout”.

Ora, os Franceses são conhecidos por muitas coisas, uma delas é a sua aptidão para greves e protestos. O sindicato Solidaires Informatique marcou uma greve para os funcionários da Ubisoft na sede em Paris para o dia 27 de Janeiro, depois do meio-dia. Sim, num período difícil, deixar de trabalhar, nem que seja por meio dia, é um duro golpe. Mas, são assim as greves, visam prejudicar como arma de pressão. Pelo menos aqui não há estradas cortadas ou escolas fechadas para os demais cidadãos.

O sindicato afirma que a mensagem do CEO foi “catastrófica”, dizendo que Guillemot “por várias vezes” tenta lançar as culpas nos funcionários, dando a entender que a sua mensagem significará “serões, pressão, burnout, etc.”, tudo isto “sem compensação”. Por outro lado, o sindicato acusa o CEO de planear “reduções de pessoal, fecho discreto de estúdios, cortes salariais e despedimentos disfarçados” e ainda de falta de aumentos salariais face à inflação e a falta de protecção para equipas “exaustas” nos projectos.

Como reivindicações, o sindicato exige um aumento imediato de 10% nos salários dos trabalhadores, dinheiro que pode vir do recente investimento da Tencent, a melhoria das condições laborais, com a implementação de quatro dias semanais de trabalho, transparência na evolução da força laboral, local e mundial e um compromisso contra “demissões disfarçadas” e contra a pressão para despedimentos por políticas abusivas de gestão. Tudo pode ser lido no manifesto publicado online (em Francês e Inglês):

Este aviso de greve parece apenas afectar a sede em Paris, uma vez que o sindicato é Francês e não parece ter representação internacional. Ainda assim, é possível que as demais filiais espalhadas à volta do mundo se juntem em protesto, até porque a causa será comum a todos os funcionários. Este é também o mesmo sindicato que lançou um processo em tribunal contra a Ubi por alegado “assédio sexual institucional” e criticou veementemente o investimento (falhado) em NFTs.

Agora, como diria Yves Guillemot, “a bola está no campo” da própria direcção da Ubisoft. A força e efectividade das greves é sempre discutível. Para a Ubi, a perda de uma tarde de trabalho numa (ou mais) das suas divisões é um assunto sério, sem dúvida. Por outro lado, como dissemos, o “cinto” aperta sempre no mesmo sítio. Se, por causa destes protestos, houver repercussões, os prejudicados poderão ser mesmo os funcionários. Mas, se nada for feito, o que é que realmente muda em décadas de “hegemonia” da família Guillemot?

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