Funcionários da Ubisoft Paris vão fazer greve pelas palavras de Yves Guillemot
Conforme demos conta, o CEO da Ubisoft Yves Guillemot enviou uma mensagem aos funcionários, deixando “nas suas mãos” o futuro da empresa, pedido o empenho necessário para os projectos.
Como seria de esperar, a mensagem que parece descartar culpas para cima dos funcionários, não caiu bem entre eles. Dizer que a empresa atravessa um período difícil, prevendo cortes de milhões, quando se tem um ordenado chorudo é, no mínimo, irónico, dando a entender que o CEO é, na verdade, imune aos eventos que assolam a empresa.
O tom da mensagem é, para todos os efeitos, ameaçador. Dizer que se espera que os funcionários “cumpram datas e entreguem qualidade” na mesma mensagem, parece indicar que, ou acatam o que é dito (leia-se “exigido”) ou o “apertar do cinto” acontecerá. E todos sabemos que os cintos apertam na “cintura”, nunca na “cabeça”.
Ora, os Franceses são conhecidos por muitas coisas, uma delas é a sua aptidão para greves e protestos. O sindicato Solidaires Informatique marcou uma greve para os funcionários da Ubisoft na sede em Paris para o dia 27 de Janeiro, depois do meio-dia. Sim, num período difícil, deixar de trabalhar, nem que seja por meio dia, é um duro golpe. Mas, são assim as greves, visam prejudicar como arma de pressão. Pelo menos aqui não há estradas cortadas ou escolas fechadas para os demais cidadãos.
O sindicato afirma que a mensagem do CEO foi “catastrófica”, dizendo que Guillemot “por várias vezes” tenta lançar as culpas nos funcionários, dando a entender que a sua mensagem significará “serões, pressão, burnout, etc.”, tudo isto “sem compensação”. Por outro lado, o sindicato acusa o CEO de planear “reduções de pessoal, fecho discreto de estúdios, cortes salariais e despedimentos disfarçados” e ainda de falta de aumentos salariais face à inflação e a falta de protecção para equipas “exaustas” nos projectos.
Como reivindicações, o sindicato exige um aumento imediato de 10% nos salários dos trabalhadores, dinheiro que pode vir do recente investimento da Tencent, a melhoria das condições laborais, com a implementação de quatro dias semanais de trabalho, transparência na evolução da força laboral, local e mundial e um compromisso contra “demissões disfarçadas” e contra a pressão para despedimentos por políticas abusivas de gestão. Tudo pode ser lido no manifesto publicado online (em Francês e Inglês):
Este aviso de greve parece apenas afectar a sede em Paris, uma vez que o sindicato é Francês e não parece ter representação internacional. Ainda assim, é possível que as demais filiais espalhadas à volta do mundo se juntem em protesto, até porque a causa será comum a todos os funcionários. Este é também o mesmo sindicato que lançou um processo em tribunal contra a Ubi por alegado “assédio sexual institucional” e criticou veementemente o investimento (falhado) em NFTs.
Agora, como diria Yves Guillemot, “a bola está no campo” da própria direcção da Ubisoft. A força e efectividade das greves é sempre discutível. Para a Ubi, a perda de uma tarde de trabalho numa (ou mais) das suas divisões é um assunto sério, sem dúvida. Por outro lado, como dissemos, o “cinto” aperta sempre no mesmo sítio. Se, por causa destes protestos, houver repercussões, os prejudicados poderão ser mesmo os funcionários. Mas, se nada for feito, o que é que realmente muda em décadas de “hegemonia” da família Guillemot?
Comentários