Organização da E3 2020 pretende pagar aos média por conteúdo
A Electronic Entertainment Expo do próximo ano ainda está longe, mas já está a causar polémica. Tudo por causa de uma nota interna de um plano criado para a E3 2020. Plano esse que contém uma intenção de manipular opiniões dos média a seu favor.
Numa era em que a isenção jornalística é posta em causa por “tendências e modas”, saber que há empresas dispostas a comprar opiniões é só mais uma “acha para a fogueira”. Desde há várias edições que a E3 tem vindo a decair no interesse desta indústria, com empresas como a Electronic Arts, Sony PlayStation e Activision a simplesmente negarem presença e outras a diminuir gradualmente a sua presença. Por isso, era de esperar uma reacção em tempo útil para evitar o descalabro de um evento que gera milhões todos os anos.
Sites independentes, como o nosso e tantos outros, orgulham-se de partilhar informação de forma livre e isenta, nunca condicionados na opinião por empresas ou organizações. Por isso, é com enorme perplexidade que ficamos a saber que a Entertainment Software Association (ESA), a associação gestora do evento, apresentou recentemente um plano, digamos, “arrojado” que passaria pelo pagamento a plataformas de média e influencers com o objectivo de controlar o que é dito.
Não podia ser mais claro que a ESA quer pagar a grandes sites e canais da indústria, com o objectivo de condicionar a informação que veiculam. Segundo informação privilegiada a que o site GameDaily.biz teve acesso, a ESA partilhou entre os seus membros uma lista de intenções de criar “Parcerias Pagas com os Média”, que inclui também parcerias pagas com celebridades e equipas de desporto. A ESA dá o exemplo de como o “conceito” foi válido na última edição, por ter comprado a parceria com um programa da CNBC, como ficou dona do conteúdo e como o conseguiu distribuir nacionalmente.
Segundo a própria apresentação da ESA, isto não é apenas uma manobra de publicidade para “aumentar o alcance da E3 e dos seus parceiros”. É também uma oportunidade da ESA “controlar o conteúdo e a mensagem” do evento. A forma como a organização “controla” essa opinião é que é a componente “perigosa” deste plano. “Embelezar” as reportagens do evento não é a única possibilidade, podemos mesmo especular que algo assim envolva omissões de factos negativos ou destaques a produtos mais “comerciais”, numa óbvia falta de isenção na cobertura.
Ao que parece, tudo não passou de uma proposta levantada internamente, que os membros da ESA terão alegadamente rejeitado. E é óbvio que, mesmo que não seja algo tão descarado, já deve ter sido pelo menos estudada a possibilidade deste tipo de manipulação várias vezes. As opiniões geradas em sites destes meios são as que fazem mover as multidões diariamente. E estes eventos anuais só têm a ganhar com a ivulgação de conteúdo nestes sites e canais. Agora, imaginem que os meios são pagos para falar apenas bem do evento e das empresas envolvidas…
Esta atitude da ESA, parece um acto de desespero para trazer mais visibilidade a um evento em declínio. Inicialmente aberto apenas a profissionais da indústria do entretenimento, a E3 “descobriu a pólvora” por abrir o evento ao público em geral. No próximo ano serão vendidos mais 10000 bilhetes ao público, numa clara tentativa de aumentar receitas. Contudo, com os seus 66000 visitantes em 2019, parece-nos longe dos 373000 visitantes da Gamescom deste ano. E se as empresas apostam cada vez menos neste certame, não é com notícias destas que a E3 vai melhorar a sua visibilidade.
Aqui no WASD, já tivemos inúmeras parcerias com eventos ou empresas, mas nunca nos permitimos ser aliciados, muito menos financeiramente, para mudar ou formular opiniões. Estamos cá desde 2010 com esta premissa e nunca iremos compactuar com “subornos” ou “incentivos” como a ESA propôs fazer. A nossa isenção nunca foi posta em causa e orgulhamo-nos disso mesmo, doa a quem doer.
No dia em que sites ou canais deste meio deixem de pensar de forma livre, talvez induzindo o público em erro, acabando o jornalismo dos videojogos como o conhecemos, cá estaremos a fazer resistência. Não se preocupem.
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