Simuladores – DCS: CH-47F Chinook

DCSCH47 (27)

A Eagle Dynamics está de volta à produção de aeronaves, novamente um helicóptero. Desta feita, não é uma aeronave de combate, o DCS: CH-47F Chinook é uma nova era na aviação táctica com uma nova vertente logística.

Já era possível efectuar carga suspensa no DCS World. Contudo foi sempre algo cosmético, apenas para nos desafiar para uma das operações mais perigosas com helicópteros. Fazer reais operações de transporte e logística era, até agora, impossível, a não ser que se usassem mods ou scripts criados pela comunidade. Com este novo helicóptero, porém, a ED criou uma nova estrutura de transporte que permite, não só transporte de carga suspensa, como levar mesmo carga a bordo, realmente levando equipamento útil e que pode ser usado para adicionar ou remover armamento, equipamento ou outro tipo de logística de bases, postos avançados (FARP) ou até de navios. Ainda estamos numa fase inicial desta nova era, mas o Chinook é a primeira aeronave a explorar esta nova funcionalidade.

O CH-47 tem talvez um dos designs mais peculiares das aeronaves de asa rotativa. Possui dois rotores montados em linha, interligados por meio de eixos interiores, alimentados por dois motores turbo-fan montados em pilares exteriores. É uma aeronave enorme, capaz de carregar inteiros veículos no seu interior, rivalizando com alguns aviões de transporte e logística. O CH-47 já operou em várias guerras, sendo amplamente alterado e melhorado ao longo dos anos, mas basicamente mantendo o seu aspecto único. Certamente já o viram (ou ouviram) em muitos palcos operacionais e até em bastantes filmes. Além de icónico, é um autêntico “cavalo de batalha” de vários exércitos e forças aéreas por todo o mundo.

Inicialmente desenvolvido pela Vertol, mais tarde uma empresa Boeing, foi concebido para substituir o velhinho (e horrível) Sikorsky CH-37 na missão de helicóptero pesado de assalto para o Exército dos EUA (US Army). Contudo, os analistas do US Army rejeitaram o protótipo inicial YHC-1A por curiosamente ser demasiado pesado para esse papel e demasiado leve para missões de transporte. Esse protótipo acabou por ganhar vida na mesa, por se tornar o igualmente famoso CH-46 Sea Knight, “primo” facilmente reconhecível do Chinook. Eventualmente, o segundo protótipo YHC-1B acabou por preencher as necessidades do US Army, convertendo-se no CH-47 Chinook e estreando-se ao serviço em 1962.

O “Hook” como também é carinhosamente chamado pelas suas tripulações, começou por voar em palcos importantes de guerra, como no Vietnam, inicialmente como simples versão cargueira CH-47A. Contudo, chega aos tempos modernos a participar também em vários tipos de missão, tendo sido particularmente usado nas guerras do Iraque ou do Afeganistão. Ao longo destes anos foi recebendo armas, como um par metralhadoras pesadas, uma cada porta lateral, além de uma outra montada na zona da rampa. Há até Chinooks com lançadores de foguetes e até canhões.

A sua incrível versatilidade, apesar do seu tamanho considerável, cedo levou o helicóptero a outros papéis muito além do simples cargueiro, envolvendo inserção e evacuação de tropas, suporte próximo ou até busca e salvamento. A versão MH-47G até é talhada para Operações Especiais, com a lendária esquadra 160th “Night Stalkers” aos comandos, os tais que serviram de suporte para a infame operação “Neptune Spear”, que é, ainda hoje, uma das operações clandestinas mais icónicas das forças especiais norte-americanas.

Também várias forças militares internacionais adoptaram o Chinook, desenvolvendo as suas próprias versões especializadas, entre elas a Austrália, Itália, Reino Unido, Japão, entre várias outras. Até mesmo versões civis foram adaptadas ao transporte de passageiros e carga, tendo a Vertol por uns tempos tentado criar um conceito de uso do helicóptero civil para rotas curtas, em substituição de aviões de voo regional.

Quem sabe a versão mais famosa deste helicóptero é mesmo esta que a Eagle Dynamics escolheu, o CH-47F. Este foi o upgrade mais significativo jamais feito à plataforma, aumentando a capacidade de carga (10 toneladas), introduzindo diversos automatismos e dando um importante cockpit digital ao Helicóptero. Tem também um importante upgrade aos motores Honeywell, dando-lhes mais potência e velocidade (acima dos 175 nós ou 280kmph). Além disto, acrescentou um novo sistema de controlos de voo digital (DAFCS) para uma importante melhoria na estabilidade protecção de envelope. Este upgrade foi introduzido em 2001, é o actual padrão mínimo de operação (com upgrades desde então) e está agora implementado no DCS World.

Mais tarde, em 2020 a Boeing introduziu o upgrade Block 2, aumentando novamente a potência e capacidade de carga, alterando novamente vários componentes a pensar no peso, robustez e efectividade, inclusive um novo sistema de rotor mais eficaz. Em 2025, a Boeing ainda espera introduzir um novo Block 3 com ainda mais melhorias e a tentar extender a vida útil deste helicóptero icónico, esperando-se continuar a voar até 2060, cerca de 100 anos depois do seu voo inaugural. Um feito, especialmente agora que o US Army está a estudar outras soluções no programa Future Vertical Lift ainda sem grandes decisões tomadas.

Como sempre acontece no desenvolvimento destes módulos tão complexos, a ED lançou este aparelho em acesso antecipado, o que significa que algumas funcionalidades e elementos ainda estão em desenvolvimento. Numa primeira fase, para dizer a verdade, quase tudo está incompleto ou a precisar de upgrades futuros. Até mesmo o modelo exterior e interior, apesar de francamente deslumbrante, precisa de mais adições e ajustes, de modo a se tornar uma réplica fiel do real CH-47F. Olhando para as imagens, porém, ninguém diria que está assim tão incompleto, num trabalho exímio de atenção ao detalhe que impressiona pela positiva. Mas, ao fim de umas horas, começarão a notar que há muita coisa omitida ou parcialmente modelada.

Notem, porém, que a ED já tinha delineado o que seria e, mais importante, o que não seria incluído nesta versão de Acesso Antecipado. O cockpit digital seria apenas parcialmente funcional nos sistemas essenciais mas muitas páginas dos MFD e dos CDU estariam incompletas ou omitidas. O mesmo acontece com os demais aviónicos, com uma importante omissão de rádios VHF/UHF e com os procedimentos gerais que, por exemplo, ainda não contemplam avarias. Também há funcionalidades básicas por limar, como o HUD nos óculos de visão nocturna, a interacção e sincronismo multi-crew ou o cálculo mais preciso de centragem da carga.

Com isto dito, parece que o DCS: CH-47F é um “esqueleto” do helicóptero pretendido. Todavia, essa é uma avaliação um tanto drástica para quem apenas lê listas de equipamento. O sentimento geral dos que já o experimentam, porém, é bem diferente. Apesar do sistema de protecção de envelope DAFCS não estar completamente modelado, é já possível experimentar um modelo de voo extremamente eficiente e estável. Apesar dos CDUs não estarem inteiramente funcionais, o essencial está modelado e disponível para operação regular. No fundo, o que faltam são os detalhes. Agora é preciso aprofundar esta que é uma base bastante sólida de um helicóptero muito robusto e interessante de descobrir.

Ainda neste acesso antecipado, a ED espera adicionar o importante controlo digital das superfícies de voo, um piloto automático completo, carga suspensa multi-ponto, tanques adicionais de combustível (ERFS) e muito mais para completar as funcionalidades e características deste helicóptero tão peculiar. É que, apesar de não ter um radar ou algum sistema de armas mais complexo, esta é, mesmo assim, uma simulação profunda de um aparelho incrivelmente complicado. Não basta fazer deste heli um “contentor com duas ventoinhas”, há muito em jogo, em especial porque este helicóptero marca uma nova era de logística no DCS World, a pensar na célebre Campanha Dinâmica, em que a ED está a trabalhar há alguns anos.

Falando nessa logística, penso que essa é mesmo a principal adição deste helicóptero ao DCS World. A ED concebeu uma funcionalidade para ser algo global mas, para já, está confinada ao Chinook. Permite alocar carga directamente dos armazéns de cada aeródromo, posto avançado ou navio e transportando-a para outro local, efectivamente adicionando ou subtraindo itens. Isto abre todo um novo mundo de operações tácticas de logística. Infelizmente, ainda é só possível transportar armas e equipamento relacionado com as aeronaves do DCS mas, no futuro, a ED promete adicionar o transporte de tropas e veículos (no interior e na carga suspensa) à equação, o que será ainda mais relevante neste tipo de actividade.

É muito fácil operar a carga com o Chinook. Em termos de logística de armazéns, há um novo menu para carregar e descarregar carga no menu de Armamento/Reabastecimento, bastando que activemos esse equipamento dinâmico no Editor de Missões. Podemos também alocar carga inerte como peças de cenário mas que não participa na logística de equipamento em bases. Em ambos os casos, há tipos de contentores diferentes para carregar no interior da cabine ou, caso exceda as dimensões, como carga suspensa no gancho central. Aqui usamos o já conhecido e prático gráfico visual, ouvindo o loadmaster a dar orientações. Futuramente, poderão carregar até três pontos de carga suspensa nos ganchos mas… boa sorte nisso.

Obviamente, o voo neste aparelho não se assemelha a nada que tenham já voado no DCS World. Pensem no Chinook como um “autocarro” enorme, com muito peso para deslocar. Taxiar é um processo lento, recorrendo às suas minúsculas rodas traseiras para obter direcção. Todavia, uma vez no ar, o “Hook” ganha outra vida. Além de realmente estável e bastante manobrável (tendo em conta as suas dimensões), é também bastante rápido, atingindo facilmente os 150 nós em cruzeiro (dependendo do peso, até ultrapassa os 170 nós). Claro que há uma enorme inércia para combater, sendo muito dependente do compensador (trim) mas nada que não se habituem rapidamente.

Infelizmente, como já dissemos, o actual sistema de trim de posição do cíclico é um tanto incerto, exigindo alguma paciência para encontrar o ponto ideal, pelo que dinamicamente pode, por vezes, parecer lento a reagir ou, por outro lado, demasiado tolerante aos erros. Mas, não se admirem, pilotos reais confirmam que o “Hook” é mesmo um helicóptero fácil de voar. É só preciso ter atenção aos rácios de descida para não entrar em VRS (Vortex Ring State, uma espécie de perda ou stall dinâmico dos rotores) e à forma como a carga é carregada, podendo afectar o centro de gravidade. Em especial com a carga suspensa, que pode exigir uma certa dose adicional de compensação em voltas ou em alterações de velocidade.

Claro que a pergunta que todos os amantes dos simuladores de combate fazem é se vale a pena comprar um helicóptero praticamente de transporte para o DCS World. Sim, temos duas metralhadoras laterais mas não esperem ganhar guerras com isso. Este é um helicóptero com um papel muito diferente, mais passivo, de retaguarda e a precisar de (muito) suporte próximo. Se olharmos para o DCS: Mi-8MTV2 ou o DCS: UH-1H, estes possuem mais “unhas” para defender e atacar, mesmo não sendo helicópteros de ataque. O Chinook vai sempre precisar de “amigos” para abrir caminho e limpar a área.

Mas, não é isso que se pede num simulador tão vasto, tão complexo e tão levado para o ambiente multi-jogador? Que hajam outros papéis além do vulgar “tiro neles”, que hajam mais missões que apenas bombardeio e destruição? Obviamente, isto é proporcional às missões e campanhas que agora surjam depois deste módulo ser lançado. É preciso que, offline ou online, surjam tarefas de logística para fornecer frentes de combate ou bases e até (futuramente) de inserção de tropas ou de meios para linhas de combate. Imaginem a tal campanha dinâmica em que é preciso constantemente entregar munições ou equipamento para defender uma base debaixo de ataque. O futuro do DCS promete.

Veredicto

A Eagle Dynamics mostra que está em plena forma com o DCS: CH-47F Chinook, mais um modelo visualmente deslumbrante e talhando para ser mais uma importante e credível simulação a todos os níveis. Nesta fase, como previsto, está ainda desprovido de alguns sistemas e elementos de simulação mas não é nada que vos impeça, desde já, de voar e disfrutar de um modelo de voo estável, de uma simulação de carga e logística funcional e ainda de uma sonoridade e efeitos visuais de arregalar o olho. Mais que apenas chegar para ser “mais um no hangar”, porém, é um importante alicerce para o futuro do DCS World, sendo o primeiro aparelho inteiramente dedicado a transporte e logística. No futuro, outras aeronaves o acompanharão mas, lembrem-se, tudo começou com o “Hook”.

Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela Eagle Dynamics. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento.

Se desejarem conhecer a comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.

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