Simuladores – DCS F-15E
Tido como uma das aeronaves mais esperadas do DCS World, o “Mud Hen” tem sido muito desejado pela comunidade. Finalmente, a Razbam Simulations entregou o DCS: F-15E, embora ainda um pouco aquém.
Como sempre acontece, um novo módulo para o DCS é lançado no acesso antecipado num formato incompleto. Não só os sistemas precisam de imenso trabalho de profundidade e polimento, como o feedback dos utilizadores contribui para um aprimorar da plataforma. Contudo, isto não poderia ser mais evidente neste módulo da Razbam. É que o F-15E é um avião icónico do arsenal NATO (e não só) e tem características polivalentes que o tornam temível. No DCS, porém, muito do que este avião é capaz ficou, por agora, por implementar. O que já temos é impressionante, sem dúvida, mas o potencial ainda está por atingir.
O McDonnell Douglas F-15 Eagle dispensa apresentações. É uma das aeronaves mais icónicas da aviação militar de combate, equipando várias forças aéreas ao longo dos anos, com destaque óbvio da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Desde que entrou ao serviço em 1976, inicialmente como pura aeronave de perfil ar-ar com intenção de dominar o espaço aéreo (Air Superiority), mostrou-se imbatível e inigualável em todos os palcos onde participou. Conta até hoje com mais de 100 vitórias aéreas e nenhuma perda em combate, registo maioritariamente enriquecido pela Força Aérea Israelita.
Após ter demonstrado sólido potencial para ataques ar-chão, porém, ficou claro que o Eagle poderia substituir o F-111 com uma plataforma derivada para esse papel. Em 1988 o F-15E Strike Eagle foi apresentado ao mundo, trazendo consigo várias inovações, incluindo uma configuração bi-lugar, tanques adicionais de combustível e até uma pintura nova. Obviamente, o interior também foi renovado para incorporar um sistema de controlo e operação duplos, assim como várias alterações de lógicas orientadas para o emprego de armas ar-chão.
Em 1997 a Boeing tomou conta do importante legado do F-15A e F-15C, continuando a sua produção e até uma nova evolução que está a entrar ao serviço, o Boeing F-15EX. Continua a ser “a” aeronave mais temível nos céus, sobrevivendo até a uma possível substituição pelo F-22 Raptor que nunca chegou a acontecer. No seu papel de avião polivalente, porém, o F-15E Strike Eagle propriamente dito, não terá real substituição, já que o EX foi projectado para lentamente substituir os F-15C mais idosos nos arsenais mundiais. Por conseguinte, até surgir outra plataforma de igual capacidade ou superior no papel polivalente, o Strike Eagle manter-se-á.
Apesar de já haverem aeronaves com capacidades únicas e mais eficazes em alguns papéis mais específicos, como o F-16 Viper ou o mais recente F-35 Lightening, as forças aéreas que operam o Strike Eagle preferem efectuar upgrades à frota. Esses upgrades, ou Suites, actualizam software e sistemas para receber várias melhorias e novas funcionalidades. O modelo escolhido para o DCS neste acesso antecipado é o F-15E Suite 4E+, software equipado nos F-15E no ano de 2003. Este modelo inclui os motores P&W F100-FW-229, o radar AN/APG-70, o sistema LANTIRN de apontador laser e FLIR, além de armamento ar-ar e ar-chão básico (bombas “free fall” e guiadas a laser).
Por isso, estão a faltar bombas inteligentes (JDAM ou JSOW), estão a faltar AGM-65 Mavericks e várias outras armas que estão prometidas para mais tarde. A nível de sistemas, está a faltar o Datalink (Link16 ou JTIDS nesta aeronave), várias páginas de lógicas nos MFDs, o SNIPER pod, a mira de capacete (HMCS) e várias outros itens que, não sendo verdadeiramente importantes, completarão tudo o que esta plataforma trará ao DCS World. Dado o tempo que esta aeronave esteve em produção antes de chegar ao público, é uma incógnita quando estas armas e sistemas chegarão.
Obviamente, ninguém é obrigado a adquirir um novo módulo neste acesso antecipado via Open Beta. Podemos muito bem esperar por um estado mais completo. Contudo, olhando para os três outros módulos da Razbam já lançados (Mirage 2000C, AV-8B Harrier N/A e Mig-19P), o percurso para fazer chegar estas aeronaves a um estado mais completo pode demorar anos. Por outro lado, a própria Razbam garantiu que o Strike Eagle seria diferente, mais aprimorado também com o auxílio de pilotos reais, num trabalho de produção que demorou largos meses até agora.
Embora saiba que este é um acesso antecipado, embora seja esperado que não tenhamos tudo disponível e ainda tenhamos de lidar com bugs e alguns erros, com tanto tempo “no forno”, esperava mais. De certa forma, é desapontante sair, por exemplo, do cockpit do DCS: F-16C com tantas “ferramentas” para executar missões, para entrar no Strike Eagle e estar confinado a um punhado de armas menos complicadas. Senti imensa falta da integração do Link 16 para partilha de alvos, do HMCS para melhor captar alvos ou das JDAM para maior precisão.
A missão, faz-se na mesma, notem, apenas dá um papel limitado ao F-15E no panorama actual do DCS. Podemos alegar que é uma óptima oportunidade para nos iniciarmos na sua operação básica, no voo em si, nas armas mais básicas, nos modos de radar, no HUD, etc. Contudo, O F-15E é um avião mais complexo que isso e que pode já intimidar os menos pacientes na carga de trabalho associada. Se ainda há mais no futuro para aprender (e reaprender), é preciso pensar a longo prazo, algo que devem ter em conta antes de comprar este módulo.
O principal destaque nesta aeronave, obviamente, é o facto de dois pilotos poderem voar na mesma aeronave (desde que ambos a tenham adquirido, claro). Contudo, não esperem uma integração muito relevante nesta funcionalidade. Em primeiro lugar, apenas três painéis são exclusivos do assento traseiro (Weapons Systems Officer), tudo o resto é possível de fazer no assento da frente. Talvez por isso, nesta fase a Razbam não tenha tido a preocupação de criar uma inteligência artificial como temos, por exemplo, no DCS: F-14A/B da Heatblur Simulations.
Em segundo lugar, o avião apresenta uma série de problemas de sincronismo nesta Open Beta, erros menores mas que criam alguns problemas de lógica ao fim de um tempo. Mas, talvez o pormenor mais importante, é que o WSO não tem um papel muito entusiasmante. A sua função é mais de “operador de sistemas”, inserindo dados e encontrando alvos. A parte mais “excitante” acontece à frente. Assim sendo, prevemos que poucas pessoas queiram, de facto servir de WSO. Nos demais módulos com multi-crew, os papéis dos co-pilotos são francamente bem mais importantes e necessários.
Aos comandos do DCS: F-15E, sentimos que estamos a controlar muito poder. No ar-ar, estamos perante uma poderosa plataforma de combate, herdada do já mencionado F-15C, usando um radar potente para lançar AIM-120 AMRAAM a distâncias praticamente impossíveis noutras plataformas. Não só podemos alcançar velocidades elevadas em elevadas altitudes, aumentando a possível cobertura, o alcance do radar é assinalável, captando alvos nas imediações de 50 milhas, lançando o míssil pouco depois. É, de facto um avião de superioridade aérea.
Claro que nem tudo é perfeito. Não esperem o mesmo nível de “qualidade” na cobertura de radar que temos nos demais módulos, de certa forma algo optimista demais. De há alguns meses para cá, a Razbam tem vindo a mencionar que está a apostar no realismo, o que faz com que o radar falhe, tenha posicionamentos incorrectos ou que fique mais sensível a manobras de evasão. O que fará com que, muitas vezes, percam o contacto com os alvos em circunstâncias que, normalmente, noutros aviões não acontecia. Enfim, é uma cedência a bem do realismo mas, fica a dica.
Contudo, não falhem à distância. Embora este avião não esteja desenhado para combate próximo no ar-ar, tem também mísseis Sidewinder e canhões para o efeito. Apenas não esperem ganhar muitos combates “dogfight”, já que este não é, caramente, um avião apropriado para “as curvas”. Chega lá muito rápido e muito alto, já está a disparar enquanto outros ainda “pensam” nisso mas… num “one circle” vão perder algumas batalhas. A grande arma de defesa do Eagle é a prevenção e a potência dos motores.
No papel ar-chão é que podemos mesmo ver o grande potencial desta aeronave, afinal desenhada para tal. A 40000 pés, com 12 bombas a bordo, nada nos toca. Com mais de 38000 libras de combustível também lá estaremos muito tempo e vamos bem mais longe sem reabastecimento (também possível). Esta é uma aeronave brilhante para longas esperas sobre o alvo (loiter), para efectuar longas missões de suporte próximo (CAS), para ataque em longas distâncias (deep strike) ou para simplesmente largar muita coisa no ponto X.
Só tenho mesmo pena que só possa lançar mesmo bombas “burras” e guiadas a laser. A última garante a precisão necessária, as primeiras o poderio da saturação do alvo. Contudo, soa a pouco. Quero mesmo operar aqui as bombas inteligentes, os Mavericks e até as bombas de maior calibre guiadas a laser que estão prometidas, como a prometida GBU-28. Obviamente, nem mesmo os pilotos reais possuem muita variedade de bombas à disposição, sendo alocadas consoante o stock e a necessidade da operação. Contudo, fazem falta para fazer desta uma aeronave relevante.
Isto, porque faltam mais coisas. Já falei da falta do Datalink para uma melhor orientação situacional. Uma vez usando uma mira de capacete (HMCS) numa aeronave, sentimos muito a sua falta. Também o sistema LANTIRN de Targeting Pod é algo arcaico demais, já para não falar de como o NAV Pod também está incompleto, já que falta a muito importante componente de piloto-automático com “terrain following” que está por implementar. Com isto, faltam ainda também diversas páginas nos MFDs, apenas listadas mas sem conteúdo.
Apesar de tantas omissões e faltas, porém, é possível disfrutar muito bem deste avião, nem que seja só mesmo a voá-lo e descobri-lo. Devo dizer que, para além das já mencionadas falhas no sincronismo da tripulação a dois, não há muitos erros ou bugs de assinalar, nenhum que, de facto, prejudique a operação. A Razbam (e a Eagle Dynamics como editora), fizeram o óptimo trabalho de polir o código e aprofundar os elementos básicos para que tenhamos uma excelente base de simulação. Muito falta fazer, repito, mas o que temos funciona bem e é suficientemente desafiante como aeronave de aprendizagem profunda ou “study level”.
Visualmente, o DCS: F-15E também está repleto de pequenos detalhes visuais de arregalar o olho. As asas abanam e vergam com a operação e peso das armas, os lemes verticais vibram com a turbulência, a suspensão do trem é visível, há efeitos de vapor nas asas e fuselagem em ângulos de ataque maiores, as rampas de admissão de ar são móveis, os controlos são dinâmicos, o cockpit está cheio de pequenos pormenores de uso, inclusive dedadas nos MFDs… enfim, tudo emana muita qualidade visual, usando as técnicas mais recentes de modelação, tanto de dia como de noite.
Veredicto
O potencial do DCS: F-15E é enorme. Por agora no seu acesso antecipado, de facto, fica um pouco aquém do desejável comparando com outras plataformas já existentes no DCS World. Contudo, é sempre assim, nenhum módulo é realmente lançado “completo”. Futuramente, o F-15E será um dos melhores aviões polivalentes no simulador. Por agora, é uma plataforma de iniciação, um glorificado avião de combate ar-ar, adaptado para ar-chão e com a opção de voar com um WSO… mas, boa sorte a convidar alguém para ser vosso “secretário”. No futuro, será um excelente módulo. Todavia, sendo da Razbam, demorará a lá chegar. Por isso, moderem as expectativas.
Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela Eagle Dynamics. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento.
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